Pular para o conteúdo principal

Se existisse o Se?

Quem nunca se entristeceu com uma alternativa errada na vida? Quem nunca titubeou diante da bifurcação de um caminho? Quem nunca olhou para trás e disse: “se eu não tivesse feito isso? Se eu não tivesse agido assim? Esse tema parece tão inquietante para o homem que até uma propaganda recente do G1, canal de notícias da Globo.com, lançou esse tema aterrador nas consciências de seus telespectadores: “se o homem soubesse que iria chover, não se molharia. Se ele soubesse que haveria guerras, ele não teria inventado a pólvora...ele sofreria menos...”

O Se tem acompanhado as mentes humanas desde a sua gênese. Certamente, muitas pessoas se martirizam mais pelo Se do que pelo que fizeram. A possibilidade de se pensar no Se e a impossibilidade do Se existir como opção real fazem com que muitos sejam ansiosos e frustrados.

O Se tem muito mais a ver com o remorso do que com o arrependimento. Percebam que as pessoas que se concentram no Se geralmente se entristecem pelo não feito, mas muitas vezes não mudam de atitude. O arrependimento é a conscientização do erro cometido e a mudança de atitude ante os fatos ocorridos. O arrependido tenta nunca mais cometer o mesmo erro. A pessoa que é condoída pelo remorso apenas se martiriza, se entristece, mas nunca deixa de cometer novamente os mesmos erros. Se olharmos o exemplo de Judas que cometeu suicídio, veremos que a atitude dele é mais um remorso do que um arrependimento. Se ele tivesse se arrependido, teria mudando o rumo de sua vida e não cometeria tal desatino. Mas, novamente vemos a possibilidade impossível desse Se.

O Se é tão curioso que algumas pessoas depreendem outro Se do Se. Quando pensam no Se, dizem: “mas Se isso acontecesse, poderia ser que outra coisa acontecesse e Se acontecesse isso...”.

A verdade é que o único que pode saber do Se é Deus. Um texto que demonstra esse conhecimento de Deus é o texto de Mt 11.21: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza” (grifos meu). Jesus demonstra claramente que conhece a possibilidade, pois o próprio Deus que decretou a história é o mantenedor e condutor da mesma.

Essa doutrina é encontrada na teologia dentro do estudo do Ser de Deus no que tange ao aspecto do conhecimento de Deus. Ele conhece as possibilidades. Ele conhece o que poderia ter acontecido. Explicando o texto de Mt 11.21, Heber Carlos de Campos diz: “Deus conhece o que hipoteticamente teria acontecido, se... Essa partícula ‘se’ indica que Deus saberia o que aconteceria mesmo sob outras circunstâncias. Esse conhecimento é também chamado de ‘conhecimento das coisas possíveis’. (...) Jesus sabia o que aconteceria naquelas cidades gentílicas se os milagres acontecessem lá. Era algo perfeitamente possível, mas não aconteceu porque não foi o propósito divino, mas Deus tem conhecimento da possibilidade” (Heber Carlos de Campos, O Ser de Deus e os Seus Atributos, São Paulo, CEP, 1999, p. 217,218).

Sabedores que o Se só é possível a Deus conhecer e que nós somos limitados em nosso espaço e tempo não podendo voltar o relógio do tempo e consertar ou achar que se está consertando algo, podemos aduzir desse tema algumas considerações:
  1. Não andemos ansiosos de coisa alguma (Mt 5.25). Basta a cada dia seu próprio mal (Mt 6. 34). Nenhuma de nossas preocupações mudará nosso curso. Não devemos nos inquietar com as possibilidades, devemos fazer escolhas, em tempo, pelo que o Senhor nos conduz na Palavra e no discernir do Espírito. Essas escolhas em Deus nos trarão tranqüilidade e não pensaremos no Se. Contudo, se você tomou um rumo errado em um momento de sua vida, arrependa-se! Mude de atitude em relação aos fatos e não tenha apenas um remorso que só lhe trará angústia. A angústia do arrependimento leva ao perdão de Deus e a paz no coração e na mente, pois sabemos que se pecarmos, temos um advogado junto ao Pai: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1); o arrependimento leva à mudança de atitude e ao perdão de Deus. O remorso leva a autocomiseração e à estagnação das atitudes, que certamente voltarão a acontecer;
  2. Outra coisa que podemos considerar é que Deus sabe o Se e que algumas dessas possibilidades que denominamos de Se Ele nos revela nas Escrituras e diz a você que ainda não mudou de atitude em relação á sua rebeldia diante de Deus e sua desobediência: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem” (Jo 10.9). Existe uma possibilidade agora! O Se se apresenta para você da seguinte forma: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3. 36). Se Você crer, tem a vida eterna hoje e agora; Se você não crer, não verá a vida e está e estará para sempre debaixo da ira divina.

    Deus nos Abençoe e nos faça descansar em suas seguras mãos!

    Rev. Ricardo Rios Melo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno Por: rev. Ricardo Rios Melo Essa frase ficou consagrada na canção de Caetano Veloso, “Alegria, Alegria”, lançada em plena ditadura no ano de 1960. A música fazia uma crítica inteligente ao sistema ditatorial e aos seus efeitos devastadores na sociedade da época. Era um período difícil em que falar contra o regime imposto era perigoso e, em muitos casos, mortal. Destarte, a minha intenção é usar apenas a frase da música “sem lenço e sem documento”. Essa expressão retrata a ideia de alguém que anda sem objetos importantes para sair de casa na época da escrita. Hoje, ainda é importante sair com o documento de identidade. Alguns acrescentariam celular e acessórios; contudo, a identificação de uma pessoa ainda é uma exigência legal. Andar sem uma identificação é sempre perigoso. Se uma autoridade pará-lo, você poderá ter sérios problemas. É como dirigir um carro sem habilitação. Você pode até saber dirigir, mas você...

“Águas passadas não movem moinho”

“Águas passadas não movem moinho” Por Rev. Ricardo Rios Melo Esse ditado popular: “Águas passadas não movem moinho” é bem antigo. Retrata a ideia, como diz minha sabia avó, de que, quando alguém bate em sua porta, você não pergunta: “quem era?”; antes, “quem é”.   Parece mostrar-nos que o passado não tem importância ou, pelo menos, não deve ser um obstáculo para andarmos para frente em direção ao futuro. É claro que o passado tem importância e que não se apaga uma história. Contudo, não devemos exagerar na interpretação desse ditado; apenas usá-lo com o intuito de significar a necessidade de prosseguir em frente, a despeito de qualquer dificuldade que se tenha passado. Apesar de esse adágio servir para estimular muita gente ao longo da vida, isso parece não ser levado em conta quando alguém se converte a Cristo. É comum as pessoas falarem: “Fulano se converteu? Não acredito! Ele era a pior pessoa do mundo. Como ele pôde se converter?” O mundo pode aceitar e encobr...

“Como se não houvesse amanhã”

“ Como se não houvesse amanhã” Rev. Ricardo Rios Melo Existe uma música, da banda de rock brasileira Legião Urbana, escrita por Renato Russo, que em seu refrão diz: “ É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há .” Essa letra tem nuances contextuais e um grande aspecto introspectivo. Apenas me fixarei no belo refrão. Acredito que Renato Russo estava correto em afirmar que precisamos amar as pessoas como se o amanhã não existisse. A Bíblia fala que o amanhã trará o seu próprio cuidado: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6.34). Parece-nos que a Bíblia, apesar de nos falar da esperança e da certeza da vida futura, nos chama a viver o hoje: “antes exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” ( Hb 3.13). Ao citar o Sl 95, o autor aos Hebreus ex...