Enquanto as luzes não se apagam – uma breve avaliação do crescimento do ódio ao Natal

Enquanto as luzes não se apagam – uma breve avaliação do crescimento do ódio ao Natal 
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Rev. Ricardo Rios Melo
Todo dia 25 de dezembro, da era presente, é marcado por uma grande controvérsia: o Natal. O Natal tem sua origem mais provável no paganismo. Dizem os estudiosos que a igreja de Roma fez uma substituição de diversas datas pagãs por comemorações cristãs. Isso pode ser chamado de cristianização da cultura.
Credita-se, de modo geral, ao imperador romano Constantino, nascido na cidade de Naissus, em fevereiro de 272, e falecido em 27 de maio de 337, a façanha de transformar rapidamente a cultura romana de uma cultura helenizada a uma releitura cristã.
Poeticamente falando, já que não se pode afirmar categoricamente que sua mudança tenha sido desse jeito, Constantino teria se convertido ao Cristianismo após um sonho onde derrotaria o exército inimigo usando uma cruz nos escudos de seus soldados. Realmente ele venceu, mas se o sonho existiu ou foi exatamente o que se imaginou e se propagou, não podemos dizer com certeza.
O fato é que, após o homem mais importante de Roma aderir publicamente ao cristianismo, sérias e importantes mudanças aconteceram na cultura dos seus súditos. Muitas datas festivas do paganismo e suas mitologias foram substituídas e modificadas para festas cristãs ao longo dos séculos. Modificações essas que, diga-se de passagem, não eram e nem nunca foram prescritas nas Escrituras Cristãs.
Entretanto, esse arrazoado não versará precipuamente sobre a comemoração, celebração, culto ou qualquer aspecto desse nível. A intenção principal é mostrar que existe uma escalada crescente contra o cristianismo no mundo.
A celebração Natalina já não é apenas uma discussão de datas e prescrições bíblicas. Não passa apenas pela temática de sempre: nascimento de Cristo ou uma sobreposição cristã à uma data pagã, não! O Natal ficou marcado por uma celebração cristã interdenominacional: evangélicos, católicos, e outras denominações têm o Natal como uma data festiva.
Há um movimento atual forte contra o Natal entre alguns reformados e alguns evangélicos. A polêmica natalina já era conhecida pelos pós-reformadores e, principalmente, por alguns puritanos que execraram o Natal principalmente, segundo Lloyd-Jones, por conta da origem romana e pagã da festa.
O Natal para muitos reformados e evangélicos contemporâneos tem sido uma estratégia de Satanás para desviar os desavisados. A discussão aqui, entretanto, não está nesse âmbito. O que chama a atenção é que o ódio ao Natal vem de todos os lados: cristãos, islamistas, ateus e agnósticos.
Não há trégua para a sua comemoração. Nessa semana que a antecede, vários atentados foram realizados contra o Natal, ou seja, contra o cristianismo. Entendam, não estou falando que deve ser ou não comemorada, mas socialmente e historicamente falando, não podemos negar que essa data foi uma instituição cristã! Seja qual for sua forma original, hoje o mundo reconhece o Natal como uma celebração cristã.
