Tudo sob controle – de quem?



Ano conturbado esse, não acham? Gente jogando criança pela janela; mulheres seqüestrando crianças recém-nascidas na maternidade; crianças morrendo em hospitais por atacado; soldados entregando pessoas a criminosos. Sem falarmos da política que continua a mesma. Mas, para completar esse semestre, “o menino João Roberto Amorim Soares, 3 anos, teve a morte confirmada no final da tarde desta segunda-feira no Hospital Copa D'Or (zona sul do Rio). A criança foi atingida durante perseguição policial, na noite de domingo (6), na rua General Espírito Santo Cardoso, na Tijuca (zona norte). Policiais são acusados de disparar pelo menos 16 tiros no carro da família do menino, que teve morte cerebral confirmada na manhã de ontem. Os dois PMs envolvidos na operação foram presos no 6º Batalhão Tijuca (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u420133.shtml).

A violência, antes vista de um prisma distante, pálido e em preto em branco nos jornais impressos, adentrou nossos lares pelas imagens aterradoras captadas e transmitidas pela televisão e internet. A surpresa maior é que a violência pode estar dentro de sua casa. Aliás, ela mora dentro de você. Mc 7. 21-23: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.”

Se você ainda se surpreende com a maldade humana, sinta-se abençoado por Deus, pois nessa época de violência diária, onde a cada momento uma pessoa morre ou sofre violência em vários sentidos, não é surpreendente a frieza com que olhamos a violência.

A violência passou a ser contextual. Vejamos o caso de João Roberto. Para alguns, um erro imperdoável, para outros, um erro técnico. No olhar dos pais, um erro monstruoso que marcará a vida desse casal para sempre. Para a polícia, uma falta de preparo dos policiais que são submetidos a pressões constantes e que sofrem com seus indignos salários.

O governo pode enxergar nessa morte a oportunidade de consertar um erro no preparo psicológico e funcional de sua polícia. Todavia, o olhar continua o mesmo, de certo modo revestido de um verniz estupefato, contudo sempre um olhar técnico.

Entretanto, pensem nessas mesmas pessoas no lugar dos pais de João Roberto. Será que eles veriam com a mesma imparcialidade esse crime bárbaro? Será que esboçariam uma lágrima, se naquele pequeno caixão estivesse o filho deles? Certamente que sim. Um dos poetas do Rock, Renato Russo, um dia compôs: “A violência é tão fascinante. E nossas vidas são tão normais... Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber. Afinal, amar ao próximo é tão démodé... E essa justiça desafinada é tão humana e tão errada. Nós assistimos televisão também. Qual é a diferença?”

O mundo não tem mudado. O Brasil, por mais que sejamos otimistas, estará sempre sujeito a violência. Destarte, a compreensão da raiz dessa violência é fundamental para reagirmos. Alguns poderosos dirão que não sabem de nada. Em um debate acirrado entre diversas autoridades, utilizando-se da tautologia e dos sofismas, tentarão convencer os menos favorecidos intelectualmente de que a culpa é do povo. Os mais “sabidos” usarão o recurso do nexo causal e dirão: se João Roberto não tivesse nascido, ele não teria morrido.

Não pense que esse arrazoado é uma tentativa de tripudiar ou ridicularizar a dor desses pais, não! Nada disso! O fato é que, se confiarmos apenas em projetos de segurança, educação ou qualquer outra estrutura política, estaremos confiando em homens. Nos dizeres de Sartre, se entendermos o homem resolvendo-se pelo homem, teríamos que concordar com sua frase: “Toda realidade-humana é uma paixão, posto que ela projeta se perder para fundamentar o ser e, ao mesmo tempo, para constituir o em-si que escape à contingência sendo seu próprio fundamento, o Ens causa sui que as religiões chamam de Deus. Assim, a paixão do homem é inversa à de Cristo, pois o homem se perde enquanto homem para que Deus nasça. Mas a idéia de Deus é contraditória e nos perdemos em vão; o homem é uma paixão inútil” (SARTRE, 2001, p. 662). Essa visão do homem e de Deus é equivocada quando enxergamos que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança e quando entendemos que, fora de Deus, a humanidade está desprovida de objetivo existencial. Contudo, a decepção de Sartre com o homem é pertinente dentro da ótica cultural e histórica em que ele vivia. Ele viu os que se diziam cristãos fomentando a guerra e matando em nome de Deus. Nada mais natural, dentro desse contexto, avaliar a humanidade como uma paixão inútil. Essa avaliação é bem diferente do positivismo de Conte ou com cores diversas do super-homem de Nietzsche. Todavia, a crítica é salutar no que tange à inconstância humana e sua natureza destrutiva, pois com o pecado adâmico em seu coração, fazer o bem é somente pela graça de Deus: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr. 13. 23). Em Isaias, Deus fala para o profeta que o bem deve ser aprendido: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas” (Is 1. 16-17).

A conseqüência da confiança na natureza humana é desastrosa, pois não basta dar alimento, educação e cultura para as pessoas para elas deixarem a violência de lado, é preciso entender que dormimos com a violência e acordamos com ela: O Senhor Jesus nos ensina que do coração do homem é que procede todo mau desígnio (Mc 7.21). Assim, segue-se que, para se cortar o mal pela raiz, nós devemos apelar para quem pode cortar a raiz e plantar sementes diferentes, devemos clamar por Jesus.

Você poderia me perguntar, nesse momento: - Mas, se Deus controla todas as coisas, Ele não tem culpa do que acontece de ruim com as pessoas? Minha resposta é essa: “Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados” (Lm 3.39); Em Tg 1.13, a Bíblia nos diz: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta”.

Quando àqueles que deveriam nos proteger são nossos algozes, fica a pergunta, quem está no controle? Em quem devemos confiar? Deus está no controle de todas as coisas, mas os homens são responsáveis pelos seus atos, por isso, devemos apelar para que Deus faça uma obra em nossa nação e que a cada instante mude nossa vida, para que não durmamos com o inimigo.

Saber em quem você confia é essencial para saber quem controla sua vida. Deus está no controle de tudo. Contudo, muitas vezes esquecemos disso e confiamos em sistemas falidos de nascença, pois não levam em consideração a impureza e maledicência do homem caído. Por mais que você diga que domesticou uma cascavel, eu não me arrisco a dormir com ela em meu pescoço. Talvez não tenha tempo de ouvir o chocalho. “Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm 3.10-18).

Deus tenha misericórdia de nós!

Rev. Ricardo Rios Melo

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