A DIFERENÇA ENTRE CRÍTICOS E REALIZADORES: UMA REFLEXÃO BÍBLICA E TEOLÓGICA
Autor: Rev. Ricardo Rios Melo
TEXTO BASE: NEEMIAS 4:1-6
"Quando Sambalate soube que estávamos reconstruindo o muro, ficou irado e ridicularizou os judeus... Contudo, oramos ao nosso Deus e colocamos guardas para proteger-nos de dia e de noite contra eles." (Neemias 4:1, 9, NVI)
INTRODUÇÃO
A oposição entre críticos e realizadores é uma constante na história humana, seja nas narrativas bíblicas ou nos acontecimentos do dia a dia. Neemias, ao reconstruir os muros de Jerusalém, enfrentou críticas severas de Sambalate e Tobias, mas perseverou. Sua história nos oferece um exemplo claro de como lidar com os desafios da liderança, o perigo da murmuração e a importância de manter o foco no serviço ao Senhor.
Esta reflexão abordará a diferença entre críticas construtivas e maledicência, o desafio de liderar pessoas insatisfeitas, a unidade do corpo de Cristo no serviço cristão e aplicações práticas para abandonar a crítica destrutiva e engajar-se em ações que glorifiquem a Deus.
1. CRÍTICA CONSTRUTIVA VERSUS MALEDICÊNCIA
A crítica construtiva, quando feita com amor, pode ser uma ferramenta poderosa para edificação. Em Provérbios 27:6, lemos: "As feridas feitas por quem ama são leais, mas os beijos de um inimigo são enganosos." Essa crítica é uma demonstração de cuidado, que busca o crescimento espiritual e moral do próximo. Contudo, ela deve ser feita em conformidade com Mateus 18:15, abordando a pessoa diretamente, em vez de recorrer à fofoca ou à exposição pública.
Em contraste, a maledicência busca destruir, motivada muitas vezes por inveja ou ressentimento. Salmos 101:5 declara: "Aquele que difama o próximo às escondidas, eu o destruirei." A maledicência não apenas prejudica quem é alvo dela, mas também corrompe o coração de quem a pratica, afastando-o da comunhão com Deus. João Calvino, em seu comentário sobre Efésios, alerta que palavras irresponsáveis e críticas vazias são instrumentos do inimigo para dividir o corpo de Cristo.
Aplicação Prática:
• Antes de criticar, analise se a sua motivação é o amor ou a autoexaltação.
• Memorize e pratique Filipenses 2:3: "Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos."
2. A LINHA TÊNUE: MURMURAÇÃO, DIFAMAÇÃO E REBELDIA
A murmuração, quando não controlada, pode levar à difamação e até à rebeldia contra as autoridades estabelecidas por Deus. Em Números 16, Corá, Datã e Abirão desafiaram a liderança de Moisés e Arão, questionando não apenas suas decisões, mas também o próprio chamado divino. Deus puniu severamente a rebeldia, mostrando que ela é uma afronta direta à Sua soberania.
A murmuração, frequentemente vista como algo menor, é uma porta aberta para a incredulidade. Martinho Lutero afirmou: "A murmuração é a linguagem dos insatisfeitos com Deus." Ao invés de murmurar, o cristão deve aprender a confiar em Deus e a submeter-se às Suas direções. Isso inclui respeitar as lideranças espirituais, orando por elas em vez de criticá-las indiscriminadamente.
Aplicação Prática:
• Substitua a murmuração pela intercessão. Ore por líderes e pela igreja local.
• Confesse a Deus atitudes de murmuração e peça-Lhe um coração grato e obediente.
3. O DESAFIO DE LIDERAR PESSOAS INSATISFEITAS
Neemias enfrentou desafios ao liderar tanto de fora quanto de dentro de sua comunidade. Os inimigos externos zombavam de sua missão, enquanto os internos desanimavam, dizendo: "Os carregadores estão perdendo as forças, e ainda há muito entulho; por nós mesmos, não conseguiremos reconstruir o muro" (Neemias 4:10). Diante disso, Neemias demonstrou liderança espiritual, encorajando o povo, confiando em Deus e tomando medidas práticas para proteger e organizar o trabalho.