O islamismo radical entende que o Natal é cristão. Pelo que nos parece, esse é um dos motivos dos ataques em vários países da Europa e, principalmente, o ataque sofrido no dia 19 de dezembro por volta das 20:15h na tradicional feira natalina de Berlim. Segundo o jornal El Mundo, o Estado Islâmico assumiu os atentados:

El Estado Islámico (IS, por sus siglas en inglés) reivindica el ataque del lunes al mercado navideño en Berlín a través de la agencia de noticias Al Amaq. Un día después, como ya ocurriera en el ataque de Niza, el grupo yihadista asegura que el autor es un "soldado del Estado Islámico".[1]     
O avanço do islamismo no mundo e, principalmente na Europa, tem sido chamado de Eurábia[2]. Em dezembro de 2001, 25 chefes de estado da Europa se reuniram para elaborar uma possível constituição europeia. Nessa reunião foi decidido retirar todas e quaisquer referências ao cristianismo:
Quando os 25 chefes de estado e de governo dos 25 estados-membros da União Europeia chegaram a acordo sobre o projeto do Tratado Constitucional foi excluída todas as referências ao cristianismo e à sua herança. Quando os 25 chefes de estado e de governo dos 25 estados-membros da União Europeia chegaram a acordo sobre o projeto do Tratado Constitucional foi excluída todas as referências ao cristianismo e à sua herança. Porém, este Tratado que cria a Constituição Europeia, ratificado a 29 de outubro de 2004 em Roma, foi posteriormente submetido a referendo e rejeitado em França e na Holanda a 29 de maio e 1 de junho de 2005, respectivamente.”[3]
Na esteira desse pensamento da islamização do mundo, a França que era o berço, literalmente falando, do reformador João Calvino, curvou-se diante da influência islâmica a tal ponto que no dia “13 de setembro de 2005, no Palácio de Eliseu, o ex-presidente francês Jacques Chirac, durante a inauguração do Atelier Cultural entre a Europa, o Mediterrâneo e os Países do Golfo, afirmou que “A Europa deve tanto ao islão como ao cristianismo[4]. Esse quadro de descristianização e islamização continua até o período de hoje gerando grandes crises e conflitos.
Apesar de alguns líderes do Islão tentarem fazer esse processo de aculturamento do ocidente de modo pacífico, os radicais fundamentalistas pretendem a todo custo e usando a violência extirpar qualquer incrédulo e, principalmente, os cristãos e os judeus. 
Estamos vendo, mutatis mutandis, uma resposta forte às grandes cruzadas[5] do período medieval (1095 à 1270), onde o cristianismo de Roma tentou impelir, sem sucesso, seu poder com a idealização de uma guerra santa contra os inimigos da Igreja de Roma. Esse evento tristemente manchou a terra com sangue de milhares de judeus, islamistas e dos próprios cristãos.
Sem armas e sem nenhum derramamento de sangue, dentro da guerra epistemológica ocidental e da estratégia do aculturamento, ironicamente, o cristianismo romano, que tinha cristianizado as festas pagãs, hoje assiste sem poder de reação o paganismo substituir o Natal pela história pagã do Papai Noel e pertinentes implicações mercantilistas.
No entanto, mesmo com a paganização do Natal, de modo geral ele ainda simboliza que, no país em que as luzes natalinas se ascendem, o cristianismo ainda exerce certa influência, mesmo que pequena e secularizada.
Alguns protestantes e evangélicos aderiram em parte à celebração natalina como um evento do calendário religioso. Portanto, a festa não se restringe ao catolicismo, mas foi repaginado em denominações distintas. Um novo processo de aculturamento, só que religioso.  
O Natal, ainda que eivado do capitalismo selvagem e difundido pelos norte-americanos, aponta para um ocidente que foi forjado pelo pensamento e moral cristãos.
O pós-cristianismo tem tornado essa data uma guerra ideológica. No Brasil, invariavelmente as revistas e periódicos seculares publicam a verdadeira origem do Natal para criticar o cristianismo e classificar abertamente os mais desavisados de ignorantes, pois ignoram sua verdadeira origem.
Qualquer pessoa que tenha estudado história ou feito um curso de teologia sabe que Jesus não nasceu no dia 25. Portanto, a tentativa de crítica sobre a datação é simplesmente inócua para o protestantismo e para a tradição reformada.
O que talvez possa escapar ao nosso olhar mais amplo é que a crítica provém de um movimento mundial contra o cristianismo e suas bases morais. Segundo o articulista Jarbas Aragão:
Já se tornou uma espécie de tradição anual a organização ateísta Freedom From Religion Foundation colocar outdoors promovendo o ateísmo no mês de dezembro. Com a proximidade do Natal, eles querem evitar que o sentimento religioso “aflore” nas pessoas como normalmente acontece nesta época. Este ano já foram colocados dezenas de outdoors com as frases como “Fazer o bem é a minha religião” e “Todos nós podemos ser bons sem Deus”. Além da Freedom From Religion, a American Atheists também está usando outdoors, mas com o diferencial que este ano estão chamando todas as religiões de mito. Escritos em inglês e em árabe ou hebraico, dependendo do caso, a frase completa é “Você sabe que é um mito… e você tem uma escolha”[6]
Percebam que o Natal já passou da esfera da discussão das paredes eclesiásticas. O Natal não é apenas uma questão de Papai Noel, Árvore de Natal, ou se Cristo nasceu no dia 25 de dezembro, ou se essa data deve ser celebrada ou não. O Natal passou a ser um sinal imperfeito de um cristianismo imperfeito e paganizado; na melhor das hipóteses, um sinal de que as luzes opacas do cristianismo ainda pairam sobre uma sociedade cada vez mais ateia, anticristã e islâmica.
