Pular para o conteúdo principal

O ano novo e a materialização da fé

O ano novo e a materialização da fé
Ano novo chegando. Novas perspectivas, promessas, projetos, sonhos, dietas, quebra de vícios e a velha canção: “adeus ano velho, feliz ano novo, (...) muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender”. Vindas da cosmovisão do homem caído e destituído da glória de Deus, não há novidade nessas esperanças terrenas. Aliás, essas esperanças em si mesmas não são problemáticas.
O que tem demandado atenção é o que as pessoas que se autodenominam cristãs têm creditado como esperança de ano novo. Recentemente, em uma rádio dita evangélica, escutei a seguinte entrevista: “- O que você conseguiu?” (pergunta o locutor). “- Eu nunca tive um carro e consegui nessa campanha” (fala o entrevistado). A programação continuou e as pessoas começaram a dizer que não tinham casa e conseguiram-na, não tinham uma empresa e conseguiram-na etc.
Esse tipo de programa confronta, de maneira muito clara, a “programação” apostólica, pois os discípulos tinham tudo e Jesus disse que eles iriam perder tudo nessa vida para ganhar na vida vindoura: “E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna” (Mt 19:29). Na vida eterna!
Jesus confronta o jovem rico dizendo a ele para doar tudo e receber um tesouro que está nos céus: “Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me” ( Lc 18.22 ).
A Bíblia fala de recompensas celestiais, eternas, enquanto muitos procuram bênçãos terrenas.  Enquanto a Palavra de Deus fala de Novos Céus e Nova terra, as pessoas estão querendo transformar, já no presente, esse mundo caído em um paraíso antropocêntrico: mansões, casas, carros, dinheiro etc.
No Evangelho de João, Jesus fala sobre a Sua ressurreição e aparecimento aos discípulos: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.29). 
Nitidamente, o Evangelho autêntico privilegia a fé que crê apesar das aparências. Contudo, um novo evangelho tem sido pregado, o evangelho que prima pela aparência, pelos sinais, prodígios. O “evangelho” contemporâneo tem enfatizado as sensações, sentimentos e os sentidos humanos: audição, visão, olfato, tátil – é a sinestesia da fé! Uma fé que precisa ser provada pelo Criador dela. A fé contemporânea tenta colocar Deus em cheque: “Mostre poder, maravilhas, riquezas ao seu povo!”. Entretanto, Jesus disse: “Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. E, deixando-os, retirou-se” (Mt 16.4). 
Talvez esse contraste, que ora apresentamos, seja chover no molhado, pois é muito claro o distanciamento desse tipo de mensagem hodierna do Evangelho de Jesus. O evangelho pregado por alguns pregadores modernos é um evangelho capitalista selvagem.
Entretanto, onde ficam as igrejas históricas nisso tudo? Onde ficam os crentes herdeiros da reforma protestante? Onde você fica nisso tudo? Caro irmão, amigo, se você apenas projetou para o próximo ano a compra de um carro novo, casa, troca de emprego, viagens etc., você não é tão diferente das pessoas que fazem correntes de fé e que tentam acorrentar Deus em seus desejos mundanos: “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.3). Talvez você seja diferente na forma, mas não na essência.
Ah, queridos! Que bom será se pudermos falar, nesse ano, ao sermos perguntados sobre o que ganhamos nesse ano, que aumentamos a fé; humilhamos nosso orgulho; estamos mais comprometidos com Deus e com a igreja local; doamos mais nossa vida e bens para o próximo e ao serviço a Deus; glorificamos a Deus nos sofrimentos pelo seu nome; temos guardado a fé que foi entregue de uma vez só aos santos. Temos acumulado autonegação e fitado os olhos em Cristo. Temos pensado nas coisas lá do alto! Estamos prontos, Senhor, para sua volta! Estamos prontos para sermos levados! Temos amado mais a Deus e ao próximo!
Não se esqueçam da mulher de Ló! Não se deixem enganar pelas festas e pelas guloseimas do mundo, pois nos tempos de Noé eles comiam, bebiam e se davam em casamento! (Mt 24.37,38). Lembrem-se de que os gentios é que buscam comida, roupa, riquezas do mundo. “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6. 31-34).
Lembremo-nos sempre que a fé é racional e, por muitas vezes, suprarracional. Ela perpassa toda a nossa vida e faz parte do nosso ser, pois ela modifica a nossa percepção, a nossa cosmovisão. Portanto ela é real. Mas, como disse o apóstolo Paulo, ela não é de todos! “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós; e para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos(2 Ts 3.1, 2).
Feliz ano novo! Bons projetos!
Rev. Ricardo Rios Melo








