Fidelidade virtual é possível? Um breve arrazoado sobre os dízimos e ofertas.

 Fidelidade virtual é possível?  

Um breve arrazoado sobre os dízimos e ofertas. 


Queridos e amados irmãos, 

A Pandemia trouxe muito medo e ansiedade ao mundo. O ser humano como um ser gregário desde o princípio, precisou acostumar-se com a distância. Ficamos sem abraços, apertos de mão, calor da proximidade. 

Esse distanciamento atingiu também a igreja. Os cultos passaram a ser transmitidos pela internet. Os estudos e orações passaram a ser por plataformas de comunicação. A igreja não parou, mas precisou temporariamente funcionar apenas via internet. 

Apesar de ter funcionado inicialmente apenas pela rede, já voltamos com cultos presenciais; mas faz-se importante lembrar que a igreja continuou em todo momento com suas despesas.

No ano de 2020, pela graça de Deus, conhecemos o projeto Meninas dos Olhos de Deus no Nepal. Esse projeto resgata e, quando possível, até evita que meninas de 11 anos sejam vendidas para prostituição. Espero que você tenha acompanhado a apresentação desse projeto no Instagram e na igreja. 

A igreja precisou investir tempo e recursos para transmissão pelas mídias sociais, compra de equipamentos melhores para transmitir o som. Ainda vivemos uma curva de aprendizagem.

Nesse ano, tivemos vários pastores do Brasil e fora do Brasil participando das programações da igreja. A igreja continuou firme no trabalho. 

A fidelidade virtual foi oscilante nas programações. Ainda não está da forma desejada. Contudo, o que gostaria de chamar a atenção não é apenas para essa “fidelidade virtual”, mas, a fidelidade de manutenção. 

Muitos ficaram desempregados e sem recursos e, portanto, não puderam continuar a devolver seus dízimos e ofertas.

A arrecadação da igreja caiu nesse fim de ano e início de 2021. Quando isso acontece, temos algumas leituras. No caso desse ano de 2020, podemos verificar desemprego e dificuldades financeiras. Entretanto, uma verificação espiritual passa por outra análise. Arrecadação de igreja envolve: fidelidade e evangelização.

Quando uma igreja perde arrecadação, isso pode significar que existem pessoas infiéis nos dízimos e na evangelização. A igreja deixou de devolver seus dízimos ou deixou de evangelizar. 

2020 foi um ano difícil. Portanto, a evangelização se deu de maneira mais virtual e, portanto, limitada. Contudo, a fidelidade de alguns irmãos deixou a desejar. Será que foi por conta da COVID-19? 

Creio que não seja pela pandemia, pois infelizmente é comum no mês de janeiro e fevereiro a arrecadação da igreja cair. Muitos esquecem e outros gastam o que não lhes pertencem: o dízimo.

Há aqueles, espero que você não participe desse grupo, que entendem que o dízimo não é neotestamentário. A argumentação é que no Novo Testamento a pessoa tem que doar tudo. Portanto, nessa argumentação eles utilizam o texto de Lucas 21.1-3: 

Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. 2 Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; 3 e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. 4 Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento. Lucas 21:1-4 (ARA)

Percebam que esse texto fala de ofertas. Esse texto não fala de dízimo. Quer dizer que acabou? Não! Apenas está falando da generosidade, liberalidade da mulher contrastando-a com os ricos. Os ricos aqui são colocados como avarentos. Eles estão entregando as sobras. No Antigo Testamento, o povo constantemente caía nesse pecado de dar o pior para Deus e de até roubar o Senhor: 

6Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos. 7 Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o SENHOR dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? 8 Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. 9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. 10 Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida. 11 Por vossa causa, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos. 12 Todas as nações vos chamarão felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos.

Malaquias 3:6-12 (ARA).

Esse texto é comumente usado em prol dos dízimos e ofertas e a utilização dele é bem criticada pelos opositores ao dízimo, pois dizem que fazem parte da antiga aliança e que a maldição foi contextual. Será que a bênção também é contextual? Fica a pergunta para quem quiser responder em seu íntimo.

O fato é que aqui nós temos duas práticas conjuntas no AT: dízimos e ofertas. Portanto, a figura da oferta estava associada ao dízimo. 

Alguns advogam que o dízimo foi instituído na lei mosaica, todavia, temos sua primeira referência em Gênesis: “e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.

Gênesis 14:20 (ARA)”.

