Qual
a semelhança entre Elize Matsunaga e Madre Teresa de Calcutá?
Certamente,
algumas pessoas se assustarão com esse título. Mas, a minha intenção é estabelecer
uma reflexão sobre o ser humano.
Se existissem
extraterrestres e eles viessem ao mundo em dois momentos: na primeira situação
em 1910, mais precisamente no dia 26 de agosto, e acompanhasse a história de
Agnes Gonxha Bojaxhiu (beata Teresa de Calcutá). Certamente, voltariam para o
seu planeta, caso fossem evoluídos, achando que a humanidade tinha jeito. O
ser-humano seria definido como compassivo, misericordioso, propenso à
fidalguia.
Agnes
Boajaxhiu foi um exemplo de humanitarismo e de abnegação. Se pinçássemos apenas
Madre Teresa de Calcutá como a verdadeira mostra da humanidade, estaríamos perto
da definição do que é o homem?
Antes de
respondermos, vejamos outro exemplo. A nave desses alienígenas fictícios pousa
na terra em uma segunda situação, século XXI, mais exatamente em 2012. Uma jovem
mulher de 30 anos, antes pobre, antes garota de programa, agora rica, mãe,
esposa de um homem rico, assassina cruelmente seu marido e o esquarteja,
segundo a polícia, ainda vivo. Os relatos dão conta de que ela não demonstrou
nenhuma emoção, a não ser quando se falou de sua filha. A visão dos alienígenas
sobre os seres humanos poderia ser bastante pessimista, pois poderiam concluir
que não há solução para humanidade; os seres humanos seriam sem emoção,
vingativos, calculistas e gananciosos. Esse espectro da humanidade traria
conclusões com cores verdadeiras, mas, com formas distorcidas.
Duas mulheres,
duas vidas diferentes, dois caminhos opostos, aspectos da humanidade que
confundiriam um observador externo. Contudo, Madre Teresa não representa a
humanidade. Elise também está longe de ser um protótipo fidedigno da
humanidade.
Quando Madre
Teresa tinha apenas 10 de idade, Adolf Hitler, um dos maiores “monstros” que a
humanidade já teve, era “cabo do
exército até 1920 e dedicou-se integralmente ao Partido Operário Alemão, de
tendência nacionalista, que nessa época havia sido rebatizado como Partido
Operário Alemão Nacional-socialista (nazista). Em 1921, Hitler foi eleito
presidente (Führer) com poderes ditatoriais”.[1]
Em 1939, Hitler invadiu a Polônia, o que
desencadeou a 2ª Guerra Mundial. O restante da história, todos conhecem: crimes
de guerra, tortura, genocídio, holocausto. O que talvez nos causaria espanto é
o fato de que Hitler não fez tudo sozinho. Uma nação o seguiu. É claro que
tinha suas exceções, como, por exemplo, o antinazista e pastor luterano, Dietrich Bonhoeffer. Contudo, a grande maioria eram
pessoas comuns. “Muitos carrascos nazistas,
após terem passado o dia exterminando mulheres, crianças e idosos, voltavam
para casa e retomavam sua rotina confortável e normal no seio da família; comia
bem, ouviam música erudita, liam bons livros, faziam amor com suas mulheres,
abraçavam e brincavam com seus filhos. Como era possível que a mente desses
carrascos conseguissem justapor, às atrocidades cometidas durante o dia, esse
final de noite de paz no ambiente doméstico? Seria doença mental o que possibilitava
essa dualidade? Muitos assassinos e torturadores tiveram respaldo em uma
infraestrutura composta de cúmplices; provavelmente pessoas acima de qualquer suspeita,
normais.”[2]
Dizer que todos os nazistas eram doentes é uma
visão ingênua do homem. Alguns teóricos caíram nessa cilada positivista e
fizeram relatos, reuniram testemunhos, elaboraram teses. Contudo, como bem
frisou Elisabeth Roudinesco, “apesar da
importância dos testemunhos reunidos, que constituem hoje considerável fonte
historiográfica, todas essas abordagens da criminalidade nazista, oriunda da
medicina positivista e da psicanálise, são de uma pobreza desconcertante. De
fato, elas apresentam o perigoso defeito de tentar provar que, para terem
realizado esses atos, os nazistas genocidas eram forçosamente, apesar de sua
normalidade aparente, psicopatas, doentes mentais, pornográficos, desviantes
sexuais, toxicômonos ou neuróticos. (...) Na realidade, o que choca nos depoimentos
dos genocidas nazistas é que a pavorosa normalidade de que eles dão prova é
efetivamente o sintoma não de uma perversão no sentido clínico do termo
(sexual, esquizóide ou outra), mas de uma adesão a um sistema perverso que
sintetiza sozinho o conjunto de todas as perversões possíveis."[3]
Os visitantes fictícios do nosso planeta, não
precisariam viajar muito longe no tempo para perceberem que uma das
características encontradas no ser humano é a perversidade. Uma ambivalência
que exclui qualquer visão maniqueísta do homem. Elise está longe de ser a
personificação do demônio ou de um corpo inerte, um invólucro vazio sem persona possuído por ele. Para desespero
nosso, existem várias Elises no mundo e, quem sabe, ao seu lado, ou pior,
dentro de você. Por outro lado, Madre Tereza está longe de ser a visão da
perfeição e candura celestial, pois, por mais bondosa que fosse, Bom só existe
um: “Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um
que é Deus” (Mc 10.18).