A islamização do Ocidente, por intermédio do terrorismo, é uma ameaça  tão perceptível ao olhos que o famoso ateu  Richard Dawkins declarou:
O cristianismo pode realmente ser a nossa melhor defesa contra as formas aberrantes de religião que ameaçam o mundo”, disse Dawkins, de acordo com informações do Gospel Herald. (...) “Não há cristãos, pelo menos que eu saiba, explodindo edifícios. Não tenho conhecimento de quaisquer ataques suicidas dos cristãos. Não tenho conhecimento de qualquer grande denominação cristã que acredita na pena de morte por apostasia”, destacou.[7]
Por mais desfigurado, diluído, fluido (como diria Zygmunt Bauman) que o cristianismo esteja, ele ainda representa valioso modelo moral e de civilidade.  A afirmação de Dawkins não nos causa espanto, pois em uma sociedade onde a moralidade cristã governa de fato, o respeito mútuo e a convivência pacífica com outros credos e incrédulos é a marca mais forte do cristianismo.
É claro que a história não deixaria o movimento cristão fora dos exageros, desmandos e violência e das conhecidas Cruzadas e Inquisição. Houve e sempre haverá fanáticos e déspotas de todas as áreas sejam elas religiosas ou antirreligiosas. Entretanto, não é do cristianismo bíblico a apologia à violência e à intolerância.
A raiz do cristianismo tem como condição sine qua non uma natureza sobrenatural da conversão, portanto quaisquer tentativas de conversão pela força fogem à ideia central de Cristo.
Bom, sei que poderão vir comentários variados embasados na história mostrando fatos das guerras dos judeus e do povo do Senhor ao longo da história antiga, medieval e até fatos da modernidade.
 O foco desse artigo é o movimento anticristão que floresce e cresce fortemente no mundo de todos os lados: islamismo, ateísmo, agnosticismo e afins. Há, sem sombra de dúvidas, uma tentativa de apagar as luzes do Natal.
É bem verdade que a tentativa não é somente contra o Natal, mas contra todo e qualquer símbolo que se identifique erroneamente ou corretamente como cristão.
Na 19º Parada do Orgulho Gay, a transexual Viviany Beleboni encenou a crucificação de Cristo dentro da narrativa Católica Romana causando uma grande polêmica. A tentativa, segundo o relato, era de aproximar o sofrimento de Cristo ao sofrimento LGBT.
O uso jocoso de um símbolo cristão católico referente a Cristo preso na Cruz já fora usado antes, como por exemplo, Madonna:
O quarto álbum da cantora Madonna traz a música “Like a Prayer”, lançada em 1989. A polêmica começou pela letra, que fala sobre uma jovem apaixonada por Deus, quase como quem ama uma figura masculina. Madonna fez um clipe com cenas dentro de igrejas, dançando com um coral religioso, beijando um santo. O encerramento mostra a artista cantando em frente às cruzes em fogo.[8]
O protestantismo reformado tem como símbolos visíveis de uma graça invisível, instituídos pelas Escrituras Sagradas: o batismo e a santa ceia. A cruz vazia, que aparece no topo de igrejas na Europa ou nos Estados Unidos, aponta para o Cristo que não foi preso pela morte, mas ressuscitou ao terceiro dia.
Assim, a ofensa ao símbolo da cruz com o Cristo crucificado seria mais ao catolicismo, embora a intenção do escárnio se estenda a todo cristianismo: católicos e protestantes estão no mesmo paredão para fuzilamento.
Nas redes sociais, muitos grupos começam com os seguintes dizeres: “não postem sobre religião, política ou futebol”. Contudo, o tempo todo postam sobre espiritualidade oriental, sabedoria hindu, autoajuda, mensagens de cunho moral, teoria evolucionista. Se alguém falar qualquer coisa sobre cristianismo, de pronto receberá cartão vermelho.
