Pular para o conteúdo principal

Relativismo: uma religião intolerante



O relativismo quer passar a imagem de que tudo é relativo. Não existe verdade absoluta. Mas, ao mesmo tempo em que arroga para si a impossibilidade de obtenção da verdade, se faz juiz da mesma - o relativismo não aceita nenhum sistema de verdade que defenda que exista verdade absoluta - não aceita nenhum sistema de verificação da realidade.

Entretanto, ao mesmo tempo em que o relativismo diz aceitar, ou tolerar, todo tipo de verdade, ele não aceita nenhuma corrente que diz ser ou ter a verdade absoluta: ele não tolera outra corrente que não seja a dele mesmo – constituindo-se assim, como uma verdade absoluta.

Esse movimento é recebido pela sociedade contemporânea como um movimento intelectual. “Identificados como pensadores ‘pós modernos’, pois pretendem questionar, não somente as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, mas a idéia de progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, os megarrelatos ou fundamentos definitivos de explicação, os relativistas atuais formam um movimento ‘radical’ negando a unidade (isto é, a universalidade) da verdade, da razão, da realidade e da ciência”.[1]

Para esse sistema supostamente relativo e “tolerante”, “todas as crenças são igualmente justificadas pelo consenso da comunidade, não havendo nenhuma verdade objetiva sobre o mundo real o capaz de transcender o contexto local”.[2]

Dentro desse sistema, dizer que ele é incoerente não significa nada, pois coerência é relativa: a incoerência pode ser coerente para você e para mim pode ser incoerente. Desse modo, é difícil se estabelecer parâmetros e de objetar quaisquer teses relativistas, pois, para eles, as palavras, sistemas e teses são relativas e condicionadas pela sociedade local e pelo individuo.

Esse sistema tão antigo que já foi abordado “na obra do falecido filósofo Protágoras, que foi o primeiro autor conhecido, entre muitos outros que escreveram”[3] a respeito da Verdade em seu livro intitulado com o mesmo nome. “A máxima que servia de diretriz a Protágoras era a de que o homem é ‘a medida de todas as coisas, da existência das coisas que são e da não-existência das coisas que não são’.”[4]

O reaparecimento de Protágoras é de forma renovada e ampliada: “Hoje, quando Protágoras reaparece na sala de aula ou entre as linhas de um texto, não está menos destrutivo por ser velho.”[5] “Os relativistas modernos (alguns gostam de ser chamados de ‘pós-modernos’) em geral diferem de Protágoras por defenderem a igualdade não apenas dos valores individuais de verdade, mas também dos valores próprios dos povos, grupos étnicos, religiões, classes sociais e outras comunidades. Polido com este lustro, Protágoras é bem-vindo em um mundo que precisa desesperadamente legitimar sociedades multiculturais: o relativismo, por exemplo, dispensa os membros de seitas e cultos rivais - forçados a viverem juntos em comunidades vizinhas – de questionarem perigosamente direitos uns dos outros. Protágoras adapta-se confortavelmente a um mundo de ortodoxias demolidas em que nada cabe. Ele é claramente audível acima da explosão de informações, que impede o desacordo por impossibilitar qualquer pessoa de estar inteiramente segura de sua tese”.[6]

Seguindo o parâmetro de não ter parâmetro, o relativismo continua a trilhar e galgar cada vez mais espaço em uma sociedade desprovida de objetividade e sentido. “No campo da razão, o homem está morto e a sua única esperança é por alguma espécie de salto, que não está disponível para análise racional”.[7]

Um novo movimento surge dentro do relativismo que é o movimento do Descontrutivismo. “Para os desconstrutivistas, todas as reivindicações da verdade são suspeitas e tratadas como disfarce para jogos de poder”.[8]Esse movimento é notório em todas as áreas da nossa sociedade. Se percebermos os pensadores modernos, veremos que aderiram completamente a esse sistema delirante e destrutivo – até na moda se percebe a tendência moderna em descaracterizar os padrões.

Podemos ver que o relativismo constrói uma unidade unificada na fragmentação e diversidade do conceito de verdade. Para eles, o mais importante é a indefinição - é a lei da boa vizinha: “você não mexe comigo que eu não mexo com você!”.

