Púlpito ou Divã?

Meus queridos irmãos, nunca se pregou tanto sobre culpa, auto-ajuda, comportamento (do ponto de vista psicológico) como hoje. O púlpito se transformou em um verdadeiro divã, onde o pregador é o Psicólogo e os ouvintes são os pacientes.

É comum ouvirmos: “você deve liberar o perdão!”, “você deve ministrar graça na vida das pessoas!”; não que isso em si não seja verdade; o fato é que falar de pecado hoje, se tornou démodé. As pessoas querem ouvir sobre suas emoções, sobre seus conflitos, dúvidas, anseios e dificuldades emocionais. E os pregadores, no intuito de não perderem sua “audiência”, estão cada vez mais atraídos pela nova forma de abordagem. O texto bíblico é apenas um pretexto para suas mensagens de auto-ajuda. O perdão ao próximo é tão enfatizado, que podemos até fazer uma análise de suas pregações. É até possível perguntar: será que o pregador tem algum problema nessa área? Como o nosso papel não é analisar ninguém, devemos apenas passar essas mensagens pelo crivo da Escritura; são bíblicas? Será que estão coerentes e sendo verdadeiras com o ensino bíblico? Muitas dificuldades seriam resolvidas se nossas igrejas começassem a indagar sobre este assunto, se nossos membros fossem como os crentes de Beréia Atos 17:11 : “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.”

Vejam que importante passagem! Eles examinavam para ver se de fato era mesmo como o Apóstolo estava falando! Paulo não era só um Pastor ele era também um Apóstolo. Ele poderia achar uma afronta que seus ensinos fossem confrontados, mas, ao contrário, ele elogia aqueles irmãos pelo zelo e pela verificação da Palavra: “... para ver se as coisas eram, de fato, assim.”

Quero, contudo, ressaltar, que o pregar sobre perdão não é antibíblico. A Palavra de Deus tem muitos ensinos que nos ajudam a enfrentar a vida e suas dificuldades. Mas, a ênfase em determinado ensino em detrimento de outro é infidelidade ao ensino geral das Escrituras. Jesus Cristo nunca negociou Seu ensino. Vejam o que Ele diz em Jo 6. 26: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.”

Jesus Cristo faz um discurso duro para aquelas pessoas que só queriam o alimento “físico, material” e não o alimento espiritual. Levando-se em consideração as devidas proporções, talvez essas pessoas sejam, nos tempos de hoje, aquelas que querem satisfazer suas necessidades através do Evangelho e da igreja. Esse discurso também pode ser usado em relação às pessoas que fazem da igreja um instrumento de auto-ajuda, ao invés de pregar o Senhorio de Cristo e de dizer que a maior ferida que uma pessoa pode ter, não é a ferida emocional, não é a ferida da fome, não é a ferida da culpa (no sentido do remorso), mas sim, a ferida da alma! A ferida aberta que o pecado traz e que só Jesus Cristo pode sarar de vez! Na realidade, não é só uma ferida, é um corpo “morto em seus delitos e pecados”. Como Lázaro, se faz necessário que Jesus Cristo chame o “morto” para fora de seu túmulo, ressuscitando-o dentre os mortos: João 11:43 : “E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!”.

Quando a Palavra de Deus é pregada com fidelidade, feridas são fechadas para sempre, mortos voltam a viver e a auto-ajuda é trocada pela constante operação do Espírito Santo de Deus que age graciosamente na vida do pecador. Não há traumas! Não há problemas emocionais que não possam ser resolvidos pelo sangue de Jesus Cristo na cruz do calvário. Mudar essa perspectiva é mudar completamente a mensagem purificadora e regeneradora do Evangelho; é transformá-lo em mais uma disciplina ou mais uma moda passageira: “ingerindo doses maciças do dogma da psicologia, adotando a ‘sabedoria’ secular e tentando santificá-la, chamando-a de cristã. Os valores mais fundamentais do evangelismo, portanto, estão sendo redefinidos. ‘Saúde mental e emocional’ é a nova moda. Não se trata de um conceito bíblico, embora muitos pareçam equalizá-lo com a integridade espiritual. O pecado recebe o nome de doença, e forma que as pessoas acham que precisam de terapia e não de arrependimento. O pecado habitual recebe o nome de vício ou de comportamento compulsivo, e muitos presumem que a solução está no cuidado médico e não na correção moral. As terapias humanas são abraçadas com avidez pelos espiritualmente fracos, aqueles que são superficiais ou ignorantes no tocante à verdade bíblica e que não estão dispostos a aceitar o caminho do sofrimento que conduz à maturidade espiritual e a uma comunhão mais profunda com Deus. O infeliz efeito disso é que as pessoas permanecem imaturas, ficam presas a uma dependência auto-imposta, a algum método pseudo-cristão ou ao psicocharlatanismo que, em última análise, asfixia o crescimento genuíno.”[1]