Esse é um dos assuntos que Nancy Pearce discorre em seu livro Verdade Absoluta, onde menciona o antagonismo entre: o fato, que para sociedade moderna é considerado ciência, versus o valor, ao qual eles chamam de moral religiosa.
Sobre os fatos se podem discutir; mas sobre o valor (religião), ele é pessoal, intransferível e impossível de ser verificado. Por isso que se pode falar de tudo, mas nada que traga valores judaico-cristãos.
Parece que o mundo esqueceu que, querendo ou não, somos permeados por valores cristãos. A filantropia do bom samaritano foi retirada do princípio cristão do amor ao próximo. É simplesmente impensável um evolucionista coerente dizer que é preciso ajudar o próximo.
Pois então vejamos, por qual motivo os evolucionistas radicais construiriam hospitais para seus doentes tendo em vista que, por base em seus valores, esses hospitais atentam contra a tese da lei do mais forte? Os hospitais seriam os únicos lugares onde os mais fracos e menos adaptáveis sobreviveriam.
O cristianismo está em todos os círculos e épocas. Karl Max e Angels, em seu livro: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, postulam que a ideia de uma família patriarcal ou família nuclear com pai, mãe e filhos é um recorte da cultura judaica cristã, portanto o casamento seria uma criação da religião judaica e, principalmente, cristã. Todavia, mesmo na pós-modernidade, existe ainda o tão achincalhado casamento.
Dawkins, inimigo declarado do cristianismo por questões de sua própria história pessoal, sabe que com todos os erros que possua, o cristianismo ainda pode salvar o mundo de um colapso social.
Percebam, o cristianismo bíblico só se alcança por uma obra sobrenatural. É fato que não se pode resgatar uma cultura sem se resgatar o homem produtor da cultura. Entretanto, o cristianismo, mesmo que brilhando pouco e longe do seu aspecto original e escriturístico, ainda é a luz que acende esperança para o homem pós-moderno e desesperançoso.
A cada luzinha de natal acesa em uma casa, shopping, rua; a cada brinde que é feito nas casas, ainda há um alento para a humanidade, pois as luzes ainda estão acesas. Há sinais distorcidos ou não da moralidade cristã. Há uma pequena tentativa de solidariedade com pessoas se reunindo em suas casas, ligando para seus parentes e declarando seu afeto.
Ainda que não seja o intuito desse pequeno escrito, é bom lembrarmos de um grande pregador do século XX, Dr Martin Lloyd-Jones, considerado por muitos como o último dos puritanos. Ele entendia o Natal e as datas da cristandade, de modo geral, como uma oportunidade de anúncio do Evangelho. É obvio que ele sofreu e sofre críticas até hoje por conta disso, mas é importante verificarmos sua defesa:
Ou deixe-me exprimir a questão deste modo. Eu estabeleceria como praxe que existem ocasiões especiais que sempre deveriam ser observadas. Neste ponto, tenho a temeridade de expressar uma crítica a respeito dos puritanos. Acredito em pregar sermões especiais no Natal e durante a época do Advento; também acredito em que se preguem sermões na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo da Páscoa e no Domingo de Pentecostes. Como poderei justificar isso? Bem, por que os puritanos faziam objeção a tal prática? A resposta, naturalmente, é que faziam objeção a essas ocasiões especiais por causa da sua violenta reação contra o catolicismo romano. Os católicos romanos haviam transformado a celebração do nascimento de nosso Senhor em uma missa; e assim os puritanos, sendo criaturas típicas de reação, como todos nós o somos, inclinaram-se por reagir por demais violentamente, donde resultou o desejo deles de eliminarem tudo quanto cheirasse à missa em qualquer sentido, e tudo mais que estivesse associado à maneira de pensar do catolicismo romano, tendo cambado para o outro extremo, oposto a qualquer observância de tais dias.[9] 

Como foi exposto nesse arrazoado, não se trata de comemorar ou cultuar o Natal. É bem verdade que qualquer reformado é contra a sacralização desse dia. É simplesmente impensável algum cristão se prostrando ao dia ou ajoelhando-se aos pés de uma árvore.
