Uma sociedade pós-cristã e a agonia
cristã
Rev. Ricardo Rios Melo
Credita-se, de maneira adequada, a expressão
Agonia Cristã, a Miguel de Unamuno: "Por agonia, Unamuno entendia a luta,
o combate entre a vida e a morte, que tanto pode caracterizar o moribundo
como quem se situa numa atitude combativa no confronto paradoxal e contraditório
com o adversário, que pode ser exterior ou interior ao homem, a uma
instituição, a uma cultura, neste caso, ao cristianismo” (https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB0QFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.dehonianos.org%2Fpublic%2Ffile%2FAssembleiaParocos-LugaresFe.pdf&ei=jOKOVZ7lNMzw-AGUoYHIDA&usg=AFQjCNF1Hw2-jt7gsp3xRV1rJhXgVYoSAQ&sig2=0bD_4BwDsohuCmd2VBn0iw).
Existe um
crescente ataque a todos os valores e bandeiras cristãs. Na realidade, parece
que existe uma fúria desesperada tentando por todos os meios extirpar qualquer
vestígio cristão da sociedade. Bom, até aqui, nada de novo sobre a terra. Entretanto,
o que nos chama a atenção é a reação dos cristãos a tudo isso.
Parece que os
inimigos da fé cristã chamaram os fiéis para um embate onde eles escolheram as
armas e os cristãos, por sua vez, caíram na asneira de entrar nessa batalha. A luta
não é apenas ideológica, mas da tão famosa cosmovisão. A agonia cristã, usando
a expressão de Unamuno, mesmo correndo o risco calculado de não expressar a verdadeira
essência do autor, levou os cristãos de diversas confissões que se unem, muitas
vezes, apenas no nome: Cristão, a usarem uma espada forjada pelo inimigo falaz.
Quando se entra em um jogo onde as regras, o campo,
o juiz e a bola são do adversário, a vitória é
impossível. Colocaram na cabeça de muitos cristãos que nossas lutas são
apenas políticas e ideológicas, mas a Bíblia nos diz que nossa luta não é
contra carne e sangue: “Revesti-vos
de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do
diabo” (Ef 6.11); com isso não estou dizendo que não devemos lutar
politicamente, afinal de contas, somos seres politizados e devemos exercer
nossa função social. O que estou falando é a limitação cristã. O grito
desesperado por justiça a quem não pode praticar a justiça fora de suas amarras
epistêmicas e espirituais. Pedi a um gato para latir ou a um cachorro para miar
é simplesmente impossível. O pior é pedir e esperar que isso aconteça: Mt 7:16 Pelos seus
frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos
abrolhos?
Bandeiras,
gritos, alvoroços; há muito a sociedade decretou guerra ao cristianismo. Isso não
foi no século XXI, foi no primeiro século, quando crucificaram o Senhor da
glória. Chamar a sociedade de pós-cristã
é uma pontuação acadêmica e filosófica; o que nossa sociedade sempre foi e,
infelizmente, sempre será, é anticristã.
É claro
que nos indignamos, escandalizamos, sofremos com a veloz escalada da impiedade
no mundo em todas as áreas. Acho que não se indignar com tantas coisas
acontecendo é a mesma coisa de achar normal uma criança jogada na calçada,
drogada, comendo lixo e achar que faz parte da paisagem; contudo, a reação a
isso demostra mais que uma identidade, mostra a gênese do nosso pensamento.
Permita-me
uma pequena história ilustrativa: um menino ver outro passando na rua e, por
não gostar de ninguém passando na rua que é dele, afinal de contas sempre
brincou ali, ele lança pedras no garoto. O garoto, por sua vez, entende que
aquela rua é de todos e devolve as pedradas. Uma senhora chega à rua e percebe que
não pode passar, pois há uma guerra de pedras. A questão agora para essa
senhora é a seguinte: manda parar de jogar pedras um no outro? Juntar-se a uma
das partes? Ou simplesmente procurar outra rua? A senhora, que já estava
habituada com esse tipo de conflito, resolve pedir um “cessar fogo” e entender as
partes para uma possível conciliação. Depois de ouvir os dois lados, ela
decide: vocês dois tem razão. Podem continuar a lutar. Ela então pega outra rua
mais longa e estreita e, pensando intensamente no ocorrido, refletiu: acho,
pensou ela, que a questão não era a rua, mas o coração egoísta daqueles
meninos. Se quisessem compartilhar, não estariam lançando pedras. Entretanto,
mais adiante, ela refletiu mais ainda: se eu não fosse tão egoísta, eu não
teria seguido outra rua e os deixado brigar. Eu tinha uma visão mais
privilegiada e não usei.