Abrão venceu a batalha dos reis e encontrou Melquisedeque, rei de Salém (Gn 14.18-24). Ele deu seu dízimo a esse rei que não tem origem e é citado em Hb 7.1-10. É, no mínimo, bastante intrigante essa atitude de Abrão. Se os dízimos são da lei mosaica, como explicar essa sua atitude? 

Vamos voltar no tempo e fazer algumas perguntas antes de continuarmos. Você já se perguntou o motivo de Deus requerer do homem que de apenas uma árvore ele não pudesse comer? Você já se perguntou o motivo de Deus separar apenas um dos sete dias da semana para ser seu? Será que ele precisaria disso? Toda criação é dele. Todos os dias são dele. Mas, aprouve a Deus estabelecer uma separação, uma seleção.

Essa separação da árvore foi feita para o homem, para que o homem tivesse a nítida certeza de que é criatura e não, criador. Qual a tentação de Satanás? Ele diz que eles serão iguais a Deus, conhecedores do bem e do mal (Gn 3.1-5). 

Uma árvore que está no jardim e que poderia ser cuidada, entretanto, seus frutos não poderiam ser usados. Todo o jardim à disposição do homem, menos um fruto de uma árvore. 

Todos os dias eram do homem. Aliás, ele vivia eternamente antes da queda, mas o Senhor reservou um dia de descanso (שׂביעי) Gn 2.1-3.

Deus precisa de descanso? Se ele se cansa, ele não é Deus. O que esse Shabat significa? Mais uma vez é para o homem lembrar de que Deus é criador de tudo. O sétimo dia representa plenitude da criação. Todas as vezes que o homem guarda o Shabat, que para os reformados é o domingo, nós anunciamos que já entramos no descanso: Cristo: 

3 Nós, porém, que cremos, entramos no descanso, conforme Deus tem dito: Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso. Embora, certamente, as obras estivessem concluídas desde a fundação do mundo. Hebreus 4:3(ARA)”

8 Porque o Filho do Homem é senhor do sábado. Mateus 12:8(ARA)”

27 E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; Marcos 2:27 (ARA)” 

Perceba que o texto de Marcos 2.27 diz que o Shabat foi feito para o homem. Deus não precisa descansar. O homem é que precisaria e precisa do descanso eterno em Cristo. O grande repouso esperado por Noé: 

Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; 29 pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou. 30

Gênesis 5:28-30 (ARA)

Deus não precisa de uma árvore. Ele não precisa de um dia. Nós é que precisamos. Mas e os dízimos? Será que ele precisa? É obvio que não. Os dízimos foram estabelecidos para lembrarmos que tudo que temos não é nosso. Todos os recursos que possuímos são do Senhor. 

Veja que os dízimos e ofertas eram das primícias: 

4 Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta;

Gênesis 4:4(ARA)

19 As primícias dos frutos da tua terra trarás à Casa do SENHOR, teu Deus. Não cozerás o cabrito no leite da sua própria mãe.

Êxodo 23:19 (ARA)

As ofertas das primícias são bem tratadas nas Escrituras. E o dízimo foi instituído com qual objetivo além de nos lembrar que somos mordomos de Deus? “Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação.

Números 18:21 (ARA)”.

Mais uma vez, o Senhor instituiu uma seleção, separação de algo tangível, para nos mostrar o intangível: tudo vem dele. Contudo, além disso, ele instituiu que os dízimos seriam os recursos que os levitas teriam. Eles que serviam ao templo deveriam viver dele. Lembrou de algum texto do Novo Testamento? “14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho;” 1 Coríntios 9:14 (ARA)

É evidente que os pregadores de hoje não são levitas. O argumento é que os recursos dos dízimos e ofertas eram para manutenção templo, do serviço e dos servidores do templo. Hoje não temos mais o templo com a mesma conotação e com os mesmos rituais, pois em Cristo tudo que era cruento, ou seja, que tinha morte e sangue, foi substituído pelo Cordeiro de Deus. 

Será que os dízimos e ofertas foram abolidos? Os detratores do dízimo dizem que agora ele é tudo aquilo que se dispuser no coração. Um dos textos clássicos utilizados é o texto escrito por Paulo aos coríntios: “ 6 E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. 7 Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” 2 Coríntios 9:6-7 (ARA). 

