Uma
igreja relevante
Há muito se fala de que a igreja precisa ser
relevante. Arautos da Teologia da Missão Integral dizem que a igreja
tradicional perdeu sua relevância. Perdeu seu papel na sociedade. A questão
inicial é que a relevância da igreja é essencial, substancial. Ela procede
inequivocamente do desejo de Deus de construir sua igreja. Portanto, sua relevância
procede de Deus.
Para não ser leviano, devemos admitir que o que
a teologia da missão integral e afins querem dizer é que a instituição humana igreja
(como denominação humana) perdeu sua eficácia na sociedade.
Em artigo bastante instigante, o diretor de
programas da Visão Mundial, Maurício J.S. Cunha, nos faz a seguinte pergunta:
Uma pergunta que cabe a todos nós, especialmente aos líderes
eclesiásticos é: se sua igreja, num piscar de olhos, desaparecesse da
comunidade onde está inserida, o que a comunidade ao redor ia achar disso? Infelizmente,
a resposta sincera a esta pergunta denunciaria a quase completa irrelevância de
grande parte das comunidades cristãs, quando não um testemunho comunitário
negativo. Será esta a nossa vocação? Devemos nos contentar com esta situação? Uma
igreja relevante é assim reconhecida pela comunidade onde está inserida.
(Cunha, Maurício J.S; http://ultimato.com.br/sites/paralelo10/2009/09/igreja-relevante-parte-i/
- acesso 06/04/2018).
Percebam que a pergunta é extremamente perturbadora. Ela nos
remete, no mínimo, a duas perguntas existenciais: 1. Quem somos; 2. O que
fazemos.
Biblicamente, a igreja
tem o sentido de assembleia de pecadores que foram chamados e redimidos em
Cristo. Em outro arrazoado, já foi
tratada a significação da ideia de igreja:
Nas Escrituras, a palavra igreja está associada a
grupo, assembleia, corpo, reunião de pessoas. O apóstolo Paulo diz que nós
somos o corpo e Cristo é a cabeça: 1 Co 12,27; Ef 3.6; Ef 4.12,16; Cl
1.18; 2. 19. O Novo Testamento tem no mínimo 73 citações diretas e 74 indiretas
com o nome igreja. Como não existe exército de um homem só, não existe igreja
de um homem só. Eu não sou a igreja. Você não é a igreja, mas nós juntos
somos a igreja. Igreja implica conjunto e pluralidade. A Bíblia afirma
categoricamente que foi pela igreja que Cristo, vero homem e vero Deus, morreu:
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue” 20:28.
Muitos confundem igreja com prédio. É verdade que a
igreja não está vinculada a um prédio ou edifício de tijolo. Nós somos os
tijolinhos de Cristo. Separados somos tijolos, juntos somos o edifício que Deus
está formando sobre o fundamento, a Rocha que é Cristo. Parafraseando uma
ilustração que ouvi de Joel Beeke, a igreja assemelha-se a uma grande
construção: há pregos soltos, entulho, vigas, paredes sem reboco, escadas,
andaimes, pouca coisa leva a acreditar que aquela obra empoeirada será um lindo
edifício. Contudo, mesmo no meio de tudo isso, Cristo está edificando sua
igreja. O noivo vê sua noiva linda e majestosa, imaculada, sem rugas: “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem
coisa semelhante, porém santa e sem defeito” Ef 5:27. (Melo. Ricardo Rios, http://arrazoar.blogspot.com.br/2014/08/o-crente-nao-praticante.html
, acesso em 06/04/2018).
Vamos discutir o
que somos e o que fazemos. Quem define o que somos é o próprio Deus. Somos o
corpo de Cristo. A igreja é a noiva de Cristo e tem sua relevância proposta pelo
próprio Deus. O que fazemos? Somos chamados para adoração ao nosso Deus. O
nosso Catecismo Maior de Westminster nos diz em sua primeira pergunta: “1. Qual é o fim supremo
e principal do homem? O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e
gozá-lo para sempre. Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22-24.”
O objetivo da
igreja é prestar culto público, solene e culto individual dos que foram chamados
das trevas para luz. Sendo essas perguntas respondidas de maneira sucinta, devemos
nos perguntar: se a Igreja Presbiteriana Memorial da Barra, que completa 29
anos de existência, fechasse as portas hoje, que falta ela faria nesse bairro e
na cidade de Salvador?
