“pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”. Atos 9.16
Existe um chiste que diz: “todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer”. Essa piadinha mostra algo implícito nas pessoas: o apego à vida. Se pensarmos que o apego à vida é natural, e o é de fato, perceberemos que se alguém falar com você que quer morrer, você dirá: “essa pessoa está sofrendo de depressão” ou de algum distúrbio, pois todos querem viver.
A morte é desastrosa na história humana e, segundo Gênesis, passou a existir após o pecado de Adão. Por isso, o apego a vida é natural. Não era para morremos. Não é da natureza original do homem morrer, pois, na gênese humana, Deus nos criou para vivermos eternamente. Contudo, a natureza caída do homem passou a conviver com a morte. Nesse caso, se pensarmos em natural, poder-se-ia dizer que o homem natural, como descreve a Bíblia, já convive com a morte desde o seu nascimento. Ele nasce sabendo que vai morrer. Existe um consenso que diz: “a coisa mais certa da vida é a morte”.
Saber que a morte é algo certo não significa dizer que o homem perdeu o senso eterno, ou senso de eternidade, a sensação de que a morte é algo trágico, desnecessário, angustiante e até mesmo evitável. Não fosse assim, por que avançar tanto na medicina? Não seria a medicina uma tentativa de eternizar o homem? Se aceitássemos a morte como inevitável e necessária, não investiríamos tanto para alcançar a longevidade da vida.
A medicina é algo fantástico. Os avanços na biologia, genética, nas ciências que cuidam do corpo humano em geral, são magníficos. Isso tudo é bom e deve continuar. Mas, não seriam esses estudos uma tentativa de imortalizar o homem? Se aceitássemos tão prontamente a morte, não era mais fácil deixar as pessoas morrerem?
Bom, não é isso que acontece. Não deixamos as pessoas morrerem, pois nós mesmos não queremos morrer. Lutamos desesperadamente para nos mantermos vivos eternamente.
A visão cética do mundo diz que viraremos adubo e se utiliza da máxima: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” de Antoine Lavoisier. A própria concepção materialista científica, usada primariamente por Gottfried Wilhelm Von Leibniz (apesar de religioso e acreditar na espiritualidade), reduz, em seus conceitos científicos, tudo à matéria, culminando em um reducionismo. Reducionismo esse que foi esboçado desde a filosofia pré-socrática e que não se coaduna com a própria ontologia humana. A história derruba a tese que enxerga o homem da mesma forma como enxerga um adubo e que o reduz a simples matéria.
Talvez essa afirmação seja dura contra os que enxergam a morte como algo da natureza e, portanto, vêem o ciclo da vida e morte como um processo natural, permanente e, portanto, inevitável. Entretanto, é a conclusão lógica. Se entendermos o homem como mais um componente da natureza, não contemplaremos toda complexidade do ser humano; inclusive, sua luta por viver.
Talvez a tese de Charles Darwin pudesse responder à questão da luta pela vida ou apego à vida como um processo natural da luta da sobrevivência da espécie que precisa modificar o meio e a si próprio para adaptar-se e garantir a vida. Entretanto, essa tese não foi suficiente para confortar o coração de Darwin no leito de sua morte. Alguns dizem que uma cristã por nome Lady Hope esteve no leito de morte do evolucionista e testemunhou sua reconciliação com Jesus. Bom, se isso é verdade? Muitos acham improvável, outros acham impossível. Há quem diga que é apenas uma lenda criada pelos criacionistas. O fato é que Darwin era filho de protestantes e estudou teologia, portanto não seria loucura afirmar isso. Conquanto isso seja verdadeiro, não anula sua teoria para seus seguidores e, muito menos, para nós cristãos que a rejeitamos. Se Darwin se converteu, ou não, não importa para o debate da origem da vida. O que importa é que se alguém morre acreditando em sua teoria, morre sabendo que virará adubo. Tudo que a pessoa tenha feito no mundo não servirá para nada. Sua existência é comparada a uma folha que murcha e cai. Sua existência é sem sentido. Nascemos, crescemos, procriamos e morremos para adubar a terra e manter o tal do ciclo da vida.