2Co 9.6-7 está falando da oferta aos necessitados. Aqui não fala de sustento da obra. Se seguíssemos esse raciocínio de aquilo que estiver no coração é o que a pessoa deve doar à igreja para seu sustento, a pergunta que eu faço é a seguinte: por qual motivo essas pessoas nunca ultrapassam a lei de Moisés em suas ofertas? Por que não dispõem no coração uma oferta de 10,5%, 10,1%, 20%? Sabe o motivo? O problema dos dízimos é mais que uma questão exegética, hermenêutica. 

Muitos dizem que é tudo! Mas, só dão o que lhes restam. O coração deles não ultrapassa os escribas e fariseus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”

Mateus 23:23 (ARA). Os fariseus eram hipócritas. Jesus não recrimina os dízimos, e sim, a falta de testemunho deles. 

Você lembra do texto de 1 Co 9.1-14? Vejam o texto:

1 Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor? 2 Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. 3 A minha defesa perante os que me interpelam é esta: 4 não temos nós o direito de comer e beber? 5 E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? 6 Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 7 Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? 8 Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei? 9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? 10 Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida. 11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? 12 Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo. 13 Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? 14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho; 1 Coríntios 9:1-14(ARA).

Paulo argumenta que ele tem direito de receber donativos dos coríntios, pois está previsto na lei de Moisés. Como? Na lei de Moisés? Isso mesmo! De onde mais teríamos a ideia de sustento dos obreiros se não fosse do AT? 

Um princípio hermenêutico importante para entendermos é que o Novo Testamento também foi escrito por judeus inspirados por Deus. Logo, você não verá a ideia ocidental ou moderna de literalidade de tempo. O que quero dizer com isso? Não temos as palavras: agora acabou essa parte e começa a próxima parte. Não é uma série da Netflix. Precisamos entender que existe uma continuidade e descontinuidade fluida. 

Exemplo: não tem literalmente Cristo ensinando aos judeus para pararem de sacrificar, mas tem ele partindo o pão e bebendo o cálice do vinho. Posteriormente, percebemos os apóstolos condenando a volta dos ritos antigos. 

A mesma coisa acontece com o batismo infantil, ou melhor, batismo da aliança. Não existe uma ruptura climática de Hollywood. Muitas transições são inferenciais. Algumas mudanças são nítidas, outras nem tanto. Portanto, é necessário atenção. 

Até o momento, entendemos que a árvore e o Shabat foram instituídos com a intenção de lembrar ao homem que tudo vem de Deus! Mostram a graça de Deus, sua misericórdia, soberania. 

Com o dízimo não é diferente. Ele não acrescenta riquezas para Deus, pois Ele é o criador e dono de tudo que existe. Mas, é por intermédio dos dízimos e das ofertas que Deus mantém sua obra e seu obreiros. 

Se ainda você não concordar com os dízimos e ofertas e achar que o Novo Testamento se refere a tudo o que dispuser no coração, eu faço um desafio para você: disponha acima da Antiga Aliança, ou seja, mais de 10%. Caso contrário, creio que parecerá que seu problema não é fidelidade bíblica, mas, infidelidade com Aquele que te deu e te dá tudo o que tens! 

A pandemia jogou todo mundo para internet. Isso gerou depressão, ansiedade, síndrome do pânico e, infelizmente, infidelidade ao bondoso Deus. A igreja precisa ser mantida. A obra precisa ser mantida. Como o quê? Likes? Dislikes? Compartilhamento de link? Não. A igreja vive dos recursos alçados ao Senhor, por intermédio dos dízimos e ofertas. 

A Igreja Presbiteriana do Brasil os tem previstos em sua Constituição, portanto, meu último argumento é institucional. Você pode concordar ou discordar dos dízimos, mas, como membro da IPB, você deve se submeter. 

Espero que você tenha gostado do texto. Se gostou deixa seu like? Não! Seja dizimista e ofertante ao Senhor. Sustente o trabalho da igreja com oração, trabalho e recursos financeiros. 

Não está podendo ir aos cultos presencialmente por pertencer a grupo de risco? Deus abençoe que logo, logo, essa chuva passará. Enquanto a tempestade não passa, mantenha financeiramente o lugar que te alimenta com a Palavra de Deus! 

33 Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome, 34 porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Lucas 12:33-34 (ARA)


Atenciosamente, 

Rev. Ricardo Rios Melo

Comentários

Anônimo disse…
Continue firme Pastor...
Perfeito !

SHALOM

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