 Destarte, a realidade mostra que, embora não se cultue o dia de maneira específica, essa data é marcada pela controvérsia de dentro e de fora do cristianismo. Lloyd-Jones vai além em sua argumentação:

Por certo, o grande perigo de hoje em dia, sobretudo em certos círculos, é a ultra intelectualização. Por muitas vezes me tenho esforçado para persuadir as pessoas a se tornarem mais intelectuais e menos sentimentais na sua abordagem da fé cristã; mas, neste instante, estou igualmente certo de que alguns indivíduos precisam ser advertidos a respeito do perigo de se tornarem ultra-intelectuais, perdendo contato com os grandes fatos históricos sobre os quais se respalda a nossa fé. Qualquer crente que não corresponda favoravelmente a um sermão sobre o nascimento de Cristo, faria bem em reexaminar a sua posição inteira em Cristo. E se você mesmo, na qualidade de pregador, não se pode comover por um sermão que aborde os fatos e os detalhes da morte de nosso bendito Senhor, na cruz, na colina do Calvário, se você não sente como se jamais os houvesse pregado antes, e se não for tão tocado por esses fatos como jamais fora no passado, então reafirmo que seria aconselhável examinar os seus alicerces. E a mesma coisa é verdadeira no caso dos ouvintes. Por conseguinte, essas ocasiões especiais se revestem de grande valor, quanto a esses aspectos, de tal maneira que, de certo modo, compelem-nos a retroceder a lembrarmo-nos dessas coisas que, afinal de contas, são os princípios fundamentais sobre os quais repousa a nossa posição inteira. Vou mesmo além disso. Acredito em lançar mão de quase qualquer ocasião especial como oportunidade para pregar o Evangelho. Portanto, em acréscimo ao que já mencionei, sempre me aproveito do primeiro domingo de um Ano Novo dessa maneira. Você poderá indagar: "Qual é a diferença entre o dia Iº de janeiro e o dia 31 de dezembro?" Ora, em certo sentido, você teria toda a razão. Essa é uma atitude puramente intelectual. Para essa atitude, todos os dias são idênticos. Para a pessoa comum, no entanto, existe certa diferença. Ano Novo! Tempo de tomar boas resoluções. Naturalmente, sabemos que nem uma delas é verdadeiramente séria, e que conduzem a nada. As pessoas repetem-nas a cada ano e provavelmente não mantêm suas resoluções nem mesmo por uma semana. Não obstante, prosseguem nessa prática. "Mas", poderá alguém perguntar, "de que adianta prestar atenção a essas coisas?" Uma vez mais temos aqui o ponto de vista teórico. Não devemos, entretanto, aceitar esses pontos de vista teóricos, conforme venho procurando demonstrar; precisamos aquilatar nossas congregações e nossa gente, e precisamos tratar deles como seres humanos. Relembrando o fato que "aquele que ganha almas é sábio", devemos tirar proveito de tudo e de qualquer coisa que ressalte o Evangelho diante das pessoas. Por conseguinte, quando se inicia um Ano Novo, há uma óbvia oportunidade de lembrarmos às pessoas acerca da natureza fugidia da vida. Todos nos inclinamos por esquecer esse fato; e você pode ficar tão interessado por profundos problemas teológicos, intelectuais e filosóficos que tenda por olvidar que haverá de morrer um dia. E o povo, imerso nos negócios, nos prazeres e na família, torna-se igualmente esquecidiço.[10]
Lloyd-Jones apregoava a necessidade de aproveitar os dias festivos da humanidade para anunciar a Cristo. Charles Spurgeon, apesar de não ter nenhum respeito religioso pelo dia do Natal, entendia que era importante apresentar Cristo nesse dia:
Agora, lhes direi por que escolhi este texto. Pensei: há uma grande quantidade de jovens que sempre vem para ouvir-me pregar; sempre se amontoam nos corredores da minha capela, e muitos deles foram convertidos a Deus. Agora se aproxima outra vez o dia de Natal, e eles irão para casa para ver os seus parentes. Ao chegarem em casa vão querer cantar uma canção de Natal na noite; quero sugerir-lhes uma, em especial àqueles que foram convertidos recentemente. Darei-lhes um tema para seu discurso na noite de Natal; poderá não ser tão divertido como “O Naufrágio do Maria de Ouro,” [2], mas será igualmente interessante para o