A visão do ser
humano deve comportar duas fases da humanidade: primeiramente, o homem foi criado
à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27). Hermisten Costa, falando sobre a
imagem de Deus nos homens, aduz: “O homem deve ser
respeitado, amado e ajudado porque é a imagem de Deus. ‘Não temos de
pensar continuamente nas maldades do homem, mas, antes, darmos conta de que ele
é portador da imagem de Deus’”.[4]
A Bíblia então nos fala que o homem foi feito à
imagem e semelhança de Deus, portanto justiça, bondade retidão são encontradas
no ser humano. Contudo, a segunda coisa que a Bíblia trata é da queda do homem
em Gênesis 3. Com a queda, o retrato do homem é o de Romanos 3. 10-18: “como está escrito: Não há
justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram
inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as
suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus
lábios; a sua boca está cheia de
maldição e amargura. Os seus pés são
ligeiros para derramar sangue. Nos seus
caminhos há destruição e miséria; e não
conheceram o caminho da paz. Não há
temor de Deus diante dos seus olhos.”
Quando os
seres humanos acertam, acertam porque Deus gravou em seus corações a sua lei: “(porque, quando os gentios, que
não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei,
para si mesmos são lei. “Pois mostram a
obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência
e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os), no dia em que Deus há de julgar os segredos
dos homens, por Cristo Jesus, segundo o meu evangelho” (Rm 2.15,16).
O homem não se
define por uma simples historiografia do mal ou do bem. Para conhecermos o
homem, precisamos ir para sua origem, Deus.
Elize Matsunaga nos incomoda, dentro de vários
aspectos, por que sua atitude está dentro do coração caído do homem. Jesus fala
essa verdade de maneira direta: “Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus
pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, a cobiça, as maldades, o dolo, a
libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; todas estas más coisas procedem de dentro e
contaminam o homem” (Mc 7. 21-23).
Madre Teresa se une
a Eliza na essência da humanidade criada à imagem de Deus e na desobediência do
homem ao seu Criador. É curioso notar que Madre Teresa passou sua vida tentando
aplacar sua inquietação e sentir a paz de Deus em seu coração, mas nunca a
encontrou. Segundo alguns autores, ela “viveu uma grande fase de escuridão
interior que se prolongou até a sua morte". ‘Sabia que estava unida a
Deus, mas não conseguia sentir nada’”[5]
Talvez o que Madre Tereza precisava era
se inspirar nas inquietações do ex-católico Martinho Lutero que, em meio as
suas dores, encontrou consolo na justificação pela fé em Cristo: “Justificados, pois, pela fé, temos paz com
Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).
Devemos louvar a Deus pelo fato de
assassinatos horrendos ainda nos causarem espanto. Por outro lado, devemos entender
que o homem sem Deus pode muito bem transformar a sociedade em um partido do
mal (nazismo), pois, infelizmente, existe “a parte obscura de nós mesmos”. A
pergunta do salmista permeia de diversas maneiras as mentes dos estudiosos da
saga humana: “Quando
contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que
estabeleceste, que é o homem, para que te lembres dele? e o filho do homem,
para que o visites? (Sl 8. 3,4).
Contudo, a resposta
só terá sentido se contemplarmos as obras de Deus e conhecermos o que ela
revela sobre Ele mesmo e sobre nós.
Seja bem-vindo ao
homem! Decifra-o ou ele te devorará! Conheça a Deus e Ele te salvará do pecado,
da morte e de você mesmo!
Deus nos abençoe!
Rev. Ricardo Rios
Melo
[1] (Fonte:
[1]http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/adolf-hitler/adolf-hitler-
1.php#ixzz1yXTyab7W ).
[3] Elizabeth
Roudinesco, A Parte obscura de Nós
Mesmos: Uma História dos Perversos, Rios de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p.
134,135.
[4] Hermisnten M. P.
da Costa, http://monergismo.com/wp-content/uploads/a-imagem-de-deus-no-homem-segundo-calvino.pdf (ele faz citação
de João Calvino, A Verdadeira Vida
Cristã, p. 38).
[5]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Madre_Teresa_de_Calcut%C3%A1
Comentários
Deus o abençoe pastor.