A sutileza do engano

A sutileza do engano

Como é interessante percebermos que o engano é sutil; ele vem de mansinho e consome nossas vidas aos poucos. É na sutileza da mentira que as pessoas caem. Ninguém cairia em uma mentira se ela fosse algo incoerente com a realidade. Por isso, para que uma mentira seja aceita, ela precisa ser bem próxima da verdade; precisa ser uma distorção da verdade para que possa enganar.

Existem vários enganos em nossos dias. Um desses enganos é pensarmos que viveremos para sempre nessa terra de pecado. Viveremos nessa terra, sim! Mas, ela será restaurada (Rm 8.20,21).

Deus nos promete tesouros. Contudo, esses tesouros são os dos céus. Nossa maior riqueza na terra não vale um tostão em relação aos tesouros dos céus: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6. 19,20).

Muitos estão buscando os bens da terra e vivendo como se não houvesse o dia do juízo. Combatemos muito o evangelho da prosperidade, mas muitos protestantes tradicionais vivem para seu próprio desfrute. Não pensam no próximo e menos ainda em Deus.

Hoje, para termos uma idéia, em determinadas igrejas, precisamos quase que implorar para alguém trabalhar na igreja. As pessoas estão tão ocupadas com pós-graduações, mestrados, doutorados, pós-doutorados, viagens, passeios, trabalho etc., que não têm tempo nem de se dedicarem à igreja e, menos ainda, às devocionais diárias em suas casas. Todas essas coisas são lícitas, desde que Deus esteja em primeiro lugar.

O diabo plantou uma mentira no crente moderno: de que nós é que conseguimos as coisas. Muitos pensam que o fato de se dedicarem todo o tempo ao trabalho vai fazê-los conseguir galgar sucesso profissional. É verdade que precisamos estudar e nos aprimorar em nossas profissões. É verdade que Deus não honra o preguiçoso, contudo devemos ter cuidado de não creditarmos a nós o nosso sucesso profissional. Contudo, você me dirá: “eu não faço isso!” Bem, viver sem tempo para Deus no dia-a-dia e na igreja é afirmar que Ele não é importante para o nosso sucesso. Quando Martinho Lutero tinha muito trabalho para fazer em um dia, diz os biógrafos dele, ele acordava mais cedo para orar, pois o diabo teria mais tempo para tentá-lo. E você? Como você administra seu tempo? Se Deus, por um segundo, pudesse deixar de cuidar de nós, o que aconteceria com nossas vidas?

O engano e o enganador são ardilosos. Eles começaram a dizer a você que não há problema faltar um, dois, três, quatro domingos ou mais. Aliás, diz o enganado, “eu sou o templo do Espírito e não preciso ser crente só na igreja”. Tolo! Esse engano já foi desmascarado em Hebreus 10.25: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. Quantos já caíram nesse engodo! Pensaram que eram fortes sozinhos! E, quando caíram, já não tinham ninguém ao lado para dar a mão, pois estavam sozinhos. É verdade que a salvação é individual, mas a “igreja é a Escola da santidade”.

Spurgeon nos alerta: “Deveríamos ter as nossas igrejas muito ocupadas para Deus. Qual a utilidade de uma igreja que se reúne unicamente para ouvir sermões, tal como uma família se reúne para tomar as suas refeições? Qual o proveito, digo eu, se ela não realiza trabalho algum? Não é triste que haja tantos crentes indolentes no trabalho do Senhor, ainda que nos seus próprios trabalhos sejam bastante zelosos? É por causa da ociosidade dos crentes que se houve falar tanto da necessidade de entretenimentos e de toda a espécie de disparates. Se eles estivessem trabalhando para o Senhor Jesus não ouviríamos falar disto. Uma boa mulher perguntou a uma dona-de-casa: ‘como você se diverte?’, ao que a outra respondeu: ‘Bem, tenho muitos filhos e, por isso, tenho muito que fazer’. ‘Sim’, disse a outra, ‘vejo isso. Observo que há muito que fazer em sua casa; mas como você nunca faz, estou curiosa para descobrir o que você faz para se divertir’. Há muita coisa a ser feita por uma igreja cristã. Dentro do próprio templo, na vizinhança, pelo pobres, pelo mundo descrente, etc. se entendermos bem isso, as nossas mentes ficarão ocupadas, assim como os nossos corações, as nossas mãos e as nossas línguas, e desta maneira não haverá necessidade de diversões. Se deixarmos que ociosidade penetre, bem como o espírito que dirige pessoas preguiçosas, sentiremos imediatamente um desejo de divertimento. E que divertimentos! Se a religião em si não é uma farsa para certas congregações, pelo menos a tendência é de parecer em maior número para assistir uma farsa qualquer do que para orar. Não posso compreender isso. O homem que tem grande amor por Jesus tem pouca necessidade de se divertir. Nem sequer tem tempo para ninharias. Para ele, mais importante é salvar almas, anunciar a verdade e alargar o reino do seu Senhor. (...) Irmãos, carecemos de igrejas que produzam santos: homens de fé poderosa e oração persistente, homens de vidas santas, homens cheios do Espírito Santo” (Charles H. Spurgeon, A Maior Luta do Mundo, São Paulo, FIEL, 1995, 53,54).

Não podemos acreditar que Spurgeon ou qualquer servo de Deus seja contra a diversão, não! O que devemos ter em mente é que até a nossa diversão deve passar pela pergunta: glorifica a Deus? Eu estou deixando de fazer a obra do Senhor para me divertir? Perguntas difíceis, não acha? Imagine Paulo dizendo para o Senhor que não poderia ir ao culto da noite porque tinha jogo de futebol para assistir. Imaginou? Spurgeon condena o entretenimento na igreja como modelo de atração dos crentes. Os crentes devem ser atraídos pela voz do bom Pastor! E não por firulas pragmáticas.

Jogar bola ou fazer qualquer outra atividade de diversão lícita para Senhor não é pecado! O problema é colocá-las à frente de Deus: Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. E outro dos discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Mt 8.19-22).

No evangelho de Lucas, Deus nos adverte de maneira severa: Ele, porém, respondeu: Certo homem deu uma grande ceia e convidou muitos. À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir. Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Depois, lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia” (Lc 14. 16-24).

Deus não chama desocupados. Porém, os que estão ocupados para ele poderão amargar a rejeição eterna: Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia” (Lc 14.24).

“É melhor coxear pelo caminho do que avançar a grandes passos fora dele. Pois quem coxea no caminho, ainda que avance pouco, atem-se à meta, enquanto quem vai fora dele, quanto mais corre, mais se afasta." [Agostinho de Hipona ]

Rev. Ricardo Rios Melo

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