povo cristão. O tema será este: “Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor fez com suas almas, e como teve misericórdia de vocês.” Em minha opinião, desejaria que houvesse vinte Natais no ano. Mui raras vezes os jovens podem reunir-se com os seus: Raramente podem estar unidos como felizes famílias: E ainda que eu não guarde nenhum respeito pela observância religiosa desse dia, o amo como uma instituição familiar, como um dos dias mais brilhantes da Inglaterra, o grande Dia de repouso do ano, quando o arado descansa no sulco, quando o estrépito dos negócios guarda silêncio, quando o mecânico e o obreiro saem para refrescar-se sobre a verde grama da terra alegre. Se alguns de vocês são chefes, perdoem-me a divagação, mas mui respeitosamente lhes peço que paguem a seus empregados os mesmos salários no dia de Natal como se eles trabalhassem. Estou certo que alegrarão suas casas se assim o fizerem. É injusto que a única opção que tenham seja o festejar ou jejuar, a menos que lhes deem o dinheiro necessário para que festejem e se alegrem nesse dia de alegria.[11]
Esses pregadores optaram pela utilização do Natal como oportunidade de pregação do Evangelho. Contudo, há outras formas de entendimento. Há inúmeros textos na internet contra qualquer cheiro de Natal. Um exemplo desses vários textos é o de Brian Schwertley.[12]  
Schwertley adverte-nos do fato de que essa data, além de ser pagã, não foi prevista pelo Princípio Regulador do Culto. Portanto, não deve ser lembrada e muito menos celebrada, seja em casa ou em qualquer lugar que se denomine cristão.
Schwertley afirma ainda que comemorar é infringir a lei de Deus e promover a mentira. Ele divide seu artigo em alguns tópicos. Vejam alguns: 1. Um monumento a idolatria passada e presente; 2. O natal desonra o dia de Cristo; 3. O Natal é uma mentira; 4. O mundo ama o natal; 5. Não seja enganado.
Jonh Marchathur Jr. acredita que Romanos[13] 14.5-6 concede uma liberdade cristã e pode ser usada pelos cristãos para escolher entre celebrar ou não a data.[14] Brian Schwertley, em um dos seus tópicos combatendo o uso desse texto, é categórico ao afirmar que essa passagem não autoriza os crentes a celebrar o Natal e que pastores e presbíteros ou dirigentes que autorizam seus fieis a prestarem culto no Natal estão desobedecendo a ordem divina.[15]
Autores brasileiros e estrangeiros travam uma guerra sobre o assunto. Mas, o fato permanece: as luzes ainda estão acesas; sejam nos púlpitos que ainda pregam no Natal, sejam nos púlpitos que são contra o Natal, sejam na Super Interessante, que não tem nada de interessante, ou no movimento pagão moderno. Todos não podem negar que o Natal pode ser tudo: pagão ou cristão, mas o que ele representa de maneira histórica e social é que existe ainda uma centelha de cristianismo pairando sobre o mundo!
Voltando ao caso Dawkins, em um artigo traduzido pelo site monergismo.com, ele afirma:
O Prof. Dawkins, que tem freqüentemente falado contra o criacionismo e o fundamentalismo religioso, replicou: “Não sou um daqueles que deseja barrar as tradições cristãs. “Este é historicamente um país cristão. Eu sou um cristão cultural, da mesma forma como muitos dos meus amigos se chamam judeus ou muçulmanos culturais. “Portanto, sim, eu gosto de cantar cânticos com todo o mundo. Não sou um daqueles que deseja purgar a nossa sociedade da nossa história cristã. “Se existe alguma ameaça nesse tipo de coisa, penso que você descobrirá que ela vem de religiões rivais, e não de ateístas”. O pensamento de Richard Dawkins cantando qualquer cântico com conteúdo explicitamente cristão é difícil de abrigar – a menos que o professor de Oxford pretenda cantar sobre uma fé que ele não professa.[16]
Portanto, querido(a) leitor(a), antes que as luzes se apaguem, vá para casa e anuncie que Cristo veio ao mundo salvar pecadores. O verbo se fez Carne e habitou em nosso meio! Diga, se for do seu entendimento, que a instituição do Natal é uma posição pagã, mas nunca deixe de anunciar que quer seja no dia 25 dezembro ou em qualquer outra data, o Senhor da glória veio trazer luz ao homem que jazia em trevas!
