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SER MEMBRO DE UMA IGREJA, EU PRECISO DISSO?



SER MEMBRO DE UMA IGREJA, EU PRECISO DISSO?

Quem nunca ouviu alguma dessas frases: “eu creio do meu jeito” ou “não preciso ir à igreja para ser crente ou para crer em Deus”? Recentemente, essas frases ganharam um grande reforço por intermédio de publicações de livros que incentivam as pessoas a não buscaram a igreja. A idéia é que não existe respaldo para uma religião constituída. Bom, é verdade que a Bíblia não estipulou que a igreja seria Presbiteriana, Batista, Assembléia, Metodista ou qualquer outra denominação, não! Mas, será verdade afirmar que não precisamos da Igreja? E, se precisamos da igreja, o que ela realmente é?

Segundo Don Kistler, “As igrejas do Novo Testamento eram igrejas visíveis e locais. Elas se reuniam em lugar específico. Mateus 18.20 fala de umas poucas duas ou três reuniões no nome de Cristo. Atos 11.26 fala que a igreja de Antioquia, onde os discípulos foram pela primeira vez chamados de cristãos, reunia-se com o propósito de ser ensinada. Paulo escreveu suas epístolas a igrejas específicas, em lugares específicos, com pastores e presbíteros (ou supervisores) pastoreando seus rebanhos”.[1]

Podemos entender, claramente, nas Escrituras que Deus envia seu Filho para salvar seu povo (Mt 1.21). Cristo veio salvar o coletivo. É claro que Deus nos trata individualmente também, mas enviou Seu filho para salvar Sua Igreja: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28).

O apóstolo Paulo fala que a Igreja é Coluna e Baluarte da Verdade: Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (I Tm 3.14,15). Aliás, deveríamos entender que: manter, propagar e viver a verdade devem ser um dos principais quesitos na escolha de uma igreja.

Gordon D. Fee faz uma afirmação perturbadora para os nossos dias: “Uma pessoa sozinha está sentada em casa à frente da televisão; um programa cristão está no ar, um sermão é pregado, um convite é feito, e a pessoa responde ‘aceitando a Cristo’. Mas a única ‘igreja’ que a pessoa ‘freqüenta’ é por acaso a da televisão, sem nenhuma conexão com um corpo local de crentes. A pergunta: esta pessoa está salva? Eu responderia: somente Deus sabe; porém tal salvação está totalmente fora da visão salvífica do Novo Testamento. Um dos membros certos da moderna ‘trindade’ do mundo, ao lado do relativismo e secularismo é individualismo.”[2]

Esse individualismo “denunciado” por Fee, não é novidade. Os pensadores contemporâneos tratam dessa individualização como uma das marcas do pós-modernismo. Na esteira desse pensamento e, citando Tocqueville, Zygmunt Bauman diz que “o indivíduo é o pior inimigo do cidadão”[3].

Nessa sociedade individualista, “Narciso acha feio o que não é espelho”.[4] Entretanto, ao defrontar-se com o espelho, se encontra vazio. “Quanto mais a cidade desenvolve as possibilidades de encontros, mais os indivíduos se sentem sós; quanto mais as relações se tornam livres, emancipadas das antigas restrições, mas rara se torna a possibilidade de conhecer uma relação intensa. Por outro lado há solidão, vazio, dificuldade de sentir, de ser transportado para fora de si mesmo; daí uma fuga para as ‘experiências’, que apenas traduz a busca de uma ‘experiência’ emocional forte”.[5]

É dentro desse contexto individualista, da era dos telefones celulares, que não ligamos mais para a casa ou família de alguém, mas para alguém individualmente. Na era dos iPOD’S, em que não se compartilha a música com o ambiente, mas apenas com seu dono; na era das comunidades virtuais que são efêmeras e de interesses diversos e circunstanciais, se tenta criar uma igreja da mesma forma. Uma igreja para o indivíduo e não para coletividade – uma igreja que sacie os interesses narcísicos.

A igreja apostólica, tecnicamente falando, se constitui de uma assembléia de pecadores redimidos. Desde o Antigo Testamento, Deus está reunindo um povo zeloso de boas obras:o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas Obras” (Tt 2.14).

Deus enviou seu único Filho para morrer pela Igreja, o Israel de Deus. Conquanto a responsabilidade do arrependimento seja individual, Deus nos chamou para a comunhão real, não virtual, e jamais individual.

A essa altura, você me perguntaria: preciso filiar-me a uma igreja já que não existe denominação na Bíblia? A resposta é simples: igreja, como instituição humana e falível, não salva ninguém. Mas, a Igreja que Deus tem reunido desde os tempos da existência humana usa uma Igreja invisível, no sentido de que não conhecemos todos os seus membros, mas que se manifesta visivelmente agregando pessoas de diversas denominações que professam Cristo como Senhor e Salvador, que foi constituída por Deus na Sua multiforme sabedoria, permitindo que haja diferenças entre elas, cujo centro é Cristo. Sem essa filiação você não será salvo.

Portanto, você precisa de dois pertencimentos segundo a Bíblia, 1) pertencer a uma igreja, seja qual for a denominação ou local, Éfeso, Antioquia, Presbiteriana, Batista, Assembléia, Metodista, seja qual for a igreja e o local, é necessário participar de uma que pregue verdadeiramente o Evangelho com fidelidade;

2) o mais importante de tudo isso é ter as duas presenças confirmadas, e a segunda presença é o seu nome arrolado no Livro da vida; é ser membro da Igreja dos Céus, onde não existe mais grego, judeu, brasileiro, americano, africano etc. “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28).

Queridos, só existe um só jeito de ser crente, o jeito de Cristo!

Que Deus nos abençoe!

Rev. Ricardo Rios Melo



[1] Don Kistler, Benditos Laços, In: Avante, Soldados de Cristo, São Paulo, Cultura Cristã, 2010, p. 66.

[2] Gordon D. Fee, Paulo, o Espírito e o Povo de Deus, Campinas- SP, United Press, 1997, p. 69.

[3] Vd. Zygmunt Bauman, A Sociedade Individualizada, Rio de Janeiro, 2008, p. 60-77.

[4] Caetano Veloso, Sampa.

[5] Gilles Lipovetsky, A Era Do Vazio, Barueri, SP, Manole, 2006, p. 57,58.


Comentários

Anônimo disse…
É preciso dizer que qualquer denominação não,mas aquelas que realmente professam as sagradas,pois hoje em dia tá dificil congregar em qualquer uma.
Você tem razão. Estamos vivendo uma crise muito séria e,portanto, é preciso ter muito cuidado ao escolher uma igreja.
O texto não tinha intenção de banalizar a escolha, mas, de enfatizar que existem igrejas sérias e pessoas sérias. Contudo, deve-se peneirar como quem busca ouro.

obrigado pela observação!

abs,
Ricardo Rios.

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