“Assim
caminha a humanidade”
Rev.
Ricardo Rios Melo
Confesso que, há muito, tenho vontade de
escrever sobre esse tema. O talentoso Lulu Santos utiliza esse título em uma de
suas belas músicas românticas. Entretanto, o meu assunto longe está de ser
romântico. Aliás, espero sinceramente que não haja romantismo quase nenhum,
pois nenhum é impossível.
Historicamente, o homem tem repetido atos que
são lidos facilmente pelos historiadores e relatados em livros. Violência e
desigualdades, por exemplo, não são nenhuma novidade. Guerras, contendas,
assassinatos, corrupção, roubo, latrocínio, genocídio, egoísmo; a lista é extensa
e exclui, por questões objetivas, atos de altruísmo. Se bem que até o altruísmo
pode ser avaliado sob o aspecto do ganho emocional: “eu me sinto bem fazendo
isso...”, ou seja, nada é de graça.
A imagem traçada e retratada do homem pela
história em nada nos conduz a ufanismos ou esperança de que as coisas mudem. A
humanidade caminha para sua destruição. Esse pensamento, que muitos chamariam
de “filosofia pessimista” (embasada na ideia de que “viver é sofrer”), em uma
teoria de Arthur Schopenhauer (1788-1860), ecoada em parte no pensamento psicanalítico
de Sigmund Freud (1856-1939) de que “viver é sofrer em alguma medida”, nada
mais é do que um extrato dos relatos históricos.
Tendo como lentes o pensamento cristão
reformado, também chegamos ao pensamento claro de que o homem caído no jardim
do Éden caminha para sua perdição. Sem o resgate, sem a intervenção divina, não
há solução para o homem. O caminho da humanidade caída é desanimador: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de
forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos,
estão debaixo do pecado; como
está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem
entenda, não há quem busque a Deus; todos se
extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um
sequer. A garganta deles é sepulcro aberto;
com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de
amargura; são os seus pés velozes para derramar
sangue, nos seus caminhos, há destruição e
miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” Romanos 3. 9-18.
Concluir que confiar na humanidade é uma
perda de tempo é notório na exposição de Paulo aos Romanos. A ideia paulina é de
que as ações boas só podem ser tomadas partindo de Deus. Mesmo os atos
altruístas e filantrópicos de um ser humano não podem ser vistos fora da mão
bondosa de Deus impelindo os homens a acertarem com Sua lei: “Porque os simples
ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão
de ser justificados. Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por
natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si
mesmos. Estes
mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a
consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que
Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade
com o meu evangelho” Romanos 2.14-16.
O
pensamento bíblico reformado entende que o homem está morto em seus delitos e
pecados. Portanto, é insensível à voz de Deus a menos que Deus lhe dê vida: “Ele vos deu vida, estando vós mortos
nos vossos delitos e pecados” Efésios 2.1. É necessário nascer espiritualmente para Deus por intermédio do
Espirito Santos: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te
digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” João 3.3. Esse pensamento
está longe de ser pessimista visto que há solução para a humidade: Deus.
Todavia, a humanidade seguindo seu próprio caminho, corre para a perdição.
Há uma busca incansável em eternizar o homem por
intermédio de medicações milagrosas de prolongamento da beleza e juventude. Há
uma luta constante por conforto, consolo, um ambiente controlável e ajustável,
segurança financeira e de saúde, uma ocupação prévia pelo dia de amanhã:
preocupação. Entretanto, quanto mais o homem tenta segurar o futuro em suas
mãos, ele se depara com o desamparo de sua existência.
A constatação de um mundo ansioso mostra claramente
a ineficácia do homem de prevenção e controle do futuro. Assim caminha a
humanidade, rumo ao vazio e ao inexorável.
Provavelmente, para alguns leitores desse arrazoado,
isso não é nenhuma novidade. O que é espantoso é ver a igreja hodierna
caminhando de mãos dadas com a humanidade. Uma igreja ansiosa construindo
celeiros e mais celeiros para guardar o excedente do trigo; acumulando riquezas
para prevenir o futuro incerto. Trabalhando para eternizar na terra o que só
será obtido nos céus. Buscando tesouros na terra.
Andar ansioso não é só o medo do futuro incerto, mas
também é prevenir a incerteza com a mentalidade da humanidade caída: acumulando
riquezas para o possível dia do infortúnio atravessando a tênue linha entre a
prudência e ganância: “Não acumuleis para vós outros tesouros
sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e
roubam; mas
ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde
ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o
teu coração. São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos
forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo
estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes
trevas serão! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de
aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro.
Não podeis servir a Deus e às riquezas. Por isso, vos digo: não andeis ansiosos
pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo,
quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo,
mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem
ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não
valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar
um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao
vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem
fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a
sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje
existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena
fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos?
Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque
os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que
necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e
a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã,
pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal”
Mateus 6. 19-34.
A teologia da prosperidade que invade a igreja histórica,
por meio de alguns membros, pode muito bem significar o acúmulo de recursos
indiscriminados para o beneficio próprio e a busca incansável por preencher a
falta do homem com a busca incessante pela ascensão material, conforto e
tentativa de criar o paraíso na terra.
Assim caminha a humanidade, assim caminha a igreja
hodierna e, infelizmente, assim caminhamos muitos de nós.
Deus nos abençoe e nos livre desse caminho de
perdição.
Rev. Ricardo Rios Melo
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