Não cante hinos de Natal! Não entoe cânticos natalinos! Não pregue sobre o Natal! Não cante salmos messiânicos! Não faça nada que sua consciência te acuse, mas nunca deixe de anunciar que um menino vos nasceu!
É fato que não está prescrita a celebração, mas os anjos cantaram na encarnação do verbo, os céus se moveram, os reis magos saíram do oriente para presenteá-lo, Ana cantou, Maria cantou, Simeão cantou. O Natal? Certamente que não o Natal pagão! Mas cantaram a graça de Deus! Nasceu o Salvador! O Messias esperado pelos profetas e patriarcas chegou!
Anunciem sua obra completa: nascimento, vida, obra, morte e ressurreição, e que um Dia Ele voltará! Esse anúncio independe do dia, pois precisa ser feito a “tempo e fora de tempo”.
Nesse domingo, 25 de dezembro, espero sinceramente que você anuncie que o Filho da mulher nasceu e esmagou a cabeça da serpente em uma cruz levantada e que a derrota da grande serpente será consumada, quando esse mesmo Filho voltar com grande poder e glória e executar a sentença final!
Anunciem a grande controvérsia de Simeão:
Simeão o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse:  Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois os meus olhos já viram a tua salvação, a qual tu preparaste ante a face de todos os povos; luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo Israel. Enquanto isso, seu pai e sua mãe se admiravam das coisas que deles se diziam. E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição, sim, e uma espada traspassará a tua própria alma, para que se manifestem os pensamentos de muitos corações (Lc 2:28-35). 
O Natal tem sido controverso, mas a maior controvérsia do mundo não é se Cristo nasceu ou quando ele nasceu, mas é sobre quem Ele é e o que veio fazer aqui na Terra. A encarnação do Verbo, sua vida, obra, morte e ressurreição!
Hoje a controvérsia é contra as luzes da cidade, árvores enfeitadas, bolinhas coloridas, cânticos e presentes trocados. Mas, nós sabemos que a discussão verdadeira é contra tudo que nos remeta ao Senhor Jesus e sua cruz e sua luz.
Enquanto a luzes não se apagarem, é sinal que ainda resta esperança nesse mundo caído e em trevas:
“O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz” Is 9:2

“O povo que estava sentado em trevas viu uma grande luz; sim, aos que estavam sentados na região da sombra da morte, a estes a luz raiou” Mt 4:16

Deus os abençoe! Feliz Natal!






[1]Disponível em:  <http://www.elmundo.es/internacional/2016/12/20/5859859e268e3e284d8b4720.html>. Acessado em 22 de dezembro 2016.

[2] “A expressão que tem origem no paradigma defendido pela historiada angloegípcia Bat Ye´Or é uma expressão que assenta na ideia de que existe ou virá a existir uma Europa onde a cultura dominante não será a cultura ocidental mas a cultura islâmica. Neste sentido “a Eurábia é simultaneamente uma ideologia e um sintoma; é uma atitude psicológica coletiva, própria dos povos que se submetem (…) aos ditamos do totalitarismo islâmicos (…)”.1 Segundo esta teoria a Europa ter-se-ia começado a submeter aos países islâmicos a partir dos anos 70, com as crises petrolíferas, tomando a consciência de que a Velha Europa, antiga potência colonial, se encontrava demográfica e psicologicamente enfraquecida e dependente dos hidrocarbonetos do mundo islâmico. A Eurábia está intrinsecamente ligada a outro fenómeno: a dimitude. Esta expressão “designa, por extensão, a atitude (…) na submissão voluntária ou na cedência às reivindicações, às ameaças e aos apetites de conquista dos vários pólos do islamismo mundial.”2 Com base neste paradigma da dimitude, a Eurábia caracteriza as atitudes e as opções geopolíticas dos intelectuais e dos decisores ocidentais, em particular dos dirigentes europeus, que por medo do inimigo totalitário de amanhã – o islamismo, mas também pelos compromissos político-económicos que assumiram com os países islâmicos fornecedores de petróleo e de mão de obra, se dedicam a precaver a Europa de potenciais conflitos por meio de uma política de autossubmissão relativamente ao mundo árabe islâmico.” (Carneiro, Anan Catarina Nunes, A crescente islamização da Europa: influências e alterações nas instituições europeias. A intensificação do fenómeno com a possível entrada da Turquia, disponível em: <http://hdl.handle.net/10400.5/6637> - acessado em 23 de dezembro 2016).
