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Diálogo com o Ego


Perguntaram ao ego: “Ego, quem fez aquela maravilhosa obra que é vistosa aos olhos?” Ele respondeu: “Claro que fui eu quem fez, quem poderia mais fazê-la?” Outra pergunta então foi feita ao Sr. Ego: “Ego, você parece tão perfeito, você tem algum defeito ou já cometeu algum erro? Se sim, me diga algum.” Sr. Ego prontamente responde: “claro que sim! Todos nós erramos e temos defeitos! Mas, agora assim, de imediato, eu não sei lhe dizer. Talvez eu tenha sido bondoso e generoso demais com as pessoas e elas se aproveitem disso. Acho que também tenho outro erro: sou muito responsável, sincero demais, amoroso demais e não gosto de injustiça”. O diálogo se estende e o Sr. Ego faz suas ponderações: “acho que um mundo precisa de homens como eu. Pessoas que respeitem as outras e que tenham opiniões fortes, pois eu sou assim! Quando decido uma coisa, ninguém a demove!Minhas opiniões são sempre abalizadas por minhas longas jornadas empíricas. O mundo precisa de mais pessoas que se amem! Eu mesmo me olho no espelho e os meus olhos brilham ao enxergarem tão grande perfeição em uma pessoa só. Erros? Agora, pesando melhor, acho que o meu maior erro é conviver com pessoas tão falhas! Creio que preciso renovar meu círculo de amizades, pois a insignificância é contagiosa!”

Esse diálogo com o ego parece uma brincadeira ou uma piada, mas a verdade é que essa palavra tão pequena: ego , oriunda do latim, significa o eu de um indivíduo. O ego sempre se apresenta nas horas mais inconvenientes. Naqueles momentos em que temos que tomar decisões em grupo sendo a decisão do grupo mais importante para o todo, o ego diz: “pobres mortais, não sabem que o melhor para eles é a minha opinião”. O ego é um dos princípios motores da discórdia (Pv 13.10), da guerra, do ódio, da inveja e de todos pecados mesquinhos que possamos relatar.

O ego não tem autocrítica. Ele não sofre de baixa-auto-estima. Ele não passa por crise de identidade. Ele sempre se apresenta bem. Afinal, ele é perfeito! Quando alguma coisa acontece de ruim para o ego, pergunte-o o que acha e ele responderá: “eu não mereço isso!”. Ego é aquele que sempre está pronto a dar conselhos aos outros com um olhar de cima para baixo: “eu sei que isso é difícil, mas você deve fazer assim, pois é assim que é o certo”. O ego sempre diz: “olhe para mim! Eu sou o paradigma a seguir!” O ego gosta de seguidores e serviçais e brinca com as pessoas sem elas saberem, pois são marionetes em suas mãos”. Vejam o exemplo de Hitler, um lunático que conduziu uma nação e o mundo ao caos! Como tantas pessoas seguiram um lunático que tinha a pretensa ambição de dominar o mundo? O ego faz essas coisas. Ele encontra meios de obter seguidores, e faz isso com naturalidade, pois sempre que olhamos para o ego de alguém, nos enxergamos nele! Por isso, seguir um ególatra é seguir a si mesmo no outro! Conhecer a soberba de alguém é enxergar nitidamente a nossa, pois todos nós estamos sujeitos a isso!
Faça um teste: você já percebeu que ninguém é melhor do que você em alguma tarefa? Você já aconselhou alguém dizendo que isso o tempo mudará, como se você já tivesse vencido aquilo? Importante lembrar que quando a Bíblia nos fala de exortarmos o irmão ela diz: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1 Co 10.12) (grifos meus).

“Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade” (Cl 2.23). Que palavra forte de Paulo! Falando sobre os judaizantes e o possível retorno de suas práticas, que em Cristo foram canceladas e do julgamento que os judaizantes faziam dos outros pela bebida ou comida e outras práticas, Paulo exorta-os a terem cuidados com essas coisas. Uma dessas coisas terríveis que o apóstolo fala é o culto de si mesmo. Parece que os Colossenses estavam prestes a voltarem aos rudimentos do mundo e a cultuarem a Deus segundo os pensamentos ascéticos dos religiosos da época. Vejamos os versículos anteriores: “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade” (Cl 2.20-23).

A egolatria se faz presente não só quando somos soberbos em determinadas situações, mas também quando definimos que ser crente ou cultuar a Deus só poderá ser da nossa forma! A egolatria se faz também quando temos uma aparência de humildade, e nisso todos nós temos grande chances de nos formar com honra ao mérito. Certa feita, antes de ir ao seminário, uma pessoa me aconselhou: “cuidado com o conhecimento que você aprenderá, pois poderá gerar soberba em seu coração, eu mesmo tive que lutar muito contra isso, mas venci”. Diante dessa declaração logo me veio à mente: “ele tem orgulho de ser humilde”.

Muitas vezes, nos orgulhamos de vitórias obtidas na vida espiritual, e quando achamos que vencemos certa batalha espiritual contra determinado pecado, caímos, pois a soberba diz; “eu venci”. Quando Paulo vencia alguma coisa, ele dizia: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” 1 Co 15.10). Paulo sabe que trabalhou mais do que todos eles. No início, parece que ele caiu na soberba, mas, imediatamente, ele diz: todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.

Queridos o ego será aniquilado de maneira plena na volta de Jesus, mas, enquanto vivermos, temos que orar conjuntamente com Davi e clamar: “Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão” (Sl 19.13). E nunca se esqueça: “Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” Tg 4.6).

Que Deus nos livre de sermos ególatras!

Rev. Ricardo Rios Melo.

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