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Para quem iremos?



Essa pergunta de Pedro a Jesus no evangelho de João demonstra o total estado de abandono do ser humano e a solução eterna em Jesus: “Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68). Após Jesus ter feito o milagre da multiplicação dos pães e peixes, o povo foi em busca do alimento e dos milagres que ele realizava. Contudo, Jesus foi mui duro com o povo ao enfatizar o caráter messiânico do seu ministério. Jesus não era um simples milagreiro, é o Santo de Deus: “(...) nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6.69).

Quando Pedro entende seu abandono, seu vazio, sua falta de solução a quem recorrer, ele enxerga em Jesus a solução. Pois Ele é o Santo de Deus. Não é mais homem comum e finito. É o Santo de Deus, a solução para o abandono do homem e do seu vazio existencial. A quem eles iriam recorrer? Quem reunia as qualidades de Jesus e era o Santo de Deus? Pedro direciona certamente seus passos ao seguir a Jesus e a começar, mesmo que ainda não completamente, a entender a missão do Messias.

O apóstolo Paulo entende profundamente o que Cristo fez por ele ao declarar que estar com Cristo é “ (...) incomparavelmente melhor” (Fp 1.23) e ao viver para Cristo: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). Paulo entendeu o que Cristo fez por ele; entendeu que Cristo foi condenado em seu lugar. O apóstolo sabia que ninguém poderia fazer isso por ele: “Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer” (Rm 5.7) A quem Paulo recorreria? Quem poderia receber a punição de Deus em seu lugar? Quem seria suficiente para Deus?

Quando se tem a verdadeira dimensão da obra de Cristo, a pergunta retórica que fazemos é essa: “para quem iremos?”. Contudo, mesmo sabendo disso, da impotência do homem em relação à salvação e ao requisito indispensável para obtê-la: Cristo, muitos estão procurando pessoas ou coisas para depositarem suas esperanças.

O mundo vive um caos em relação aos exemplos de pessoas para se espelhar. Há uma crise na política e em todos os meios. Os valores são trocados por moedas corroídas facilmente pelo tempo e a moral vendida por um repasto. O messianismo popular elege personalidades para salvar a pátria, mas, quanto mais buscam ídolos humanos, mais se descobrem nesse espelho imperfeito; a palavra de Jesus sempre é bem-vinda: “Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (Jo 8.7).

Para o ser humano, é mais fácil buscar o semelhante, pessoas imperfeitas como nós, pois assim não nos sentimos mal; “ele é gente com a gente” – essa frase resume perfeitamente o nosso modus operandi: buscamos nos imperfeitos o conforto de sermos iguais a eles. A simples idéia de existir alguém perfeito e sem pecado leva-nos ao grande mal-estar de nos encontrarmos em falta, em pecado, imperfeitos. Precisamos constantemente dos “gigantes de pés de barro”.

Um exemplo interessante é Mahatma Gandhi (1869-1948) que, apesar de toda a sua fama pacifista e de homem bom, deixou que sua mulher morresse de pneumonia em 1942 impedido-a de tomar remédios por contrariar a fé. Contudo, semanas após, ele contraiu malária e se rendeu aos remédios. “Todos temos nosso calcanhar de Aquiles”. Isso nos identifica e nos aproxima. Gandhi era bom, na medida em que o homem pode ser bom diante de seus próprios olhos. Ao Jovem rico, ao perguntar o que faria de bom para herdar a vida eterna, Jesus responde: “(...) Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom só existe um” (Mt 19.17)”.

Queridos, Jesus é único que pode perguntar: Quem dentre vós me convence de pecado? (Jo 8.46); é o único que pode dizer que não teve pecado, portanto, o único que satisfaz a justiça santa do Pai.

Resta-nos fazer a pergunta: para quem você irá?

Deus os ilumine!
Rev. Ricardo Rios Melo

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