Para os relativistas não existem provas objetivas, pois as mesmas são interpretadas, ou reinterpretadas pelo sistema imposto por eles. “O que é uma prova, senão aquilo que o grupo reconhece como tal? Por isso, os critérios de sua aceitação dependem dos grupos e de uma explicação sociológica”.[9]

Queridos, na Bíblia não há lugar para caminhos diferentes ou verdades que não são verdades. Ou a verdade é verdade, ou não é. Ou é objetiva, ou não é verdade. Jesus não deixou a cultura de sua época definir o caminho e a verdade, Ele disse:

Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14:6

Respeitemos as pessoas e suas crenças, mas, não confundamos aquilo que é essencial na Bíblia. Cuidado com a religião dogmática do relativismo! Pois eles são devotos fervorosos e, em alguns casos, fanáticos!

Rev. Ricardo Rios Melo.

[1] Hilton Japiassu, Nem Tudo é Relativo – A Questão da Verdade, São Paulo, Letras & Letras, 2001, p. 23.
[2] Ibidem., p. 23.

[3] Felipe Fernandez Armesto, Verdade – Uma História, Rio de Janeiro, Record, 2000, p. 236.
[4] Ibidem., p. 236.
[5] Ibidem., p. 237.
[6] Ibidem., p. 237.
[7] Francis Schaeffer, A Morte da Razão, São Paulo, Cultura Cristã, 2002, p. 76.
[8] Gene Edward Veith, Jr. – Tempos Pós-Modernos, São Paulo, Editora Cultura Cristã , 1999, p. 50.
[9] Hilton Japiassu, Nem Tudo é Relativo – A Questão da Verdade, São Paulo, Letras & Letras, 2001, p. 27.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno

“Sem lenço e sem documento” – uma análise do crente moderno Por: rev. Ricardo Rios Melo Essa frase ficou consagrada na canção de Caetano Veloso, “Alegria, Alegria”, lançada em plena ditadura no ano de 1960. A música fazia uma crítica inteligente ao sistema ditatorial e aos seus efeitos devastadores na sociedade da época. Era um período difícil em que falar contra o regime imposto era perigoso e, em muitos casos, mortal. Destarte, a minha intenção é usar apenas a frase da música “sem lenço e sem documento”. Essa expressão retrata a ideia de alguém que anda sem objetos importantes para sair de casa na época da escrita. Hoje, ainda é importante sair com o documento de identidade. Alguns acrescentariam celular e acessórios; contudo, a identificação de uma pessoa ainda é uma exigência legal. Andar sem uma identificação é sempre perigoso. Se uma autoridade pará-lo, você poderá ter sérios problemas. É como dirigir um carro sem habilitação. Você pode até saber dirigir, mas você...

“Águas passadas não movem moinho”

“Águas passadas não movem moinho” Por Rev. Ricardo Rios Melo Esse ditado popular: “Águas passadas não movem moinho” é bem antigo. Retrata a ideia, como diz minha sabia avó, de que, quando alguém bate em sua porta, você não pergunta: “quem era?”; antes, “quem é”.   Parece mostrar-nos que o passado não tem importância ou, pelo menos, não deve ser um obstáculo para andarmos para frente em direção ao futuro. É claro que o passado tem importância e que não se apaga uma história. Contudo, não devemos exagerar na interpretação desse ditado; apenas usá-lo com o intuito de significar a necessidade de prosseguir em frente, a despeito de qualquer dificuldade que se tenha passado. Apesar de esse adágio servir para estimular muita gente ao longo da vida, isso parece não ser levado em conta quando alguém se converte a Cristo. É comum as pessoas falarem: “Fulano se converteu? Não acredito! Ele era a pior pessoa do mundo. Como ele pôde se converter?” O mundo pode aceitar e encobr...

Traição Emocional: Uma Perspectiva Teológica e Multidisciplinar - Rev. Ricardo Rios Melo

  Traição Emocional: Uma Perspectiva Teológica e Multidisciplinar  - Rev. Ricardo Rios Melo  A traição emocional, muitas vezes negligenciada, é uma forma de infidelidade que ocorre quando, dentro de um relacionamento comprometido, uma pessoa direciona suas necessidades emocionais e afetivas para alguém que não seja seu cônjuge. Essa forma de traição é frequentemente considerada mais devastadora do que a traição física, pois atinge aspectos profundos da psique humana, como confiança, lealdade e compromisso afetivo. A historiadora Mary Del Priore (2003) observa que a infidelidade emocional ocorre quando as necessidades não atendidas no casamento buscam satisfação fora dele. O mais desafiador dessa forma de traição é que ela, muitas vezes, é mais difícil de ser detectada, mas igualmente prejudicial. Traição Emocional e o Amor Romântico O conceito de amor romântico, muitas vezes cria expectativas irrealistas nos relacionamentos. No mundo contemporâneo, o amor romântico é vist...