O barato de ser crente ou o crente barato?


Na reportagem da Veja dessa semana que passou, foi-nos relatada a história de diversos jovens que aderiram a um novo estilo de vida, o estilo: crente. Para esses jovens, o barato é dizer não às drogas, ao álcool, ao sexo antes do casamento, é serem rejeitados ou discriminados pelo seu jeito crente de ser. O articulista da matéria chega a colocar que “Como é comum em grupos de alto teor de crença religiosa, a eventual discriminação vira motivo de orgulho.”

A avaliação desse novo grupo que surge, dos evangélicos, a priori, parece-nos boa. Contudo, algo nos chama atenção. Sutilmente, o escritor nos fala das aproximações e dos contrastes dessa “cultura jovem crente” com a cultura jovem. Os jovens crentes podem namorar, mas não podem fazer sexo. Podem dançar, mas sem sensualidade. Podem beber bastante açaí e paquerar bastante sem excessos. Até aí, nos parece um bom protótipo. Contudo, existem nuances importantes no bojo do texto que não devemos deixar de destacar.

Há alguns aspectos na percepção do autor que nos chama atenção: a idéia do relacionamento do jovem com a moda e com o dinheiro; a idéia de ser diferente e gostar de ser diferente. Tudo indica que a visão da matéria é mostrar que é um barato ser crente. Talvez você, por ser muito jovem, não esteja familiarizado com essa expressão barato. Ela é uma gíria antiga dos jovens antigos que já não estão mais tão jovens assim. Significa algo que é legal.

Não há problema em gostar de ser crente e de ser diferente. O que nos chama atenção é que talvez a auto-imagem do crente fique ofuscada pelo brilho enganoso do mundanismo com seus modismos e trejeitos. Não dá para visualizar na matéria o lugar do sangue de Cristo; o lugar da cruz; calvário; sofrimento oriundo de uma fé que não posterga a dor do Gólgota.

Parece “legal” o exemplo de uma jovem que calça coturnos e corta o cabelo bem diferente e diz: “na igreja aprendemos que prosperar não é sujo. Deus nos ensina a ter o melhor” (Veja, 10 de Setembro, 2008, p. 137). Eu sou igual a qualquer pessoa, contudo sigo a tribo dos crentes; dos vencedores. Que vencedores? Vencedores no mundo ou do mundo? Fico imaginando se essa entrevista fosse feita há alguns anos na história à um jovem da era apostólica. Se perguntássemos para ele o que o diferia dos outros jovens, ele diria: a morte! A minha diferença é que eu morri com o meu Senhor e ressuscitarei com Ele. Eu morri para o mundo com seus modismos e jeito legal de ser. Não que eu não seja uma pessoa legal. Apenas não tenho que parecer como todo mundo para ser aceito pela sociedade, pois já fui aceito por quem mais me interessa: Jesus. Sou diferente em essência, pois nasci de semente incorruptível e minha mala está sempre pronta, pois há qualquer momento ele virá me buscar!

Esse jovem encontraria conselhos diferentes dos atuais, ele ouviria: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes. Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia, não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles. Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, — que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor” (2 Tm 3. 1-11).

Cometendo um anacronismo, o coturno que Timóteo teria que calçar em seus tempos seria para protegê-lo, pois ele foi chamado para uma guerra! Não é uma moda ser crente, é uma luta, a maior luta do mundo. “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Os jovens de hoje arrumam suas fardas para outro tipo de batalha. “Eles vão às baladas, namoram, surfam e usam roupas da moda. A diferença entre os evangélicos e a maioria dos outros jovens é que suas festas são sem álcool, o namoro é sem sexo e as roupas, sem exageros – nada de saias pelos pés e cabelos pela cintura, mas decotes e comprimentos moderados. A maneira brasileira de ser evangélico ajuda a explicar os números impressionantes: 17% dos jovens entre 15 e 29 anos se identificam como seguidores de alguma das confissões evangélicas. Basta entrar em qualquer culto pentecostal para constatar a vitalidade de sua presença: praticamente a metade da igreja é sempre composta de jovens. Orgulhosos de seguir uma doutrina aparentemente tão contrária a tudo o que a juventude aprecia em nome de valores espirituais, também assumem uma busca da realização material (“Nós merecemos o melhor” é uma declaração constante) (Veja, 10 de Setembro, 2008, p. 137).”

O fato dos jovens serem jovens, ou seja, surfarem, divertirem-se etc. não tem nada a ver com ser ou não crente. É próprio do jovem ser ativo e alegre. Contudo, sabemos que a verdadeira alegria se encontra em Cristo.

