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Eu, eu mesmo e a Igreja

Eu, eu mesmo e a Igreja

 

Esse título, admitamos, foi inspirado no filme protagonizado por Jim Carrey. No filme, Jim faz o papel de um policial que sofre de dupla personalidade e que, em determinado momento, deixou de tomar seus remédios. Os problemas se agravaram e a paz aparente foi conturbada, de maneira mais intensa, quando suas duas faces se apaixonaram pela mesma mulher, interpretada por Renée Zellweger.

Bom, é claro que esse filme, como muitas das comédias americanas, é permeado por apelos eróticos e piadas de mau gosto. Contudo, o talento dos atores faz com que um problema psicológico tão sério seja demonstrado com muita graça.

O tema tratado sobre a dupla personalidade, “o transtorno de personalidade denominado transtorno dissociativo de identidade ou transtorno de personalidade dissociativa, é comumente chamado de transtorno de dupla personalidade. A dupla personalidade se caracteriza pela presença de duas ou mais distintas identidades ou estados de personalidade em um mesmo indivíduo, ou seja, cada personalidade com seu próprio padrão”.[1]

No filme, essa crise de identidade é retratada de maneira engraçada, como uma boa comédia o é. Entretanto, na vida real, isso não tem nada de engraçado. O transtorno dissociativo mostra que “cada estado de personalidade pode ser vivenciado como se o paciente tivesse uma história pessoal distinta, auto-imagem e identidades próprias, até mesmo um nome diferente. Ele experimenta freqüentes lacunas de memória sobre a história pessoal, tanto remota quanto recente, sendo ativadas por estresse psicossocial e que ocorrem de forma abrupta”.[2] Deve-se tratar de maneira séria esse transtorno.

Conquanto seja muito intrigante o transtorno e suas cormobidades, esse não é o foco desta pastoral, e sim, o nosso relacionamento com a Igreja.

Por um instante, faça uma viagem pela sua imaginação e coloque a igreja como se fosse a “mulher” disputada por você. Veja que esse exercício imaginativo deve ser feito com bastante cuidado, pois não queremos, em nenhum momento, transpor a barreira da reverência e respeito pela noiva de Cristo.

O que tentamos fazer nesse paralelo é entender o seu relacionamento com a igreja. No filme, uma das personalidades de Jim era inescrupulosa e pragmática, enquanto a outra, mais sensível e disponível.

É interessante notar que o único personagem com quem temos contato na Igreja é com a personalidade adoradora, o indivíduo fiel, muitas vezes cordato, compreensível. Mas, quando nos deparamos com o outro grupo de relacionamento desse mesmo indivíduo, e lhe perguntamos o perfil dessa pessoa, parece que existem duas pessoas, duas personalidades distintas que habitam no mesmo corpo. Mesmo que os nomes sejam os mesmos, as personalidades são bastante distintas.

Uma dessas identidades é aquele fiel, amável, santo, fervoroso irmão dos domingos “sagrados”; a outra é do escarnecedor, inescrupuloso e pragmático, que não tem dificuldade nenhuma de assumir o posto que antes era daquele singelo irmãozinho do domingo. A identidade inescrupulosa corre velozmente em direção ao pecado.

Entrementes, todos os domingos o irmãozinho amado aparece. Ele é defensor da doutrina, da moral e dos bons costumes. Ele tem um caráter ilibado, irretocável! Ele ama a sua igreja, pelo menos aos domingos. Sua relação com a igreja é fervorosa, amável e comprometida. Se tiver uma programação, no domingo, digo no domingo, pois os outros dias pertencem à outra identidade, esse irmãozinho fervoroso estará atento e pronto para reivindicar posições e modificações na igreja.

Contudo, na segunda-feira é dia de lua cheia. O irmão passa por uma transformação, que começa no final do domingo. Ao acordar, ele se olha no espelho, vê o mesmo rosto, mas seu nome é outro. Ele não é mais o zeloso e sim, o escarnecedor.

A igreja, nessa relação, fica sem saber com quem ela está se relacionando. A voz é mesma, o corpo é o mesmo, o rosto é o mesmo, todavia o comportamento é irreconhecível!

Querido, nos casos de dissociação de identidade ou transtorno dissociativo, dupla personalidade, o tratamento é de caráter psicológico e medicamentoso. No caso da igreja, de nosso relacionamento com a igreja e, consequentemente, com Cristo, como devemos ser tratados? 

 A Bíblia responde.

Em primeiro lugar, isso não é chamado de dupla personalidade ou coisa que o valha, pois esse transtorno é patológico e só foi usado como ilustração.

As Santas Escrituras falam claramente do crente que acha que pode viver em vida dupla: o homem que tem esse comportamento é chamado de homem de ânimo dobre (diqucov dipsuchos – vacilante, incerto, de interesse dividido), inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.8).

O tratamento é a santificação: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração” (Tg 4.8).

Sejamos únicos, inclusive, em nossas palavras, pois “o perverso de coração jamais achará o bem; e o que tem a língua dobre vem a cair no mal (Pv 17.20). “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt 5.37). 

 

Que Deus nos abençoe e nos livre de uma vida dupla. Antes, nos santifique em sua Verdade!

 

Rev. Ricardo Rios.

 



[2]  http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1842412.xml&template=3898.dwt&edition=9741&section=67 

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