Pular para o conteúdo principal

“Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra”

Colossenses 3:2

Rev. Ricardo Rios Melo

Como é fácil sermos iludidos pela cosmovisão mundana. Parece muitas vezes que estamos participando de um “cabo de guerra” e a corda da brincadeira somos nós. Levados de um extremo ao outro. Pior, somos levados por nossa carnalidade ou por falta de ouvirmos o Espírito e darmos ouvidos às astutas ciladas do diabo (Ef 6.11).

Dr. Lloyd Jones diz-nos que há, pelo menos, duas maneiras do mundanismo se manifestar: quando damos ouvidos à sabedoria do mundo em lugar da sabedoria de Deus revelada em Suas Escrituras ou quando somos dominados por aquilo que é lícito. Para melhor entendermos a segunda forma, veja o que Jones nos diz:

“Há, porém, outra maneira pela qual a mudaneidade se manifesta. Tudo neste mundo tem sido dado por Deus, e é destinado para o nosso uso. Na verdade, tudo é destinado para nosso desfrute. Tudo é feito e criado por Deus, e assim sendo, obviamente todas as coisas não apenas são boas, como também são legítimas para o cristão. O uso destas coisas se torna mundano quando permitimos que aquilo que é correto e legítimo consuma demasiadamente o nosso tempo, a nossa atenção, o nosso interesse e o nosso entusiasmo. Isso se aplica à literatura, à arte, à música, às diversões – qualquer coisa que possamos imaginar. (..) o cristão não deve privar-se delas; não deve segregar-se e sair da vida; não tem por que dizer que não se interessa pela cultura geral, pelas coisas dadas por Deus. Todas as habilidades, todo poder que o homem já exerceu, todas essas coisas vêm de Deus, em última instância. Tudo que é produzido por estes poderes é reto em si mesmo, a menos, é claro, que seja dirigido a propósitos e usos pecaminosos. Mas passa a ser mundanismo se nos absorve demais. Se o meu interesse por estas coisas se tornar central em minha vida e tomar o primeiro lugar, ou eliminar o espiritual e a minha concentração no eterno, serei culpado de mundanismo.”[1]

Estamos sendo atacados pelas duas formas de mundanismo de maneira muito forte. Já não pensamos como as Escrituras em coisas corriqueiras da igreja:

· No tratamento com os irmãos, muitas vezes somos egoístas e grosseiros e hipócritas e não seguimos as orientações das Escrituras: Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (MT 5.23,24). “Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão (Mt 18:15);

· Nas resoluções da vida somos altamente secularistas;

· Em relação ao sustento da igreja e dos que vivem dela, pensamos sempre no mínimo necessário ou que as pessoas devam passar necessidades para experimentarem a verdadeira vida espiritual, contrariando a idéia bíblica e a própria experiência do apóstolo Paulo: “Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fp 4:18), “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm 5.17);

· Em relação ao respeito às autoridades da igreja (Pastor, Presbítero, Diácono), muitos crentes já foram sucumbidos pelo espírito mundano e de um sindicalismo pecaminoso incorrendo no erro relatado por Judas: Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores” (Judas 1.8);

· Muitos são mexeriqueiros e promotores de contendas, O mexeriqueiro revela o segredo; portanto, não te metas com quem muito abre os lábios” (Pv 20.19). Dividem a igreja em partidos “Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?”(1Co 1. 11-13);

· Em relação ao culto a Deus, estamos sempre querendo nos agradar ao invés de agradarmos a Deus; somos amantes de nós mesmos (Cl 2.23);

· Antinomistas e transgressores das leis de Deus.

São muitos exemplos que mostram como a igreja está secularizada ao tentar modificar sua forma estrutural para agradar aos homens ou pensando somente nas coisas terrenas e vivendo a natureza terrena e pecaminosa da qual o apóstolo Paulo nos adverte contra: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” (Cl 3. 5-6).

Precisamos de uma igreja sincera e de um amor sem hipocrisia (Rm 12.9). Necessitamos de um contato com a cultura sem que a cultura nos domine. Enquanto utilizarmos das mesmas armas do mundo e de satanás, seremos levados de uma lado para outro do “cabo de guerra”.

O apóstolo Paulo, escrevendo à igreja dividida de Coríntios, disse: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão” 2 Co 10.4-6).

