Quantas vezes você ouviu a expressão de conforto: tenha ânimo! Recobre o ânimo! “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!”? Essa pequena palavra: ânimo provém do latim animu e pode significar, segundo o Aurélio, “espírito, alma, mente, gênio, índole, disposição resoluta e inalterável, em face de situações difíceis”. Pode também significar “coragem, vontade”. Então, quando alguém disser a você: recobre o ânimo! Significa para você ter coragem e seguir em frente! Contudo, uma pergunta fica no ar: quais sãos as motivações para você recobrar esse ânimo? Em que bases sólidas você deve sustentar sua coragem e seguir em frente?
Você, hipoteticamente, caiu, arranhou-se e feriu-se. Alguém fala para você aquela frase de sabedoria quase popular, “cair faz parte da vida” ou “para aprender a andar, uma criança precisa aprender a cair”. Que bonito! Que frase cheia de significado! Chegamos a nos emocionar nesse instante de “sublime sabedoria”! Todavia, a pergunta ainda persiste: qual a motivação que leva uma pessoa a se levantar após uma grande queda? Vamos exemplificar algumas possíveis motivações: marido, esposa, filhos, família, carreira, amor, dinheiro, status etc. Sem dúvidas, são grandes motivações, entretanto não garantem a mão estendida para os pés trôpegos! Todas essas coisas, por mais legítimas que sejam, são transitórias e falhas. As pessoas podem nos decepcionar e muitas vezes isso acontece. Quantas vezes nos decepcionamos com os filhos, esposa ou esposo e com as pessoas em geral. Elas, as pessoas, são falhas como nós somos. Se nossa esperança e ânimo forem motivados e alicerçados nelas, quem garante que não teremos que recobrar o ânimo logo, imediatamente após a decepção quase certa? E se o que lhe anima é o dinheiro, o status, a carreira ou coisa que o valha, quem garante que não haverá crise financeira, guerras, perdas de emprego ou coisa do gênero?
Quando imaginamos que as pessoas seguem o curso de sua vida almejando coisas, objetos, pessoas que fazem parte da efemeridade e transitoriedade da vida, isso deve gerar em nós um sentimento de estranho vazio, pois elas correm atrás do vento! Uma pessoa que seguiu sua vida conquistando objetivos: família, dinheiro, carreira, sucesso. Essa pessoa, bem sucedida, olha para o passado e diz: o que quero eu ainda? Tenho tudo! Entretanto, ainda há um estranho vazio nela.
Muitas dos que obtêm sucesso na vida admitem que vivem uma paz perturbadora. Paz perturbadora? Isso mesmo! Paz perturbadora! Obviamente, uma paz que perturba não é paz! Algumas dessas pessoas, embora tenham “tudo”, se entregam à bebedeira, às drogas, ao sexo desenfreado, aos gastos extravagantes, aos relacionamentos relâmpagos. Alguns buscam na filantropias e nas ONGs (coqueluche moderna) inspiração para viver. Não é raro vermos um “mega star” (celebridade) adotando uma criança de um país pobre. Para ajudar quem? A criança? Salvo belas exceções, muitas dessas pessoas querem se salvar da mediocridade de sua vida sem sentido. Apesar de terem tudo, não têm nada! Pois a esperança que possuem não lhes garante a paz, certeza. É bom ressaltar que somos a favor da adoção e dos gestos generosos de caridade e amor! Também fique claro que não é uma crítica pessoal.
Houve e de vez em quando há uma explosão de espiritualidade no meio dos famosos. Muitos buscam montanhas, caminhos dos mártires, gurus, chás alucinógenos e religiões desconhecidas para encontrar paz interior. São espiritualistas em busca de significado para sua existência. Ainda existem aqueles que querem congelar seus corpos para ressuscitá-los em um futuro próximo, pois acreditam que a tecnologia científica lhes garantirá esse triunfo. Em contrapartida, os espiritualistas ressurgem com força total e dizem que podemos perpetuar nossa existência com atos de bondade e caridade, pois teremos uma nova encarnação, com novas chances de acertos e erros. Contra esses, se insurgem os religiosos de plantão dizendo: não! A maneira de perpetuar a vida é fazer caridade, amor ao próximo e atos de bondade, mas, é necessário que somemos isso a atos de bondade de homens e mulheres que já morreram e intercedem por nós por já se tornarem santos! Os espiritualistas rebatem dizendo que eles não são santos, mas mentores e guias espirituais que voltam em espírito e nos ajudam a seguir o caminho da luz! Destarte, a pergunta ainda faz eco: isso é motivação para recobrarmos o ânimo? Somos levados a crer que não!
Pensando nessas motivações supracitadas, perceberemos que todas elas são frutos de um humanismo e de um antropocentrismo! Os desesperados que buscam nas drogas, sexo, bebidas e vida desregrada estão de fato fugindo de sua realidade. Não querem encarar o vazio que lhes perturba. Muitos dos que buscam as ONGs, para salvarem o planeta verde, querem na realidade se salvar. É um busca insana pela perpetuação da humanidade falida e, principalmente, de suas próprias vidas, ao encontrarem um sentido, embora falso, para viverem. A adoção de uma criança, em muitos casos, representa a salvação de sua própria vida, por isso raramente páram em uma só adoção. A busca de um lugar recluso, como é o caso de uma montanha, é uma busca pelo eu interior, ou seja, ele mesmo. Uma busca para dentro de si! O imperfeito procurando perfeição no seu interior. Mas, dentro do silêncio ensurdecedor, encontram o grito calado de suas mentes inquietas ou auto-indutivas, dizendo que estão bem ou não. Aqueles que buscam o caminho dos mártires estão buscando seu próprio caminho de justiça. Suas esperanças estão, novamente, alicerçadas em homens, pessoas. Quem lhes garante que, imitando esses mártires ou suplicando-lhes mesmo estando mortos, obterão resposta? E ao acreditar em pessoas que morreram e que, supostamente, voltam para dizer o caminho, não estão novamente confiando em homens? São espiritualistas, espirituais, ou humanistas? A idéia de um super-homem ou uma super-humanidade e perpetuação eterna do homem permeiam o imaginário da humanidade, bem antes das famosas múmias e dos humanos-deuses da mitologia grega.
São muitos os exemplos, contestações e apologias. Contudo, a única coisa certa que devemos ter como ânimo para seguir em frente é a certeza da salvação em Cristo. A certeza da vida eterna. A certeza que no final do túnel não existe uma luz, que pode ser de um caminhão vindo em nossa direção, mas a certeza que a Luz veio ao mundo e nos mostrou o caminho do céu. Jesus diz que o ânimo deve ser alicerçado não nas coisas do mundo e nas esperanças vazias do homem e no homem, mas, na certeza que Ele venceu o mundo para nos dar a vida eterna: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
A nossa motivação em continuar seguindo em frente não sãos as vitórias no mundo, mas a vitória de Cristo sobre o mundo! É melhor ser um desconhecido do mundo e conhecido de Deus, pois os que Ele conhece têm a vida eterna! Os que são apenas conhecidos no mundo, seus nomes, apesar de terem sido registrados na famosa história do mundo, não foram arrolados no Livro eterno. Um pode até viver em paz com o outro em comum acordo, mas a paz com Deus só é dada mediante Jesus Cristo!
Querido irmão, tenha ânimo!
Rev. Ricardo Rios Melo.
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