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Não Seja a Mulher de Acaz: Um Contraste da Mulher Sábia de Provérbios e da Mulher Estulta

Não Seja a Mulher de Acaz: Um Contraste da Mulher Sábia de Provérbios e da Mulher Estulta


A mulher de Acaz, embora mencionada de forma indireta nas Escrituras, serve como um exemplo paradigmático das consequências de uma vida afastada dos princípios divinos, em contraste com a mulher sábia de Provérbios, que encarna a virtude, o temor a Deus e o compromisso com os valores do Reino de Deus. Este estudo propõe examinar as características dessas duas figuras femininas, utilizando o contraste entre as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.


1. A Mulher de Acaz: Falta de Fé e Obstinação


A mulher de Acaz, que historicamente pode ser entendida como a esposa do rei Acaz de Judá, representava um modelo de desobediência e obstinação diante dos planos divinos. O rei Acaz, por sua vez, é descrito na Bíblia como um monarca que rejeitou as orientações do Senhor e se entregou à idolatria, o que levou ao declínio espiritual e moral do seu reino. Em Isaías 7:1-9, vemos a orientação dada pelo profeta Isaías a Acaz, advertindo-o a confiar em Deus, mas ele se recusa a fazer isso, buscando alianças com potências estrangeiras.


A mulher de Acaz, como parte do contexto de decadência espiritual, provavelmente refletia a mesma atitude de incredulidade e pragmatismo, considerando mais as aparências do que a fidelidade a Deus. De acordo com o teólogo Bruce Waltke, a relação entre o rei Acaz e sua corte, incluindo sua esposa, destaca a rejeição da aliança com o Senhor e a busca por soluções humanas em detrimento da confiança divina (Waltke, 1995).


Essa falta de confiança em Deus, refletida na vida de Acaz e sua esposa, encontra um paralelo na mulher estulta de Provérbios, que também é caracterizada pela falta de sabedoria e pelo afastamento dos caminhos do Senhor. O livro de Provérbios, particularmente em 9:13-18, descreve a mulher estulta como uma figura que chama os desprevenidos para a destruição, oferecendo prazer imediato, mas conduzindo à morte.


2. A Mulher Sábia de Provérbios: Virtude, Temor de Deus e Sabedoria Prática


Em contraste com a mulher de Acaz, a mulher sábia de Provérbios é apresentada como aquela que constrói sua casa com sabedoria e entendimento, vivendo conforme os princípios do Senhor. Em Provérbios 31:10-31, encontramos um retrato ideal de mulher, que é virtuosa, diligente e teme a Deus, sendo um exemplo para a sociedade e sua família. Como destaca G. K. Beale, em sua obra The Temple and the Church's Mission (2004), a sabedoria de Deus não é apenas um atributo intelectual, mas envolve uma prática piedosa que resulta em vida e prosperidade para aqueles que a seguem (Beale, 2004).


A mulher sábia de Provérbios se diferencia pela sua capacidade de discernir as prioridades de Deus e agir de acordo com esses princípios, refletindo um caráter que não depende das circunstâncias externas, mas da fidelidade a Deus e ao seu temor. A sabedoria, conforme a perspectiva de Dan Doriani, em The Word Became Flesh (2001), não é uma sabedoria passiva, mas ativa, que influencia todos os aspectos da vida e se traduz em ações práticas e justas (Doriani, 2001).


De acordo com Matthew Henry, ao comentar sobre Provérbios 31, ele enfatiza que a mulher sábia é aquela que "é uma verdadeira benção para sua família e comunidade", pois seu temor ao Senhor a torna capaz de gerir a casa, cuidar dos outros e ser uma testemunha do caráter divino na terra (Henry, 1706).


3. O Contraste: Sabedoria versus Insensatez


O contraste entre a mulher de Acaz e a mulher sábia de Provérbios destaca duas abordagens muito diferentes diante da vida. A mulher de Acaz representa a tentativa de resolver os problemas através da confiança em si mesma e em alianças humanas, sem considerar a vontade de Deus, enquanto a mulher sábia de Provérbios busca viver uma vida submissa à sabedoria divina, sendo um exemplo de virtude e retidão.


No Novo Testamento, a mulher sábia também é elogiada por sua vida de fé e dedicação. Em 1 Timóteo 2:9-10, Paulo instrui as mulheres a se vestirem com modéstia e boas obras, refletindo o caráter de Cristo. A sabedoria que a mulher de Provérbios demonstra é claramente ecoada no Novo Testamento, onde a fé, a boa conduta e o temor de Deus são apresentados como os maiores adornos de uma mulher piedosa.


