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Quatro horas, tudo isso?

 Quatro horas, tudo isso?

 

Domingo, dia de culto, as pessoas se reúnem para adorar. A liturgia foi montada e no horário marcado são visíveis cadeiras vazias. Começa o culto e as pessoas estão com um semblante cansado, estafado, provavelmente pela semana árdua que passou.

O primeiro hino é entoado com bastante dificuldade. As vozes fatigadas não parecem se encaixar nessa ocasião tão sublime. O hino diz: “Vós, Criaturas de Deus Pai, Todos erguei a voz, cantai: Aleluia! Aleluia! Tu, sol dourado a refulgir. Tu, lua em prata a reluzir. Oh, Louvai-o! Oh, Louvai-o! Aleluia! Aleluia! Aleluia!”. O hino conclama à adoração e conclama as criaturas de Deus a ERGUEREM a voz para cantar. Mas, nesse culto fatigado, arrastado, melancólico, não há lugar para vozes que se erguem em direção ao Criador.

Passado alguns instantes, o culto continua com sua liturgia, muitos bancos ainda se encontram vazios, mas existem pessoas chegando atrasadas em ritmo acelerado e cumprimentando todos que as cercam, criando uma movimentação e uma perturbadora distração.

É anunciado que a mensagem será proclamada. Alguns a esperam com expectativa, outros olham para o relógio para marcarem a hora que começa, pois estão preocupados com a hora que termina. Tudo muito justo, pois, como dizem, “tempo é dinheiro”.

Começa a mensagem e as pessoas estão inquietas, outras conversam, muitas saem e voltam em um ritmo contínuo. Em alguns casos, durante a mensagem, alguns comentam sobre os temas apresentados ou observam os erros do pregador, para dar seqüência às críticas que já foram feitas aos hinos e aos cânticos que foram entoados. Aliás, há pessoas que não têm um mínimo de conhecimento na área musical, mas que são exímios críticos de música. Bom, voltemos ao sermão, que foi pregado com bastante dificuldade devido à inquietação dos ouvintes. Enfim, terminou. - Ufa!  Exclamam alguns.   - Até que enfim acabou!  Falam outros... - Vamos para casa! Que bom! As pessoas estão felizes, pois retornarão para suas casas e falarão com os amigos no salão da igreja.

Esse ritual é repetido domingo a domingo. Na Escola Bíblica, é a mesma coisa, ausências, frieza, cansaço, fadiga. Quando o pregador ou o professor manda abrir a Bíblia, em um ato mecânico, muitas pessoas lêem de modo passivo, inerte, sem vida. Parece que existe uma rejeição à Palavra de Deus e um cansaço de ser crente.  As pessoas acham muito doarem duas horas e meia pela manhã e uma hora e meia pela noite aos domingos, totalizando quatro horas! Isso mesmo, quatro horas é o tempo que dedicamos exclusivamente a Deus durante a semana.

 Muitos contam os minutos para acabar o culto ou a programação. Ai do pregador que terminar depois da hora! Afinal, quatro horas é muito tempo. Temos que cumprir o horário, diz outro. É justo que se cumpra o horário e que busquemos ordem no culto e nas programações, pois os crentes são ordeiros. O que incomoda é a intransigência. O que incomoda são as pessoas que retiram todos os aspectos bons do culto, da mensagem, dos estudos, por conta do horário. Sãos os novos tempos. O tempo fast Worship – é o famoso culto drive-thru. Não querem nem descer para sentar, pois   “tempo é dinheiro”. Nesses casos, temos que avaliar a temperatura da fé do irmão. 

Pontuemos a nossa análise. O problema não está em cumprirmos os horários. O problema não se encontra no ritual do culto e de sua liturgia, mas no prazer que temos nisso. O prazer que temos na Palavra de Deus, em louvarmos o seu nome, ouvirmos a sua voz por intermédio da Palavra. Ah, queridos, temos perdido esse prazer. Estamos mecanizados, forjados pelo mundanismo e secularismo, a tal ponto, que, se pudéssemos, reduziríamos mais esses momentos de adoração.

Temos que nos cuidar, pois a rejeição à Palavra de Deus é perigosa. “Aqueles que se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-los” (João Calvino, As Institutas São Paulo, Casa Presbiteriana, 1985, [Rm 1.16], p. 58).

Vejamos, queridos, é uma questão simples. Como você quer passar a eternidade no céu, se não consegue passar quatro horas em adoração? Se não existe prazer nessa adoração e na Palavra de Deus? A Bíblia fala, claramente, do prazer que o crente tem na Palavra de Deus: “Terei prazer nos teus mandamentos, os quais eu amo” (Sl 119.47); “Baixem sobre mim as tuas misericórdias, para que eu viva; pois na tua lei está o meu prazer” (Sl 119.77).  “Não fosse a tua lei ter sido o meu prazer, há muito já teria eu perecido na minha angústia” (Sl 119.92); “Os teus testemunhos, recebi-os por legado perpétuo, porque me constituem o prazer do coração” (Sl 119.111); “Sobre mim vieram tribulação e angústia; todavia, os teus mandamentos são o meu prazer” (Sl 119.143); “Suspiro, SENHOR, por tua salvação; a tua lei é todo o meu prazer” (Sl 119.174) 

 Caríssimos, Deus nos livre do culto mecânico e da escravidão do relógio. Que o relógio seja um instrumento que sempre nos lembre que estamos debaixo do pecado e, por isso, não podemos no momento cultuarmos a Deus sem atentarmos para ele. Mas, que não sejamos escravos!  Sejamos pontuais, sem nos esquecermos que somos Espirituais!

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR” (Sl 122.1) “Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade” (Sl  84.10).

Que Deus nos mostre o quão pouco estamos doando a ele, e que nos faça termos prazer em Sua adoração, ou seja, a Deus, no Espírito, na Mediação de Cristo, sendo assim: fervorosa, sincera, de acordo com Suas Escrituras. Que, ao final de cada culto, fiquemos tristes, pois só nos veremos apenas no próximo domingo.

 

Quatro horas não é nada para quem deu Sua vida por nós!

 

Rev. Ricardo Rios Melo

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