Se negarmos o ensino verdadeiro das Escrituras, estaremos negando o poder que Deus tem de curar seus filhos; estaremos equiparando a Bíblia com outro livro qualquer; estaremos negociando o ensino do Evangelho em prol do antropocentrismo e da terapia secular (que a cada dia que passa tem colhido seus amargos frutos). A própria sociedade diz que seus problemas são gerados por sentimentos egoístas e megalomaníacos. Na realidade, esses problemas são resultado de uma sociedade que cada vez mais corre para perdição e distanciamento de Deus, que procura achar respostas para a decadência cada vez mais latente e agonizante. Uma sociedade fracassada, onde os conceitos morais, éticos e familiares estão quase que totalmente distorcidos; onde o desfecho podemos presumir em curto prazo. Onde estão as técnicas e soluções do homem moderno? Onde está a solução para crise mundial? Essas respostas não são encontradas pelo o homem moderno, mas, mesmo assim, a igreja tenta imitá-los trazendo o fracasso do mundo para dentro dela e tentando trocar a única verdade que é a Palavra de Deus pelo secularismo moribundo e fadado ao fracasso.

A igreja tenta negociar seu ensino para atrair ou segurar seus membros opondo-se ao Supremo Pastor, o nosso Paradigma, o nosso maior exemplo, o nosso Senhor Jesus Cristo que disse àqueles discípulos que reclamavam de Seu duro discurso - Jo 6. 60 – 69: “ Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus.” (grifos meus).

Vejam! Jesus não negociou Seu ensino em prol da adesão de seus discípulos. Ao contrário, Ele deu uma resposta dura para eles. Em outras palavras, podemos dizer que Ele disse que só poderiam ser seus discípulos se tivessem dispostos a cumprir as exigências de seu ensino: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? (Lucas 6:46). Os discípulos deveriam estar dispostos a abandonarem sua vida e seguir a Cristo considerando todas as outras coisas como ”refugo” em comparação ao amor de Jesus; deveriam reconhecer o Senhorio de Cristo, isto é, reconhecer o governo de Jesus sobre a vida deles. Não bastava andar com Jesus, não bastava ouvir as palavras de Jesus, não bastava participar do grupo dos discípulos. Era preciso mais. Eles deveriam abandonar o que eles achavam de mais sublime em prol de uma verdadeira vida cristã; “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me.” Lucas 9:23.

O Evangelho de Cristo não é mais uma terapia em um mundo “paranóico”. O Evangelho do nosso Senhor é “vida dentre os mortos”. Só podem ser discípulos de Cristo aqueles que, no final, mesmo a despeito de sua vontade tomam as palavras de Pedro para si e dizem: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna.”

Que o Senhor nos abençoe e nos leve a cada dia a uma vida de santidade e de busca incessante da Sua Palavra; que abandonemos nossas invenções e busquemos a única solução para o pecador: a Palavra de Deus ministrada com fidelidade e simplicidade mostrando que o “Evangelho é loucura para os que se perdem, mas salvação para os que crêem” e que não devemos negociar a verdadeira pregação, sob o risco de estarmos corrompendo e corroborando para o distanciamento da verdadeira mensagem da cruz.
Que Deus nos auxilie e nos livre de “uma vez tendo pregado, não sejamos nós mesmos reprovados”.

Que os crentes de hoje não pensem que são diferentes daqueles que andavam com Cristo, daqueles que sofreram as perseguições após a morte de Jesus. Todos somos sujeitos aos mesmos problemas e tentações. Busquemos os exemplos da Bíblia e recorramos a Ela a cada dia, pois “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra. (2 Timóteo 3:16 –17).

Que Deus nos abençoe;
Amém!
Rev. Ricardo Rios Melo


[1] John F. Macarthur, Jr. Nossa Suficiência em Cristo, São José dos Campos, SP, Editora Fiel, 1995; p. 55.

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