Como confortaríamos alguém que perdeu um ente querido: “não se preocupe, agora ele já está em estado de decomposição e servirá para nutrir as plantas e árvores que estão acima dele” ou “isso faz parte da evolução”. Percebem que tristeza?
Outro fato que devemos levantar é que os conceitos morais e a forma como vivemos no presente dependem muito de como enxergamos a morte e a vida. Vejamos o caso da violência: quanto menos medo da morte as pessoas têm, mais violentas elas se tornam, pois não têm o que perder. Aliás, essa a é frase que os assassinos e ladrões usam muito: “não tenho nada a perder”.
Alguém poderá objetar essa idéia e dizer que muitos ateus dão mais exemplos de vida moral e correta do que alguns que professam ser cristãos. É verdade! Acontece essa lástima há muito. Contudo, viver uma vida moral baseada em princípios evolucionistas e ateus é completamente antagônico e muito mais coerente com o capitalismo selvagem e com o egoísmo, pois a idéia da evolução é: “que vença o mais forte”.
A idéia de casamento ocidental e de fidelidade é claramente cristã. Mesmo que entremos em discussões antropológicas, veremos que não há sentido na fidelidade se formos pelo viés da zoologia, pelo menos em alguns estudos que identificam que a fidelidade entre alguns animais é momentânea e apenas para procriação. Alguns estudiosos chegam a falar de uma Promiscuidade Primitiva e em uma sociedade matriarcal, onde só poderíamos saber a filiação de alguém por intermédio da mãe, ou seja, não se poderia identificar o pai.
“A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, de Friedrich Engels, diz que a família é uma criação capitalista para manter o capital concentrado e a propriedade. Sendo assim, não há sentido em termos família, não acham?
Viver sem uma boa perspectiva da vida e da morte é fatal para a esperança em uma sociedade melhor. O apóstolo Paulo resume essa idéia da seguinte forma em 1 Co 15, 14, 17-19, 32: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; (...) E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. (...) Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. Paulo é coerente, pois, sem Cristo e a garantia de ressurreição, não há sentido em viver retamente.
O que fez Paulo e os apóstolos padecerem pelo nome de Cristo, sofrerem perseguições e enfrentarem os tribunais e as dores não foi a certeza da morte, mas certeza da vida eterna e da ressurreição.
Quando Cristo chamou Paulo para padecer, Paulo sabia que sofreria, mas só o fato da certeza da vida eterna fez com que qualquer dor parecesse nada em comparação à sublime glória a ser revelada em Cristo. “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Co 15.55).
Quando entendemos que a morte é uma punição e que em Cristo temos absolvição de nossos pecados e o livramento da morte, ela já não é significativa para nós, pois ela representa que: 1) no tempo presente, devemos viver para agradar a Deus; 2) os sofrimentos são passageiros e incomparáveis com a vida eterna; 3) a morte, no presente, para os crentes, é o Pai chamando seus filhos para descansarem do labor terreno; 4) os que estão em Cristo não morrem, mas vivem eternamente; 5) consolamos os nossos queridos com a certeza de que os que morrem em Cristo estão bem melhor do que nós: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1:23). Portanto, nossos amados que partiram nos deixaram saudades e uma dor que só o Espírito pode consolar, contudo, longe estão dos sofrimentos e de serem considerados coitados e infelizes, pois estão nos braços do Pai que nos ama mais do que qualquer amor que sequer imaginemos. Afinal “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos”. (Sl 116.15) .
A morte nos ensina mais uma coisa, que não era para ela existir. Ela sempre aponta para o início e não para fim. Ao olharmos a morte de alguém, devemos lembrar que é na gênese humana que ela acontece. E na desobediência do homem que ela passa a existir e, portanto, é um instrumento de punição que também terá um fim: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).
Queridos, padecer no tempo, por mais doloroso que seja, não pode ser comparado com a vida eterna em Cristo. “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18).
Maranata, vem Senhor Jesus!
Rev. Ricardo Rios Melo
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