Namoro e Compromisso: Um Caminho de Santidade - Rev. Ricardo Rios Melo
Para o cristão, o namoro é um período de conhecimento mútuo e discernimento, conduzido pelo propósito de avaliar a possibilidade de um casamento futuro. Andrea Kostenberger (2008) observa que “o namoro não deve ser visto como uma diversão inconsequente, mas como um compromisso de preparação para o casamento” (KOSTENBERGER, 2008, p. 40). Esse relacionamento precisa, portanto, refletir seriedade e compromisso com a santidade, evitando-se práticas que possam conduzir ao pecado. As Escrituras advertem sobre os perigos da imoralidade sexual. Em 1 Coríntios 6:18, Paulo instrui: “Fugi da imoralidade sexual” (BÍBLIA, 2009, p. 1065). Esse “fugir” implica evitar circunstâncias que potencialmente levam à tentação. Calvino (2006) enfatiza em suas Institutas que “não podemos agradar a Deus enquanto vivermos desordenadamente e sem continência” (CALVINO, 2006, p. 315).
Ficar: Uma Prática Incompatível com a Vida Cristã
A prática do “ficar” contradiz os princípios bíblicos de relacionamentos. Tal prática promove uma “liberdade” ilusória, na qual o indivíduo se vê aprisionado em desejos egoístas, tratando o próximo como mero objeto de satisfação. Joel Beeke (2018) ressalta que “não devemos tratar as pessoas como meios para nossa satisfação, mas como irmãos e irmãs em Cristo, respeitando-as e honrando-as” (BEEKE, 2018, p. 82). Além disso, Ted Tripp (2018) lembra que o compromisso cristão vai além de sentimentos passageiros; ele é reflexo da aliança de Deus com Seu povo. No Antigo Testamento, Deus estabelece alianças para expressar Seu compromisso fiel (cf. Gênesis 17:7), e, da mesma forma, um relacionamento cristão deve refletir essa fidelidade (TRIPP, 2018, p. 49).
Relacionamentos Líquidos: A Cultura da Efemeridade
A modernidade trouxe consigo o que o sociólogo Zygmunt Bauman (2004) chamou de “relacionamentos líquidos”, onde os laços afetivos são efêmeros e temporários. Bauman alerta que, em uma sociedade de consumidores, a “liquidez” do vínculo amoroso gera um esvaziamento dos compromissos e uma superficialidade nas relações humanas. Ele afirma: “o que caracteriza a modernidade líquida é a facilidade de descartar relacionamentos, como se fossem bens de consumo” (BAUMAN, 2004, p. 12). Essa fluidez nos relacionamentos acarreta consequências profundas: emocionalmente, gera solidão e instabilidade, enquanto socialmente incentiva a desintegração da instituição familiar e o individualismo exacerbado. Tal dinâmica opõe-se ao conceito cristão de amor, que exige compromisso, sacrifício e permanência, como descrito em Efésios 5:25-33 (BÍBLIA, 2009, p. 1177).
Casamento: O Propósito Eterno de Deus
O casamento, conforme descrito em Efésios 5:25-33, é a imagem viva da relação entre Cristo e a Igreja. Keller (2013) escreve que o casamento é “um compromisso permanente e exclusivo, no qual ambos os cônjuges servem um ao outro em amor sacrificial” (KELLER, 2013, p. 74). Esse amor sacrificial é evidenciado, por exemplo, no chamado de Paulo aos maridos para que amem suas esposas como Cristo amou a Igreja. Hernandes Dias Lopes (2019) afirma que “o casamento é um espelho da graça redentora de Cristo, uma aliança que deve ser cultivada com respeito e amor” (LOPES, 2019, p. 104). O autor de Hebreus também exalta o valor da pureza conjugal: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula” (Hebreus 13:4) (BÍBLIA, 2009, p. 1392), destacando que o casamento exige pureza, fidelidade e honra.
Sexo: Um Dom para o Contexto do Casamento
Deus criou o sexo para ser desfrutado dentro dos limites seguros do casamento. Henry (2016) observa que Deus criou a união entre homem e mulher para que fossem “uma só carne”, representando tanto a união física quanto a espiritual (HENRY, 2016, p. 213). Augustus Nicodemus Lopes (2020) enfatiza que “a vontade de Deus é a nossa santificação” e adverte que o sexo fora do casamento degrada o indivíduo e a relação com Deus (LOPES, 2020, p. 93). A Bíblia é clara sobre esse assunto em 1 Tessalonicenses 4:3-5: “Porque esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição” (BÍBLIA, 2009, p. 1226).
Beijo na Boca e Intimidade Física: Aspectos Bíblicos e Científicos
O beijo pode parecer um ato trivial, mas no contexto cristão deve ser tratado com responsabilidade e sobriedade. Joel Beeke (2018) enfatiza que “a intimidade física deve sempre refletir um compromisso de coração” (BEEKE, 2018, p. 141). A psicologia moderna aponta que o beijo provoca a liberação de substâncias químicas como oxitocina e dopamina, responsáveis pela sensação de prazer e apego (BASS, 2001). Essas substâncias fortalecem o vínculo entre os parceiros, revelando que o ato de beijar não é meramente físico, mas também emocionalmente significativo. Jesus ensina que “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura no coração, já cometeu adultério com ela” (Mateus 5:28) (BÍBLIA, 2009, p. 922), apontando que a pureza não envolve apenas ações, mas também intenções.
Conclusão: Viver para a Glória de Deus em Todo o Tempo
O objetivo do relacionamento cristão é glorificar a Deus e viver em santidade. Como ensinam os puritanos, nossa vida deve refletir uma busca constante pela santificação e pela conformidade com CCristo. CALINO (2006) dizia que “a vida do cristão deve ser um sacrifício constante a Deus” (CALVINO, 2006, p. 462), incluindo nossos relacionamentos. Que possamos buscar viver nossos relacionamentos com integridade e reverência, lembrando que nosso maior compromisso é com Cristo e Sua glória.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
BEEKE, Joel R. Vivendo para a glória de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2018.
BÍBLIA. A Bíblia Sagrada: Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
CALVINO, João. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2016.
KELLER, Timothy. O significado do casamento. São Paulo: Vida Nova, 2013.
KOSTENBERGER, Andreas J. God, Marriage, and Family. Wheaton: Crossway, 2008.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e sua moral sexual. São Paulo: Vida Nova, 2020.
LOPES, Hernandes Dias. Família, lugar de refúgio e restauração. São Paulo: Hagnos, 2019.
TRIPP, Ted. Pastoreando o coração da criança. São Paulo: Fiel, 2018.
BASS, Alan H. The Science of Kissing. New York: Perennial, 2001.
Comentários