Precisamos olhar para o alto! É preciso olhar para as coisas que edificam e deixar de brincar de igreja. Devemos levar a sério a Noiva de Cristo, pois o Noivo a ama tanto que deu Sua vida por ela. Deixo as palavras de Lloyd-Jones e A. W Tozer:

o diabo, que pode transformar-se em anjo de luz, nem sempre nos incita ao pecado óbvio. Ele sabe que, se aproximasse de certo tipo de cristão e o confrontasse com algum pecado terrível, este recuaria. Por isso, simplesmente o persuade a ser negligente, a não ser entusiasta, a não ser muito zeloso, ‘a não fazer ridículo’ como alguns outros cristãos para quem ele aponta. E assim a vítima se torna indolente e não faz nada; e aos poucos baixa toda a temperatura da sua vida, e finalmente ele caiu em pecado. Quando ao outro homem, que vive das suas atividades, podemos aplicar o que o apóstolo Paulo diz acerca dos seus patrícios: “Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento” (Romanos 10:2). Zelo não basta, estar sempre ocupado não basta, atividade não basta. Não permita Deus que você viva da sua própria atividade. Se esta se levanta entre você e um conhecimento do Senhor, um crescimento na graça e um desenvolvimento espiritual, não passa de uma das “astutas ciladas do diabo” para mantê-lo ignorante e atrofiado”.[2]

A . W. Tozer nos adverte sobre os crentes que querendo acertar erram:

Há áreas em nossa vida em que, no nosso esforço para fazer o certo, acabamos errando tão errado que chegamos ao ponto de dano espiritual. Isso acontece em situações como:

1. Quando, na nossa determinação de sermos ousados, nos tornamos atrevidos.

2. Quando, no nosso desejo de sermos francos, nos tornamos grosseiros.

3. Quando, no nosso esforço para sermos atenciosos, nos tornamos desconfiados.

4. Quando querendo nos tornar sérios, nos tornamos sombrios.

5. Quando desejamos ser cuidadosos, mas viramos fiscalizadores.[3]

Queridos, nunca nos esqueçamos que ninguém ama mais a Igreja do que o SENHOR! Portanto, Ele nos observa e o mundo também!

Rev. Ricardo Rios Melo



[1] D. M. Lloyd- Jones, O Combate Cristão, São Paulo, PES, 1991, p. 323,324.

[2] D. M. Lloyd- Jones, O Combate Cristão, São Paulo, PES, 1991, p. 318,319.

[3] -- A. W. Tozer from That Incredible Christian. Christianity Today, Vol. 29, no. 17.
(Veja Isa 65:5; Mt 23:23; Col 2:20) in
http://www.hermeneutica.com/ilustracoes/zelo.html



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno Por: rev. Ricardo Rios Melo Essa frase ficou consagrada na canção de Caetano Veloso, “Alegria, Alegria”, lançada em plena ditadura no ano de 1960. A música fazia uma crítica inteligente ao sistema ditatorial e aos seus efeitos devastadores na sociedade da época. Era um período difícil em que falar contra o regime imposto era perigoso e, em muitos casos, mortal. Destarte, a minha intenção é usar apenas a frase da música “sem lenço e sem documento”. Essa expressão retrata a ideia de alguém que anda sem objetos importantes para sair de casa na época da escrita. Hoje, ainda é importante sair com o documento de identidade. Alguns acrescentariam celular e acessórios; contudo, a identificação de uma pessoa ainda é uma exigência legal. Andar sem uma identificação é sempre perigoso. Se uma autoridade pará-lo, você poderá ter sérios problemas. É como dirigir um carro sem habilitação. Você pode até saber dirigir, mas você...

“Águas passadas não movem moinho”

“Águas passadas não movem moinho” Por Rev. Ricardo Rios Melo Esse ditado popular: “Águas passadas não movem moinho” é bem antigo. Retrata a ideia, como diz minha sabia avó, de que, quando alguém bate em sua porta, você não pergunta: “quem era?”; antes, “quem é”.   Parece mostrar-nos que o passado não tem importância ou, pelo menos, não deve ser um obstáculo para andarmos para frente em direção ao futuro. É claro que o passado tem importância e que não se apaga uma história. Contudo, não devemos exagerar na interpretação desse ditado; apenas usá-lo com o intuito de significar a necessidade de prosseguir em frente, a despeito de qualquer dificuldade que se tenha passado. Apesar de esse adágio servir para estimular muita gente ao longo da vida, isso parece não ser levado em conta quando alguém se converte a Cristo. É comum as pessoas falarem: “Fulano se converteu? Não acredito! Ele era a pior pessoa do mundo. Como ele pôde se converter?” O mundo pode aceitar e encobr...

“Como se não houvesse amanhã”

“ Como se não houvesse amanhã” Rev. Ricardo Rios Melo Existe uma música, da banda de rock brasileira Legião Urbana, escrita por Renato Russo, que em seu refrão diz: “ É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há .” Essa letra tem nuances contextuais e um grande aspecto introspectivo. Apenas me fixarei no belo refrão. Acredito que Renato Russo estava correto em afirmar que precisamos amar as pessoas como se o amanhã não existisse. A Bíblia fala que o amanhã trará o seu próprio cuidado: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6.34). Parece-nos que a Bíblia, apesar de nos falar da esperança e da certeza da vida futura, nos chama a viver o hoje: “antes exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” ( Hb 3.13). Ao citar o Sl 95, o autor aos Hebreus ex...