Em sua reflexão sobre "Quatro Mulheres e um Destino", publicada no blog Arrazoar, o Rev. Ricardo Rios Melo observa que "todas as mulheres mencionadas nas Escrituras, de alguma forma, têm um destino em comum: elas são definidas pela maneira como lidam com a sabedoria e a insensatez". Ele destaca que, como a mulher de Acaz, muitas mulheres buscam soluções imediatas, porém vazias, ao invés de investirem na sabedoria duradoura que vem de Deus. Melo enfatiza que "a verdadeira sabedoria está em não se conformar com as convenções humanas, mas em buscar o conselho divino, mesmo quando as circunstâncias nos pressionam" (Rios Melo, 2024).


O teólogo Charles Spurgeon, em seu sermão sobre "A Mulher de Ló", oferece uma reflexão pertinente ao abordar como escolhas erradas podem levar à destruição. Spurgeon diz: "A mulher de Ló, ao olhar para trás, perdeu a salvação que estava diante dela. Assim é a mulher que, ao se apegar às coisas deste mundo, perde a promessa do reino de Deus." Essa frase ilustra bem como o apego às convenções mundanas e a falta de sabedoria podem afastar alguém da salvação e da verdadeira vida, assim como a mulher de Acaz, que rejeitou a direção divina em favor de soluções temporárias e prejudiciais.


4. Conclusão: 


A comparação entre a mulher de Acaz e a mulher sábia de Provérbios nos oferece uma lição profunda para nossa vida espiritual e prática. A mulher de Acaz, com sua dependência das soluções humanas e sua obstinação em desobedecer a Deus, serve como um alerta para todos nós sobre o perigo de colocar nossa confiança em alianças mundanas ou em estratégias que ignoram os caminhos do Senhor. Sua história nos lembra que, quando buscamos nossa própria sabedoria, sem levar em conta a vontade de Deus, o resultado pode ser a ruína espiritual e pessoal.


Em contraste, a mulher sábia de Provérbios nos apresenta o modelo de vida que Deus deseja para todas as mulheres (e também para todos os homens) – uma vida fundamentada no temor a Deus, na sabedoria que vem dos céus e na prática da virtude. Ela constrói sua casa com sabedoria, cuida dos outros com amor e prudência, e vive de forma que reflete a glória de Deus em todas as suas ações. Sua sabedoria não é apenas intelectual, mas prática, diária, e é a chave para uma vida de paz e prosperidade, tanto no lar quanto na comunidade.


A verdadeira sabedoria, conforme ensina a Palavra de Deus, não é fruto da experiência ou do conhecimento humano, mas do temor ao Senhor. Como nos lembra Tiago 3:17, "a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e bons frutos, imparcial e sincera." Esse é o modelo que devemos seguir, independentemente das dificuldades ou pressões externas.


Assim, a vida da mulher sábia de Provérbios nos desafia a viver com um propósito mais elevado: buscar a sabedoria divina em todas as áreas de nossa vida. Devemos ser mulheres e homens que não buscam soluções rápidas e passageiras, mas que se entregam ao Senhor, confiando em Sua direção, em Suas promessas e em Sua sabedoria eterna. A mulher sábia é, sem dúvida, uma bênção para sua família e comunidade, e seu exemplo nos chama a refletir sobre como estamos construindo nossas vidas: sobre a rocha firme da sabedoria divina ou sobre os alicerces frágeis das convenções humanas.


Portanto, a pergunta que se coloca diante de nós é: em quem temos confiado para tomar as decisões de nossa vida? Seremos como a mulher de Acaz, que buscou atalhos humanos e afastou-se de Deus, ou tomaremos a sábia decisão de confiar no Senhor em todos os nossos caminhos, permitindo que Ele nos conduza em Sua perfeita sabedoria? Que nossa escolha seja sempre a de buscar a sabedoria que vem do alto, que é pura, pacífica e cheia de misericórdia, e que possamos, assim, ser exemplos de fé e virtude para as próximas gerações.

Que a reflexão sobre essas duas figuras bíblicas nos mova a viver de maneira mais intencional e fiel, refletindo o caráter de Cristo em tudo o que fazemos.

Referências Bibliográficas


BEALE, G. K. The Temple and the Church's Mission: A Biblical Theology of the Dwelling Place of God. Downers Grove: InterVarsity Press, 2004.

DORIANI, Dan. The Word Became Flesh: A Biblical Theology of the Incarnation. Wheaton: Crossway, 2001.

HENRY, Matthew. Commentary on the Whole Bible. Vol. 3. Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1706.

KAISER, Walter C. Toward an Old Testament Theology. Grand Rapids: Zondervan, 2000.

WALTKE, Bruce K. Isaiah: A Commentary. Grand Rapids: Zondervan, 1995.

RIOS MELO, Ricardo. "Quatro Mulheres e um Destino." Arrazoar, 2024. Disponível em: https://arrazoar.com.

SPURGEON, Charles. "A Mulher de Ló." Sermões de Charles Spurgeon. Londres, 1865.


Citações Bíblicas


BÍBLIA SAGRADA, Edição Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011


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