Liderar pessoas insatisfeitas exige não apenas firmeza, mas também sensibilidade espiritual. Tim Keller observa que o líder cristão deve lembrar que sua aprovação vem de Deus e não dos homens. Além disso, ele destaca que líderes precisam equilibrar correção com encorajamento, para que não desmotivem aqueles que lideram. A oração de Neemias é um exemplo de dependência de Deus diante da oposição.
Aplicação Prática:
• Se você lidera, peça a Deus sabedoria e paciência para lidar com críticas e desânimos.
• Se você é liderado, evite ser uma fonte de peso para seus líderes; seja um encorajador.
4. SERVIÇO CRISTÃO: A UNIDADE DO CORPO DE CRISTO E OBRIGAÇÃO COLETIVA
O serviço cristão é um chamado universal. Paulo, em Efésios 4:12, destaca que Deus concedeu dons à igreja "para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo." Cada crente tem um papel indispensável na missão da igreja, e a negligência no serviço afeta todo o corpo.
Na Igreja Romana Medieval, o clero monopolizava as responsabilidades espirituais, enquanto os leigos eram meros espectadores. A Reforma Protestante trouxe à luz o sacerdócio universal dos crentes, promovendo a participação ativa de todos os cristãos. Calvino afirmou que "ninguém é tão insignificante que não tenha algo a oferecer para a glória de Deus." A falta de envolvimento no serviço cristão pode levar à estagnação espiritual e à crítica destrutiva.
Aplicação Prática:
• Reflita sobre seus dons e talentos e procure formas de usá-los para servir.
• Lembre-se de Romanos 12:11: "Nunca lhes falte o zelo, sejam fervorosos no espírito, sirvam ao Senhor."
5. A OBRA DA GRAÇA: FAZER AO INVÉS DE CRITICAR
Neemias foi um exemplo de realizador que confiava na graça de Deus. Ele não se deixou paralisar pelas críticas, mas continuou trabalhando e orando. Tiago 1:22 ensina: "Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos."
Os críticos frequentemente deixam de realizar por medo ou orgulho, enquanto os realizadores, capacitados por Deus, agem com coragem. Martinho Lutero, enfrentando intensas críticas, afirmou: "A fé é ativa e nunca ociosa." Ele acreditava que a verdadeira fé se manifesta em obras que glorificam a Deus.
Aplicação Prática:
• Identifique uma área na qual você tem criticado e comece a agir para transformá-la.
• Peça a Deus coragem e sabedoria para ser um realizador que edifica e glorifica Seu nome.
CONCLUSÃO
A diferença entre críticos e realizadores está na disposição de agir em resposta à graça divina. Neemias, Martinho Lutero e outros grandes líderes enfrentaram críticas, mas permaneceram firmes, confiando em Deus. Que possamos abandonar a crítica destrutiva, tirar a trave dos nossos olhos e ser servos fiéis no Reino de Deus, prontos a ouvir de Cristo: "Muito bem, servo bom e fiel!" (Mateus 25:21).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Bíblia Sagrada (NVI). São Paulo: Editora Vida.
• CALVINO, João. Comentários sobre Neemias.
• LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas.
• KELLER, Timothy. Igreja Centrada. São Paulo: Vida Nova, 2014.
• CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. Disponível em: https://monergismo.com. Acesso em: 18 jan. 2025.
• CATECISMO DE HEIDELBERG. Disponível em: https://heidelberg-catechism.com. Acesso em: 18 jan. 2025.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
• https://ccel.org. Acesso em: 18 jan. 2025.
• https://issuu.com/editorafiel/docs. Acesso em: 18 jan. 2025.
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