[3] (Carneiro, Anan Catarina Nunes, A crescente islamização da Europa: influências e alterações nas instituições europeias. A intensificação do fenómeno com a possível entrada da Turquia, disponível em: <http://hdl.handle.net/10400.5/6637> - acessado em 23 de dezembro 2016).

[4] Carneiro, Anan Catarina Nunes, A crescente islamização da Europa: influências e alterações nas instituições europeias. A intensificação do fenómeno com a possível entrada da Turquia, <http://hdl.handle.net/10400.5/6637 > - acessado em 23 de dezembro 2016.
[5] Segundo Alderi Souza de Matos, “A expulsão dos cruzados também constituiu uma humilhação duradoura e amarga para o orgulho cristão. Essas velhas feridas seriam reabertas nos séculos XIX e XX. Para outras conseqüências, ver González, Story of Christianity, I:298-300). O único ganho militar duradouro das cruzadas para a cristandade foi o controle naval do Mediterrâneo e suas ilhas. A principal conseqüência estratégica de longo prazo foi interna: a 4ª Cruzada destruiu as defesas bizantinas da fronteira oriental da Europa, abrindo caminho para a conquista islâmica dos Bálcãs, da Grécia e da Europa oriental.” (MATOS, Alderi Souza de, O CRISTIANISMO E O ISLAMISMO NO OCIDENTE MEDIEVAL, disponível em: <http://www.mackenzie.br/6936.html > - acesso em 23 de dezembro de 2016).
[6] Disponível em: <https://noticias.gospelprime.com.br/ateus-guerra-outdoor-natal/> -  acesso em 22 dezembro 2016).
[9] Lloyd-Jones, Martyn; Pregação e Pregadores, São José dos Campos, Fiel: 1998, p. 134.
[10] Lloyd-Jones, Martyn; Pregação e Pregadores, São José dos Campos, Fiel: 1998, p. 134.
[11] Charles Spurgeon, disponível em: <(http://projetocasteloforte.com.br/um-sermao-para-o-dia-de-natal-c-h-spurgeon/ > - acesso em 22 de dezembro 2016).
[12]Brian Schwertley, disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/natal/natal_schwertley.pdf) > acesso em 23 de dezembro 2016.

[13] Solano Portela, em seu artigo: Calvino Contra o Natal?  Defende na conclusão o uso de Romanos como liberdade cristã: “Romanos 14 e 15 trazem considerações sobre tais questões, demonstrando a necessidade da consciência pura, ao lado da preocupação com os irmãos na fé, para que procuremos “as coisas que servem para a paz e as que contribuem para a edificação mútua” (14.19). É lá igualmente que lemos (14.5): “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias; cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente”. Se Deus decidiu não disciplinar condenatoriamente a questão, não o façamos nós” disponível em:  <http://tempora-mores.blogspot.com.br/2010/12/calvino-contra-o-natal.html > - acesso em 23 de dezembro 2016).
[14] Marchatur, disponível em: <(http://www.monergismo.com/textos/natal/natal_macarthur.htm > - acesso em 22 dedezembro).
[16] Albert Mohler, Feliz Natal, Querido Ateu Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/natal/feliz-natal-ateista_mohler.pdf - acesso em 22 dezembro 2016 >.

Comentários

Cabra do Piaui disse…
Um texto inspirador e instrutivo. Farei a leitura de alguns trechos na ceia de Natal, para a reflexão da minha família. Que o Senhor seja consigo sempre, caro Rev. Ricardo!
Obrigado, irmão! Que o Senhor seja louvado e engrandecido em sua vida e na de sua família!

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