Temos que salientar que a abstinência sexual antes do casamento e o fato do crente prosperar na vida são questões positivas, fazendo as devidas ressalvas com relação à prosperidade. Essa não é uma meta do crente, mas deve ser uma conseqüência de sua vida ilibada e dedicada a Deus. Mas, mesmos sendo fiéis a Deus, não devemos confundir prosperidade com salvação, pois a Bíblia não apregoa isso. Podemos não ter riquezas, bens e nem prazeres terrenos, mas, se estivermos no livro da vida, seremos glorificados com Cristo.

Parece-nos que, cada vez mais, os evangélicos estão gostando do tempo presente. Querem desfrutar das benesses do mundo utilizando os mesmos subterfúgios, embrulhados em um papel de presente bonito, o papel decorado da “espiritualidade”.

As artes, por exemplo, são imitações grosseiras das artes seculares. A música, nem se fala. “A pressão de justificar a arte, ciência e a diversão em termos do seu valor espiritual ou sua utilidade evangélica acaba prejudicando tanto o dom da criação quanto o dom do Evangelho, desvalorizando o primeiro e distorcendo, no processo, o segundo. Por exemplo, ‘a música cristã’ é freqüentemente uma desculpa para artistas inferiores conseguirem vencer numa subcultura cristã que imita o brilho e glamour do entretenimento secular, inclusive suas próprias cerimônias de premiação e seu ambiente de superestrelato. Pode ser que essa não seja a intenção por parte de muitos artistas que querem contribuir para o cenário da música cristã contemporânea, mas a indústria acaba produzindo, na maioria, imitações nada criativas, repetitivas, superficiais da música popular. Produzir música em conformidade com gostos anestesiados duma cultura consumista já é ruim; imitar a arte comercializada é desperdiçar os talentos, a não ser que esteja escrevendo para o rádio e a televisão” (Michael S. Horton, O Cristão e a Cultura – nem separatismo, nem mundanismo, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 11).

Queridos, devemos achar que é um barato ser crente, mas não podemos esquecer que custou um alto preço. O preço do sangue do Filho de Deus. A religião Show promove uma subcultura que não tem paralelo com as Escrituras. No lugar do palco moderno nas igrejas, a Bíblia mostra o Gólgota. A cruz levantada como símbolo de escárnio e de dor, mas também de poder de Deus para a Salvação de todos o que crêem. “O evangelho é perturbador, chocante, transtornador, confrontador, produz convicção de pecado e é ofensivo ao orgulho humano, não há como ‘fazer marketing’ do evangelho bíblico. Aqueles que procuram remover a ofensa, ao torná-lo entretenedor, inevitavelmente corrompem e obscurecem os pontos cruciais da mensagem. A igreja precisa reconhecer que suas missão nunca foi a de relações públicas ou de vendas; fomos chamados a um viver santo, a declarar a inadulterada verdade de Deus – de forma amorosa, mas sem comprometê-la – a um mundo que não crê” (John F. MacArthur, São José dos Campos, SP: Fiel, 1997, p. 79).

Que Deus nos livre do barateamento do Evangelho!

Rev. Ricardo Rios Melo


Comentários

Acácio e Kátia disse…
Gostei muito da matéria que Deus abençoe-o ricamente, viva ao Evangelho puro e genuíno.

Acácio Baía

Lisboa, Portugal
Caro Acácio,

Muito obrigado! Ore por mim e por todos que desejam servir o nosso Deus com fidelidade. É difícil ser crente em um mundo de descrentes!

Deus o abençoe!

Rev. Ricardo Rios.
Anônimo disse…
Caro Rev. Ricardo.
Descobri hoje o seu blog, lí algumas matérias, são muito boas. Fico feliz pelo conteúdo.
Grande abraço meu irmão.
Deus te abençoe.
Rev. Márcio Lima
Caro Rev. Márcio Lima,

Eu agradeço sua gentileza e bondade! Espero que Deus o abençoe na difícil e horonsa tarefa de serví-LO!

Soli Deo Gloria

Em Cristo,
Rev. Ricardo Rios.
Bruno disse…
Que Deus conceda para essa geracao uma visao limpa do que e' servi'-Lo. Lendo isso me senti mais estimulado ainda a orientar os jovens como tenho feito, ser crente nao e' facil como pregam, mas a recompensa ao final e' incalculavel.
Deus abencoe vc e sua familia ricamente.
Caro Bruno,
Desculpe-me pela demora da resposta. Fiquei muito feliz em saber que continuará na grande luta pelo testemunho cristão.
Que Deus abençoe sua família e seu trabalho com os jovens!

em Cristo,
Rev. Ricardo Rios.

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