Pular para o conteúdo principal

Quando eu tiver tempo...


Quando eu tiver tempo...
 
“Quando eu tiver tempo eu farei ...”  essa é uma das frases que mais ouço. O tempo já foi cantado, transformado em verso e prosa, já foi senhor de destinos em vozes brasileiras, como a de Caetano Veloso. O Tempo e o Vento é tema literário na pena de Érico Veríssimo. O cantor e compositor Cazuza dizia que “o tempo não para”. Renato russo escreveu “Tempo Perdido”. Há um fascínio inegável pelo tempo. 
Muitos gostariam de segurá-lo com as mãos, mas, como água, ele escorre pelos dedos. Os que gozam de felicidade gostariam de congelá-lo. Os sofredores oram para que ele passe logo. Os namorados apaixonados gostariam de eternizá-los, mas os que sofrem de amor querem que ele seja a cura para a ferida.
O tempo também é a desculpa perfeita para quase todas as irresponsabilidades humanas: não tive tempo. Basta dizer que está sem tempo para nada e você, supostamente, resolve boa parte das cobranças dos outros.
Os estudantes dizem que não tiveram tempo para estudar para determinada prova. Os trabalhadores dizem que não tiveram tempo de concluir determinada demanda. É... o tempo é amigo da gente, mas, muito as vezes, torna-se nosso inimigo; um verdadeiro algoz. Basta você tentar praticar um esporte depois de muito tempo parado que você encontrará motivos de sobra para ter ódio dele.
O tempo é um bom professor. Ele ensina que dormir enquanto ele passa não é um bom negócio, pois você não poderá ver a reprise. Enquanto escrevo esse arrazoado, ele está passando rapidamente. Ou será lentamente?
Se o tempo fosse uma pessoa, ele causaria de imediato duas reações: ódio e amor. Indiferença não é algo que o tempo provoca. Aliás, alguém indiferente a ele perceberá logo, logo que ele não deixará barato essa atitude.
Quando dizemos que não temos tempo, estamos de certa forma acertando, pois o tempo não é nosso: não o temos! Não o possuímos! O único ser que pode governá-lo é o Senhor, pois Ele está fora do tempo. Ele é atemporal, eterno. Só um ser fora do círculo temporal pode deter ou libertar o tempo!
Quando deixamos a vida para vivê-la posteriormente, estamos, nas entrelinhas, dizendo que somos senhores dele. Mas, como podemos fazer isso, se lhes somos submetidos? Como dizer que faremos algo no futuro se nós não temos controle do tempo?
Pois é, como diz o autor aos Eclesiastes, no capitulo 3.1-8: “há tempo para tudo debaixo do sol: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz”.
Quando dizemos que não temos tempo, de certa forma, estamos falando uma verdade, pois ele não nos pertence. Ao mesmo tempo, estamos confessando que temos sido negligente com o tempo que Deus tem nos dado, pois não o estamos utilizando como mordomos prudentes. Deus requererá de nós o tempo que não utilizamos como deveríamos; o tempo perdido e gasto no que não glorifica a Ele.
Em qualquer lugar ou atividade, o tempo não é uma pessoa ou um deus. O tempo está submetido ao Deus eterno, atemporal. Isso traz angústia aos controladores e àqueles que gostariam de ser seus senhores.
A verdade bendita é que o tempo é controlado. Ele é limitado, finito, delineado pelo grande Tapeceiro que é Deus. Como uma tapeçaria que se olha do avesso, não encontramos muitas vezes uma linha que explique as intempéries da vida.
“No fim das contas”, como bem cantou o poeta e compositor cristão Stênio Március:  Se você olha do avesso, Nem imagina o desfecho, No fim das contas, Tudo se explica, Tudo se encaixa, Tudo coopera pro meu bem”.
 O tempo é escolha. Cuidado com o urgente, pois ele se disfarça de prioridade e te engana. Nem sempre o que é urgente é prioridade. Muitas vezes, virou urgente porque você não priorizou.
Existe uma frase que é creditada a Pitágoras: “Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito”.
Para os procrastinadores, aqueles que deixam sempre para depois tudo, fica o alerta de Tiago 4. 13-17: Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna. Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando”.
 
Termino com a exortação de Paulo que deve ser aplicada para a nossa correria moderna:
 
“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Ef. 5. 15-16).
 
 
 
Rev. Ricardo Rios Melo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno Por: rev. Ricardo Rios Melo Essa frase ficou consagrada na canção de Caetano Veloso, “Alegria, Alegria”, lançada em plena ditadura no ano de 1960. A música fazia uma crítica inteligente ao sistema ditatorial e aos seus efeitos devastadores na sociedade da época. Era um período difícil em que falar contra o regime imposto era perigoso e, em muitos casos, mortal. Destarte, a minha intenção é usar apenas a frase da música “sem lenço e sem documento”. Essa expressão retrata a ideia de alguém que anda sem objetos importantes para sair de casa na época da escrita. Hoje, ainda é importante sair com o documento de identidade. Alguns acrescentariam celular e acessórios; contudo, a identificação de uma pessoa ainda é uma exigência legal. Andar sem uma identificação é sempre perigoso. Se uma autoridade pará-lo, você poderá ter sérios problemas. É como dirigir um carro sem habilitação. Você pode até saber dirigir, mas você...

“Águas passadas não movem moinho”

“Águas passadas não movem moinho” Por Rev. Ricardo Rios Melo Esse ditado popular: “Águas passadas não movem moinho” é bem antigo. Retrata a ideia, como diz minha sabia avó, de que, quando alguém bate em sua porta, você não pergunta: “quem era?”; antes, “quem é”.   Parece mostrar-nos que o passado não tem importância ou, pelo menos, não deve ser um obstáculo para andarmos para frente em direção ao futuro. É claro que o passado tem importância e que não se apaga uma história. Contudo, não devemos exagerar na interpretação desse ditado; apenas usá-lo com o intuito de significar a necessidade de prosseguir em frente, a despeito de qualquer dificuldade que se tenha passado. Apesar de esse adágio servir para estimular muita gente ao longo da vida, isso parece não ser levado em conta quando alguém se converte a Cristo. É comum as pessoas falarem: “Fulano se converteu? Não acredito! Ele era a pior pessoa do mundo. Como ele pôde se converter?” O mundo pode aceitar e encobr...

“Como se não houvesse amanhã”

“ Como se não houvesse amanhã” Rev. Ricardo Rios Melo Existe uma música, da banda de rock brasileira Legião Urbana, escrita por Renato Russo, que em seu refrão diz: “ É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há .” Essa letra tem nuances contextuais e um grande aspecto introspectivo. Apenas me fixarei no belo refrão. Acredito que Renato Russo estava correto em afirmar que precisamos amar as pessoas como se o amanhã não existisse. A Bíblia fala que o amanhã trará o seu próprio cuidado: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6.34). Parece-nos que a Bíblia, apesar de nos falar da esperança e da certeza da vida futura, nos chama a viver o hoje: “antes exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” ( Hb 3.13). Ao citar o Sl 95, o autor aos Hebreus ex...