Comentários

Leandro Andrade disse…
Parabens meu irmão, muito bom esse texto.

Postagens mais visitadas deste blog

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno Por: rev. Ricardo Rios Melo Essa frase ficou consagrada na canção de Caetano Veloso, “Alegria, Alegria”, lançada em plena ditadura no ano de 1960. A música fazia uma crítica inteligente ao sistema ditatorial e aos seus efeitos devastadores na sociedade da época. Era um período difícil em que falar contra o regime imposto era perigoso e, em muitos casos, mortal. Destarte, a minha intenção é usar apenas a frase da música “sem lenço e sem documento”. Essa expressão retrata a ideia de alguém que anda sem objetos importantes para sair de casa na época da escrita. Hoje, ainda é importante sair com o documento de identidade. Alguns acrescentariam celular e acessórios; contudo, a identificação de uma pessoa ainda é uma exigência legal. Andar sem uma identificação é sempre perigoso. Se uma autoridade pará-lo, você poderá ter sérios problemas. É como dirigir um carro sem habilitação. Você pode até saber dirigir, mas você...

“Águas passadas não movem moinho”

“Águas passadas não movem moinho” Por Rev. Ricardo Rios Melo Esse ditado popular: “Águas passadas não movem moinho” é bem antigo. Retrata a ideia, como diz minha sabia avó, de que, quando alguém bate em sua porta, você não pergunta: “quem era?”; antes, “quem é”.   Parece mostrar-nos que o passado não tem importância ou, pelo menos, não deve ser um obstáculo para andarmos para frente em direção ao futuro. É claro que o passado tem importância e que não se apaga uma história. Contudo, não devemos exagerar na interpretação desse ditado; apenas usá-lo com o intuito de significar a necessidade de prosseguir em frente, a despeito de qualquer dificuldade que se tenha passado. Apesar de esse adágio servir para estimular muita gente ao longo da vida, isso parece não ser levado em conta quando alguém se converte a Cristo. É comum as pessoas falarem: “Fulano se converteu? Não acredito! Ele era a pior pessoa do mundo. Como ele pôde se converter?” O mundo pode aceitar e encobr...

Onde estão nossas lágrimas?

Há muito, “num relatório da Conferência Estudantil Missionária de 1900, há no apêndice uma declaração: CASO houvesse um único cristão no mundo e ele trabalhasse e orasse durante um ano para conquistar um amigo para Cristo, e CASO, então, essas duas pessoas continuassem a cada ano a conquistar mais uma pessoa, e “CASO cada pessoa que também foi trazida ao reino conduzisse a cada ano uma outra pessoa a Cristo”. A progressão matemática revelou que ao final de 31 anos haveria mais de dois bilhões de cristãos. Alguns talvez duvidem da validade dos cálculos, os quais estão inteiramente fora do domínio das leis da probabilidade ou das promessas da Palavra de Deus. Outros talvez questionem o acerto de um cálculo que parece levar em conta que todos os que se tornarem cristãos estarão vivendo durante todo aquele período de 31 anos, embora saibamos que aproximadamente um trigésimo da população da terra morre a cada ano. Deixando tais indagações de lado, quero simplesmente considerar o princípi...