Mãe, a culpa é do Joãozinho
Quantas vezes ouvimos essa história? Em minha
época de criança, era muito comum contar histórias engraçadas com o nome de Joãozinho.
Ele sempre levava a culpa de qualquer confusão.
Quando somos crianças, é bem natural ouvirmos
os nossos pais nos confortarem quando batemos a cabeça na parede ou mesa: - mesa
feia! Vamos bater nela. Pôu, pôu!
Vamos crescendo, e a culpa continua sendo do
outro. Se eu bater em alguém, é porque ele me provocou. Se eu me irrito, é
porque fulano é irritante. Se eu me atraso, a culpa é do trânsito ou do
transporte. Se eu faço uma prova ruim, a culpa é do professor que é muito
exigente. Somos sempre reagentes. Nunca agentes de nossos atos.
Alguns assassinos e ladrões, ao serem
perguntados sobre o porquê de suas ações malévolas, ecoarão o bordão: “a
ocasião faz o ladrão”. Os corruptos falarão do sistema.
O fato é que reconhecer o nosso desejo e,
consequentemente, a culpa por atitudes ruins ou falhas é penoso! Muitas vezes,
doloroso! É difícil pedir perdão. Reconhecer a incompletude é extremamente
doloroso e desestruturante. Admitir que o EU é agente ativo nas relações e ações
é lidar com a mais profunda agonia humana: a agonia da queda adâmica; a perda
do Éden e, principalmente, o afastamento do Criador.
Esse fato na gênese antropológica foi tão
pesado aos nossos pais (Adão e Eva) que eles se esconderam da presença de Deus
(Gn 3.8). Eles sabiam que estavam errados, mas, ao serem perguntados
individualmente, cada um culpou a outrem. Adão disse: “Então, disse o homem: A mulher que me deste
por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3.12). “Eva respondeu: Respondeu a mulher: A
serpente me enganou, e eu comi” (Gn 12.13).
Para Adão, a culpa foi da mulher
que Deus deu a ele. Dentro do nexo causaI, ele está atribuindo a culpa a Deus. Para
a mulher, a culpa é da astúcia da serpente. A resposta de Deus foi individualizada,
pois puniu o homem, a mulher e a serpente. Ninguém ficou de fora! Apesar de
Adão ser o representante federal, Deus não inocentou os culpados (Naum 1.3).
Em um episódio posterior, Gênesis
4.7, Deus diz a Caim: “o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre
dominá-lo”. O desejo é o impulsionador! Caim não poderia culpar seu
irmão ou a Deus pelo seu desejo maligno: “De onde
procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que
militam na vossa carne?” (Tg. 4.1).
O Senhor Jesus diz que é do coração que
procede todo o mau desígnio: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os
maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios” (Mc 7.21).
Portanto, a culpa é nossa. O desejo é nosso. A
ação é nossa. Deus responsabilizará o homem individualmente: “Como está
escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e
toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si
mesmo a Deus” (Rm 14. 11,12).
Fora das paredes da igreja, é bem
comum essa atitude: “eu não sou crente por causa de um amigo e dos ‘pastores’
ladrões que existem” – “ser crente como fulano, eu não quero ser!”
O problema é que dentro das
igrejas residem pecadores em processo de santificação que agem da mesma forma. A
culpa de seus maus atos é sempre externa: da liderança, igreja, irmãos. Se eu
não sou ativo na igreja, a culpa é da igreja que não estimula ou descobre os
meus dons; se eu não frequento a igreja com regularidade, a culpa é da igreja
que é fria; se andamos frios na fé, a culpa é do pastor que não é um bom pastor
ou da liderança que não visita o pobre coitado.
Muitos naquele dia,
provavelmente, falarão: Senhor eu perdi a fé por causa do pastor que você
colocou na igreja. Eu fiquei fraco por causa do irmão que o Senhor colocou para
sentar ao meu lado na igreja.
Ah, queridos! Encarar a realidade
é difícil! Admitir que eu sou responsável pelos meus desejos e atos é duro! É melhor
culpar a parede! É melhor dizer que a culpa é de Joãozinho!
Entretanto, na vida, de modo
geral, essa atitude reflete falta de maturidade e de recursos emocionais mais profundos
e elaborados. Culpar o outro em um emprego não salvará sua cabeça; antes, demonstra
sua total inabilidade de assumir o que faz! Traduz a infantilidade e inadequação
ao serviço. Dentro das relações humanas, revela um comportamento esquivo e
gerador de conflitos.
O pior de tudo é que esse
comportamento pode enganar muita gente, mas Deus sabe que você está nu! Não adianta
apelar para o Joãozinho!
Deus nos faça crescer!
Rev. Ricardo Rios Melo
Comentários
reparei que aqui há uma pessoa artista,e como aprecio pessoas com arte
fiquei mais um pouco para ver melhor.
Posso dizer que gostei do que li e vi desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.