Bom,
toda história tem seus limites. O papel do crente não é desviar-se dos
conflitos, mas saber em que lugar ele está. Qual é o seu papel em cada
conflito. Lutemos, mas com as armas corretas. Não troquemos pedras por pedras e
nem nos desviemos do caminho: “não vos vingueis a vós mesmos,
amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança;
eu é que retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário,
se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber;
porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes
vencer do mal, mas vence o mal com o bem (Rm 12. 19-21).
Afinal
de contas a nossa luta não é contra os seres humanos! Não lutamos contra o próximo,
mas precisamos enxergar que por detrás de toda ação maligna, existe o Maligno e
a malignidade do pecado. Esperar água doce de fonte salgada não é bíblico. Portanto,
acredito que a luta cristã é a mesma do primeiro século. A diferença é que, a
medida que o tempo se aproxima, as
coisas tendem a piorar para o cristianismo. Mas, que venham as arenas, que
soltem os leões, que venham as fogueiras, as forcas, os paredões, pois se
perseguiram nosso Senhor, quanto mais a nós outros. “Lembrai-vos da palavra que eu vos
disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também
perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a
vossa” Jo 15:20. “Ora, todos
quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” 2Tm 3:12.
Filosoficamente,
podemos concordar com as afirmações de um mundo pós-cristão, contudo, falemos a
verdade, o mundo sempre foi e sempre será contra o Senhor e o seu Ungido
(Cristo). Não me espanta as investidas
de Satanás; fico indignado, triste e preocupado com a próxima geração, mas
surpreso, não!
A minha
surpresa é com a ingenuidade dos crentes e a falta de percepção
cosmológica. A esperança de muitos
crentes em instituições falidas e demagogas. A reação pragmática de alguns
líderes evangélicos. A acomodação denominacional. O modismo oportunista de
alguns ícones (ídolos); a resposta barata ao óbvio mundanismo.
Parece
que vestir o cristianismo de uma roupa filosófica o faz mais significativo para
o homem pós-moderno ou pós-cristão. Entretanto, sinceramente, a filosofia
cristã é muito mais que uma filosofia apenas, ela tem sua raiz nos Céus, no
trono de Deus. Portanto, não se pode pensar que estamos lutando uma batalha
apenas acadêmica e política: “Porque,
embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as
armas da nossa milícia não são carnais, e sim, poderosas em
Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda
altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo
pensamento à obediência de Cristo, e estando
prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão (2 Co 10. 3-6).
Perceba
querido leitor, eu sou apaixonado pela filosofia e o conhecimento humano,
todavia não me engando com relação a extensão do pecado original. O homem foi
afetado tão profundamente pelo pecado que sua cosmovisão ou epistemologia,
usando uma linguagem filosófica, foi contaminada pelo pecado. Portanto, pedir a
uma pessoa que não nasceu da água do Espírito (Jo 3) para entender o que se
discerne espiritualmente, é falta de discernimento: Ora, o homem
natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1. Co 2.14).
Termino
esse arrazoado com tristeza pela escalada anticristã em todas as áreas no
mundo, pois isso significa que a mensagem da Cruz não alcançou os corações
dessas pessoas, mas, ao mesmo tempo, tenho o meu coração tranquilo de que tudo
está debaixo do controle daquele que faz todas as cosias segundo o conselho de
sua vontade: “nele, digo, no qual fomos também feitos
herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade (Ef 1.11).
Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não
de nós. Em tudo somos atribulados, porém não
angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não
desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer
de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós,
que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também
a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal (2 Co 4. 7-11).
Deus nos proteja!
Rev. Ricardo Rios Melo
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Entretanto, para nós que fomos separados pelo Senhor, as durezas desse mundo nos lembram que estamos aqui de passagem, porém enquanto estivermos aqui temos vários compromissos a cumprir, sendo o principal deles é ser discípulo do Senhor.