A resposta tem dois
fatores: o fechamento de uma igreja em determinado lugar significa, em última
instância, juízo de Deus ao seu povo, no sentido de que Deus está disciplinando
seu povo e, de maneira indireta, enviando juízo para as pessoas que moram nessa
região, pois Deus os entregou às trevas.
É claro que essa
observação está no âmbito da essência da expressão igreja, e não na instituição
humana. Contudo, Deus manifesta sua vontade espiritual na realidade humana. Países
em que o Evangelho não pode ser pregado são países que estão debaixo do juízo de
Deus.
Quando uma igreja que
é fiel e que se mantém depositária da fé, que de uma vez por todas foi entregue
aos santos, é fechada em algum lugar, isso significa juízo de Deus para aquele
local. Mas, quando uma igreja infiel é fechada, é juízo para o povo de Deus.
Em um momento de
alegria que vivemos pelo aniversário da igreja que faz 29 anos, precisamos nos
perguntar no sentido bíblico: estamos sendo uma fiel depositária da fé? Estamos
pregando o evangelho da graça? Estamos firmes no propósito de nos mantermos
santos em um mundo caído? Essa resposta tem sido respondida positivamente ao
longo do tempo de existência da igreja Presbiteriana Memorial da Barra.
O evangelho não foi
negociado e vidas têm sido edificadas nesse local. Defeitos, erros, pecados acontecem
na nossa trajetória, mas o arrependimento e a busca por andar fielmente por
Deus tem sido a marca de nossa Igreja.
Portanto, voltando à
pergunta da relevância, a resposta é que a igreja não tem dentro do seu papel principal
ser conhecida em um bairro pela sua ação social, mesmo que isso seja
importante. A igreja não tem sua relevância em seu papel civil nas lutas contra
as injustiças sociais, mesmo que isso também tenha sua relevância. O papel da
noiva é se apresentar ao noivo em fidelidade.
Em Atos, Lucas nos
revela alguns aspectos interessantes: “louvando a Deus e contando com a simpatia de
todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam
sendo salvos”
At. 2.16, 47. Lucas revela que a igreja crescia, mantinha-se firme na doutrina
dos apóstolos e, nesse versículo específico, diz que a igreja louvava a Deus e
contava com a simpatia do povo.
A expressão
simpatia (χαρις
charis) significa graça, aquilo que dá alegria, deleite, prazer, doçura,
charme, amabilidade. Lucas revela que a igreja contava com a simpatia. Não existia
ainda oposição à igreja: “Os cristãos não enfrentam ainda nenhuma
oposição da parte do povo judeu em geral, nem de seus líderes religiosos em
particular. A vida deles é exemplar, de forma que, por meio de sua conduta,
eles podem conduzir outros a Cristo”[1].
O livro de Atos nos
revelar que essa simpatia inicial dos judeus, paulatinamente, vai se
transformando em oposição. Portanto, parece que a ênfase de Lucas está no
procedimento santo da igreja e não na influência social ou cultural. Lucas trabalha
com a tese de que Deus está guiando a igreja e acrescentando os seus. O Espírito
Santo está dirigindo sua igreja.
Portanto, usar esse
texto como uma regra a seguir, no sentido de que sempre a igreja terá a simpatia
da sociedade, é uma falácia; pois a oposição ao Evangelho é algo que deve ser
esperado.
Isso também não
significa que temos que contar com a antipatia do povo. Mas, não devemos criar
uma tese de que a igreja precisa ser aceita pela sociedade.
Dito isso, pensemos
nesses 29 anos dentro do propósito principal da igreja: adoração, proclamação,
edificação, santificação. É muito bom sermos reconhecidos e respeitados pelos
nossos vizinhos. É imperativo que tenhamos bom testemunho, contudo a nossa essência
é determinada por Deus e seu propósito para igreja.
Não é a sociedade
que dirá se somos relevantes ou não. A Genebra de Calvino não mudou por conta
de suas ênfases sociais. Sua relevância na vida social veio da redescoberta da essência
cúltica da igreja.
Enquanto a IPB
Memorial da Barra estiver no propósito santo de Deus para sua igreja, seremos
relevantes, pois continuamos sendo igreja. A igreja só deixa de ser relevante
quando ela deixa de ser igreja.
Se a Igreja Memorial
saísse do nosso bairro, o que aconteceria? Espero que, a essa altura, você saiba
a resposta.
Feliz aniversário,
IP Memorial da Barra!
Rev. Ricardo Rios
Melo
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